Confie no seu bebê
Ah, os desafios da maternidade… Há algumas noites eu não tenho sido acordada por um “mamãaaae” ou choro no meio da noite. Há algumas noites eu (ou meu marido) não mudo de cama de madrugada para dormir com um pezinho na costela ou uma cabeça no cangote. Há algumas manhãs eu acordo com o som dos seus pezinhos caminhando pelo corredor. Há algumas manhãs alguém aparece do lado da minha cama com uma roupa na mão, dizendo ao pai que quer tomar café da manhã. São todas as noites e manhãs assim? Não.
Há alguns meses ela não quis mais usar fralda o tempo todo e usava o penico. Depois veio a quarentena e parece que ela esqueceu para quê o penico serve. E agora, há algumas semanas bateu o pé que queria colocar calcinha e pede para fazer xixi no vaso. No início quase sempre queria a fralda para cocô, depois aceitou de vez o peniquinho e foi assim que desfraldou, mais perto dos 3 do que dos 2 anos. De noite ela ainda usa fralda para dormir, mas normalmente ela acorda seca. Não é todo dia igual, mas uma coisa é certa: ela está desfraldando de vez, no seu tempo.
Eu poderia contar mais inúmeras coisas aqui, como de quando “demorou” para engatinhar, como a sua aceitação de comida na introdução alimentar foi gradual e cheia de altos e baixos, ou ainda como o processo de desmame tem sido muito regido pelo seu tempo. Todas esses relatos, que são unicamente nossos, possuem somente uma coisa em comum, o fato de eu ter sempre tentado respeitar seu tempo e confiar. Consegui sempre? Provavelmente não, mas a vida é um eterno aprender, especialmente quando se trata de criar filhos.
Desenvolvimento infantil não é linear
O desenvolvimento infantil não é linear, e esse é um grande desafio. Entender que cada criança tem um tempo, e que dar um passo avante não significa que ela não pode retroceder, é tarefa muito complicada, às vezes. Especialmente se a vizinha, a amiga ou a blogueira tem o filho que (aparentemente) segue uma linearidade que só os livros de desenvolvimento, por serem didáticos, apresentam. Mas bebês não sabem ler…
A verdade é que com tantas coisas que eles aprendem e desenvolvem nos primeiros anos de vida, é praticamente impossível que tudo progrida ao mesmo tempo e seguindo uma ordem rígida. Há momentos em que o desenvolvimento de uma coisa irá estagnar ou até retroceder por um pouco em favor de outra que está desenvolvendo. Aí depois troca. E o que tinha aparentemente ficado dormente, dá um salto. Além disso, somos seres humanos, o que faz com que desenvolvimento não seja apenas sobre fatores físicos e fisiológicos. Para tantas coisas, é também sobre fatores emocionais. Assim, forçar algumas coisas pode mais atrapalhar e levar a consequências indesejadas do que ajudar!
Confie no seu bebê
Cada criança tem seu tempo. Há marcos que espera-se de alcançar até determinada idade, como por exemplo sentar, caminhar, falar as primeiras palavras, entre outros. E mesmo para esses, a criança que os atinge mais cedo não é melhor do que aquela que os atinge no limite do considerado ideal. Para que uma criança se desenvolva, aprenda e atinja seus marcos, precisa ter uma certa maturidade neurológica e física, mas também precisa de estímulos e de oportunidade. Só um ou outro não é exatamente suficiente. Por exemplo: um bebê de cerca de 4 meses provavelmente tem maturidade para rolar, mas se nunca é estimulado a estar no chão com coisas que o interessem a se mover, demorará mais a fazê-lo. Da mesma forma, não dá para estimular esse mesmo bebê a caminhar, visto que falta a maturidade física.

Acervo pessoal
Para tantas coisas, nós adultos queremos desnecessariamente reger o tempo da criança, queremos acelerá-lo. E por quê? Uma razão com certeza é que temos pressa. Temos pressa de vê-los crescer. E por isso desrespeitamos seu tempo. Não confiamos que são capazes e assim tiramos sua autonomia. Damos soluções prontas. Vivemos em um mundo competitivo e parece que ter um filho que faz isso ou aquilo antes ou melhor, os coloca em algum tipo de vantagem (ou nos faz sentir melhor?).
A criança que consegue algo por meio de experimentos autônomos adquire conhecimentos completamente distintos dos de uma criança a qual é oferecida previamente a solução.” (Emmi Pikler)
Crescemos ouvindo que crianças devem ser ensinadas, domadas, treinadas. Fomos muitas vezes criados assim. Criança não sabe o que quer, não tem querer, diziam. E assim olhamos para elas e achamos que devem se comportar como mini adultos. E, mais uma vez, tolhemos sua autonomia. Minimizamos a sua capacidade. Criamos expectativas baseadas em falsas verdades, mitos e em desejos próprios. Não confiamos em nossos bebês.
Se o bebê não dorme a noite toda, precisamos fazer algo. Pouco se fala que o sono do bebê precisa amadurecer (neurologicamente mesmo) e demorará 2-3 anos para se assemelhar ao de um adulto. Despertares noturnos, que deveriam ser esperados e acolhidos, passam a ser um dos maiores pesadelos das famílias. Recorremos a treinamentos e táticas para acelerar esse processo.
Aos 2 anos (se não antes), corremos comprar penico, apetrechos vários e livros e levamos os bebês de hora em hora ao banheiro, porque chegou a hora de deixar as fraldas. Mas quem deixa as fraldas é a criança, não o adulto. Chegou a hora para quem? O estresse dos infinitos escapes, trocas de roupa e preocupação onde vai escapar o xixi ou o cocô pela casa poderiam ser deixados para lá, apenas observando a criança e seu tempo.
Leia também: Terceiro ano do meu filho: meu caminho de aprendizado na maternidade
E quando se trata de comer? Insistimos na colherada a mais, quando não no prato limpo! Forçamos que experimentem, e nos menorzinhos enfiamos a colher na boca mesmo quando este está cuspindo e virando o rosto. Nos preocupamos quando come pouco ou está seletivo. Tememos que passe fome ou que faltem nutrientes, quando é a nossa expectativa que está errada. E ao invés de pensarmos em táticas de fazer essa criança se interessar pela comida, e aceitar que a fome não é linear, confiando que o bebê sabe o que o corpo precisa (nós oferecemos qualidade, quantidade é ele quem decide), substituímos por alimentos pobres, distraímos para fazer comer, ou ainda, chantageamos.
De maneira alguma meu intuito é dizer que o que você faz ou deixa de fazer com seu filho está errado. O meu convite com esse texto é simplesmente que possamos observar mais os nossos bebês, cada um deles, como ser único que é. Que possamos ter um olhar mais empático e nos lembrar que bebês são capazes. E o que eles mais precisam de nós é que sejamos facilitadores de seus processos de crescimento, sem dar de mais nem de menos.
4 Comentários
Super concordo Amanda! Temos que respeitar mais o tempo e a vontade do bebê, fiz BLW com o Lucca e super ajudou na alimentação.
Amei seu texto. Super concordo com vc. Bebês são capazes sim, tem vontades e cada um tem seu tempo. Qdo engravidei fui estudar sobre disciplina positiva, criação com apego, blw e hoje minha bebê tem quase 13 meses e sou muito feliz por não tá dando pra ela uma criação”tradicional”. Meu marido é neurocompativel desde sempre e eu estou aprendendo a cada dia mais a confiar na minha bebê de 1 ano
Parabéns pelo texto e também pela divulgação da experiência prática de respeito ao tempo dos bebes.
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