Há um pouco mais de um ano decidimos deixar nossos trabalhos e seguir morando pelo mundo com nossos pequenos, gêmeos, e nossas mochilas. Tínhamos esse sonho na gaveta há quase uma década. Planejávamos e economizávamos esperando o momento certo de largar tudo, tirar nosso sonhado ano sabático e dar uma volta ao mundo.
A decisão pela viagem
O tal “momento certo” começou a aparecer quando os gêmeos vieram. Passamos a sentir uma necessidade de ficar mais em casa, um desejo de não perder nenhum detalhe do crescimento deles. E uma vontade ainda maior de sermos os principais atores na criação e educação dos meninos. Revimos os planos, as economias e decidimos que havia chegado a nossa vez de sermos pais em tempo integral e de realizar o sonho de conhecer o mundo!
Saímos logo que as crianças fizeram dois anos, em abril de 2018. Nesses 15 meses, já “moramos” em mais de 20 países entre Oceania, Ásia, África e nesse momento, viajamos pela Europa.
Eu sou Licieri, médica de profissão, atualmente mãe em tempo integral e agente de viagens da família. Rafa é pai em tempo integral, aproveitando ao máximo o período com os pequenos. Ainda atualizando as planilhas de gastos da viagem para não perder o jeito, já que, de profissão, é gerente de finanças. No momento é também motorista adaptado à mão inglesa e nosso chef cozinheiro. Antonio e Gabriel, são nossos gêmeos, hoje com três anos, pequenos cidadãos do mundo em formação, viajantes desde os 5 meses e atualmente, viajantes em tempo integral.
Sobre a volta ao mundo com gêmeos
Seguimos experimentando diversas maneiras de viver e, dessa forma, esperamos passar para nossos pequenos a beleza e a riqueza da diversidade desse mundo. Além de quartos de hotel ou casas tipo airbnb, (casas de aluguel por temporada) testamos diferentes modelos de moradias. Foram barracas, motorhomes (casas-carro), barcos e até cavernas utilizadas como endereços fixos por muita gente. Algumas vezes dividimos cozinhas, banheiros ou mesmo a casa toda. Compartilhando culturas, hábitos e histórias de vida.
Passeamos em camelos pelo deserto, montamos búfalos no Vietnã, andamos de carroça em locais em que veículos motorizados são proibidos, e em pequenas mulas por plantações familiares no interior do Marrocos. Em Myanmar fizemos nossa trilha mais extensa, andando a pé por dois dias com os meninos em meio a paisagens que pareciam ter sido tiradas de um filme. Foram 35 km com nossos gêmeos na mochila!
Sobre sabores, já tivemos nossa fase vegetariana; de peixes e sopas, na Ásia; uma alimentação a base de cordeiro, como os neozelandeses; e comemos carne e tomamos leite de dromedário, seguindo hábitos dos povos nômades do deserto. Atualmente intercalamos as delícias da dieta mediterrânea, no sul da Europa, com a variada e rica culinária na região dos Balcãs. Nossos meninos cozinham do bibimbap ao tajine (pratos típicos da Coréia e do Marrocos) durante suas brincadeiras de faz de conta.
Planejando a aventura
Escolhemos os destinos tentando fazer um equilíbrio entre o que queremos conhecer e o que é mais factível com as crianças. Um dos segredos do sucesso é viajar devagar. Dessa forma, eu diria que qualquer lugar que seja viável para nós, é totalmente viável para os pequenos.
Quando fomos ao Camboja, estávamos muito preocupados porque o principal programa seria conhecer templos e ruínas em um dos maiores centros arqueológicos da Ásia. Fizemos em uma semana, o que muitos roteiros normais fazem em dois a três dias. Programamos visitas apenas em um período do dia, para eles descasarem, já que, além de tudo, o calor seria intenso. Qual não foi a nossa surpresa ao ver os meninos se divertindo sem querer ir embora. Fizeram das pedras, escadarias, muros e janelas, um grande playground. (parquinho)
Vivenciando e aprendendo ao redor do mundo
Além de experimentar aviões de todos os tamanhos, fizemos deslocamentos em trens e ônibus, viajamos em vans locais (que substituem os ônibus na Tunísia, e têm até rodoviária própria), andamos de tuk-tuk (meio de transporte urbano) por toda a Ásia, moto, caiaque e barcos de vários modelos.
Na Grécia e no Vietnã, tivemos a bicicleta como nosso principal meio de transporte. Fazíamos compras de supermercado e passeios pela cidade montados em nossas magrelas. As crianças se saem muito melhor do que imaginamos. Os meios de transporte, para elas, tornam-se parte do passeio. No fim, elas se divertem e os deslocamentos ficam mais agradáveis para a família toda.
Aprendemos muito com as outras culturas, as outras maneiras de viver e a mudança do nosso próprio dia a dia. Os exemplos partem de questões simples como comer menos carne vermelha, seguindo hábitos asiáticos. Um exemplo mais profundo de mudança não foi decorrente da influência de outra cultura, mas sim da reflexão sobre o nosso próprio modo de viver.
Depois de um ano de estrada, finalmente entendemos que não queremos mais uma vida em automático. Parece clichê e algo óbvio. Todo mundo quer ter mais do tal “tempo de qualidade”. Apesar de óbvio, nós levamos meses para entender o verdadeiro sentido desse viver melhor. Quando largamos tudo e saímos pelo mundo, pensamos que já estávamos com essa questão resolvida.
Durante nosso período sabático, sem o trabalho e a vida corrida, teríamos todo o tempo só para nós, para viver e sentir cada momento, mas de repente percebemos que havíamos trazido a vida corrida conosco. As compras de passagens, deslocamentos e visitas a pontos turístico começaram a nos deixar exaustos, e voltamos a ter aquela sensação de “sem tempo para nada”.
Leia também: Como viajar em família sem gastar muito
Foi aí então que entendemos que a mudança não era assim tão intuitiva, mas que ela precisava acontecer em nós. Hoje, tudo parece muito claro a esse respeito. Seguimos ainda mais devagar e aproveitamos cada pequeno sorriso, cada brincadeira, cada simples momento juntos. Curtimos com muito amor e toda calma cada detalhe de nosso bebês se tornando meninos.
Compartilhamos nossas experiências na intensão de fazer mais famílias viajarem com seus filhos. Nosso principal objetivo é mostrar que viajar com as crianças é incrível, é possível! E não precisa ser apenas em locais chamados de “apropriados para elas”, ou em uma viagem longa.
Pode ser um fim de semana na casa dos avós ou dos tios que moram em outra cidade. Crianças precisam de vivências! Estar o tempo todo com os pais e ter novas experiências acabam por desencadear saltos no desenvolvimento nos pequenos. Viajar em família é sempre uma oportunidade de apreciar algo diferente juntos, criando memórias e laços para a vida toda!
Para saber um pouco o mais sobre nossa vida com as crianças pelo mundo acesse nossas páginas. Temos um blog chamado Gêmeos na Mochila, uma página no facebook e um perfil no instagram.