Mãe tem prazo de validade? Alguém já se fez essa pergunta? Quantas vezes já li que mãe é eterna… mas, e na realidade, como isso funciona? E em outro país que não onde eu nasci e cresci?
Muitas perguntas, não é mesmo? Mas deixa eu te contar a minha motivação para escrever sobre isso: meus filhos já estão adultos!
Este texto pode soar como um desabafo. Mas ele deve ser entendido como um retrato desconstruído da maternidade perfeita, da mulher perfeita. Ao mesmo tempo é a elaboração de um rótulo. Sim, eu aceito a etiqueta MÃE colada na minha pele. Uma mãe que não tem prazo de validade. Uma mãe que é mãe, que já foi filha e que um dia será avó.
Eu espero não ter que explicar ou disfarçar que “ainda” sou mãe e que “ainda” exerço esse papel. Esse papel não se pauta em fase da vida ou faixa etária. Meus dois filhos são adultos maravilhosamente imperfeitos e eu sou muito feliz por e com eles.
Minha história
Eu nunca fui o tipo de pessoa que passava o tempo sonhando em ser mãe desde muito pequenininha. Sim, eu queria ter filhos, sem dúvidas! Mas nunca essa vontade foi romanceada. Acho até bem enjoativo o papinho: “nasci para ser mãe”.
Dentre minhas amigas, na época, fui uma das primeiras a me casar e ter filhos. Não por pressa, mas pelo longo processo mesmo, já que conheci meu marido na escola e começamos a namorar durante o Ensino Médio. Encurtando a longa história, eu me casei logo após me formar na faculdade e em dois anos engravidei da minha primeira filha. Na época, não se fazia milhões de fotos e postagem instantâneas em mídia social. Não havia celular, tampouco rede social. Pois então, isso já faz algum tempo…
Gravidez e parto
Minha filha mais velha nasceu em 24 de dezembro. Data especial, não? Após 8 horas de dores intensas do trabalho de parto, eu me submeti a uma cesárea. O médico e as enfermeiras obstétricas quiseram aguardar o máximo de tempo possível para “tentar” um parto normal. Não por minha escolha, pois após os primeiros 30 minutos eu já tinha topado fazer a cesárea fácil, fácil. Julguem-me!
Amamentação? Nada fácil, também. Sou fonoaudióloga, trabalhei com recém nascidos de alto risco, conhecia bastante sobre o assunto. Mas não o suficiente. Minha filha não ganhava peso e apresentava refluxo. E passei pela segunda avalanche de olhares tortos sobre mim já que a amamentei apenas 45 dias.
Minha segunda gravidez foi bem conturbada. Mesmo sem nenhum fator pré-existente de risco, tive pré-eclâmpsia. Quantos exames médicos, laboratoriais, aferição de pressão arterial! Eu e meu filho corremos risco de morte. Ele nasceu prematuro (poucas semanas) e com baixo peso. Foram meses difíceis. Dessa vez amamentei meu bebê por 6 meses.
A adolescência e emigração
Corta a cena e avança para o futuro. Sempre fui uma mãe presente. Buscava conciliar os diferentes papéis e acompanhar tudo bem de perto (às vezes eles achavam que eu estava perto demais!). Vida pessoal, profissional, familiar, tudo na ativa e rodando a mil por hora. Passa o tempo e chega a adolescência. Devido ao trabalho do meu marido, mudamos para os Estados Unidos. E passo a ser mãe quase que em tempo integral.
Leia mais sobre mudança de país: Check list prático para mudança de país com a família e Emigrar ou não emigrar: a fase dos preparativos
A partir da decisão de mudança de país, eu tinha em mente me dedicar tanto quanto possível para favorecer o processo de adaptação da minha família. Planejei detalhadamente, respeitando as especificidades de cada membro da família e ao mesmo tempo de todos. E ao invés de me sentir assoberbada eu me vi feliz!
De verdade, eu me senti privilegiada por ter tido nova oportunidade de ser mãe em tempo integral, por um tempo. Engraçado lembrar eu de motorista levando marmanjo na escola. Mas como foi bom!! Que presente poder viver isso tudo.
Foi uma época de muitos cuidados para com os filhos adolescentes. Nem sempre é fácil fazer amigos, entender as demandas escolares, compreender os procedimentos para ingresso no ensino superior e escolha profissional quando se muda para um outro país.
Novos caminhos pessoais
Enquanto todos iam se ajustando, eu ia reescrevendo minha trajetória pessoal também. Além de reeditar minha escolha profissional e desenvolver projetos e estudos na área de Português como Língua de Herança, busquei outras atividades voluntárias.
Lembro que uma amiga me indicou para ser colunista do antigo Brasileirinhos pelo Mundo. Na troca de informações com a editora do site, eu acabei colocando minha participação em xeque e estava prestes a desistir pois não tinha filhos pequenos. Achava que, por isso, não poderia contribuir. Foi quando ouvi da querida Maila (editora do BPM na época, e posteriormente uma das fundadoras do Mães Mundo Afora): “Não importa a idade dos seus filhos, você é mãe!”. Essas palavras ecoaram nos meus ouvidos!
Mãe de adultos
Tenho vivenciado diferentes situações desde então. Quando por algum motivo tenho que informar para algum desconhecido sobre a idade dos meus filhos, a reação é sempre de espanto. Não, não, não! Nenhuma relação com aparência física ultra jovem. Posso até aparentar ser um pouco mais jovem, mas só um pouquinho.
O espanto das pessoas é me verem como mãe e atuante! Tão engraçado! Em um mundo onde a longevidade das pessoas é cada vez maior, parece que se constrói um muro e se confina o papel materno entre a gestação e a adolescência. Depois disso tem um buraco negro e, em seguida, pode ser executado, se for o caso, o papel de avó.
Fase atual: estou plena
Hora de revelar um segredo: sou mãe de dois adultos e ainda tenho papel relevante como mãe na vida deles!
Como toda nova fase do jogo, temos novos desafios a serem transpostos, é claro! E desafios frente a uma nova cultura. Sim, vale pontos extras. É hora de conhecer formalmente o/a namorado/a, a família do/a namorado/a, acompanhar o desenvolvimento acadêmico na faculdade, entrevistas, estágios, mudança de casa, ser consultado sobre planos futuros, ou muitas vezes apenas ser informado sobre esses planos.
Mais do que nunca é preciso assistir e saber quando sair de cena. Chocar o ninho vazio. E, ainda assim, se sentir mãe e plena. É a vida em movimento.
Projeto Mãe 2020
Desejo a todas as mães/figuras parentais, de todos os tipos, lugares, belezas, idades, que exerçam a maternidade real e consciente no ano novo que está por vir. O meu Projeto Mãe 2020 é continuar trocando muito amor com meus filhos, incentivá-los e aplaudir suas conquistas, aconselhá-los quando solicitada (e algumas vezes mesmo sem pedirem…desculpem, mas é real), fortalecer-me, saber lidar com suas ausências e curtir a vida a dois com o maridão.
Que as mães 2020 façam suas escolhas sobre o tipo de parto, amamentação, introdução alimentar, linha pedagógica na escola, disciplina e ajuste de comportamentos, e quaisquer outras decisões e implicações de forma consciente e que não recebam olhares tortos e julgamentos. Cada um tem a sua história e espero que todos estejam muito empenhados em escrever um capítulo que valha a pena ser lido e vivido no próximo ano.
Feliz Ano Novo!
7 Comentários
Adorei o seu texto, Cláudia. Mãe não tem prazo de validade não!! Tenho mais de 40 anos e ainda conto muito com a minha mãe. Felicidades para toda a família!
Obrigada Claudia! Mães são importantes durante a vida toda, e nós como mães vamos redesenhando o papel conforme os filhos vão crescendo. Esse movimento é lindo e deve ser respeitado. Um abraço!
Claudia como toda boa Mãe tbem penso que mãe não prazo de validade,mas temos que estar cientes que alguns filhos no decorrer dessa jornada eles sim tem prazo de validade e temos que estar preparadas para essas situações, embora seja muito difícil de aceitá-las ,mas como Mães ,Avós que somos sabemos que a Vida é um livre arbítrio de cada um e temos que continuar vivendo com nosso parceiro de jornada se ainda o temos e saber viver a vida da melhor maneira possível com aqueles que são mais presentes .Sou mãe de 3 filhos ,avó de 7 netos em diferentes idades 19,16,16,10,8,6,2 tenho 67 anos e ainda estou aprendendo a Viver .
Obrigada por ter deixado esse lindo depoimento. Você e toda a sua alegria são exemplos a serem seguidos!. Beijo enorme.
Adorei esse texto, é muiti bom poder acompanhar o desenvolvimento dos nossos filhos, em todas as idades!
Não se esqueça que você tem outros filhos tb! Eu, que você tanto cuida e se preocupa – papel de mãe.
Já pode falar que tem netos postiços! Kkkk parabéns pelo texto. 😘
Você é um filho querido que foi gerado na barriga da minha irmã. Que privilégio manter nossos corações unidos e aquecidos além da distância. Obrigada por ter passado por aqui. Beijo enorme para você e para as lindas princesas Ju e Lu.