Enfeites, brincadeiras para as crianças, refeição quente, docinhos, balões e o famoso bolo. Quem nunca passou por horas de programação para fazer a festa do filho/a a mais perfeita que ele poderia ter? Pois bem, neste texto eu vou contar um pouco sobre uma festa de aniversário inesquecível e um tanto diferente aqui em Israel.
Essa festa aconteceu no deserto, sem palhaço e sem salão de festas, só as crianças e uma refeição um diferente da que nós, brasileiras e brasileiros, imaginamos para uma festa.
Parabéns no deserto
O dia é domingo. Ao pegar meu filho no Jardim de Infância, eu encontro a mãe de Ruth convidando todos os pais e filhos para a festa de aniversário de dois anos que ela e o marido planejaram para a filha. A festa estava programada para acontecer no pedaço de terra que fica no final do bairro onde eles moram. Perto da cerca que separa o kibutz da área desértica.
De fato, esse lugar é o favorito de todas as família do bairro. Nele, as crianças se juntam para brincar ao redor de uns sofás velhos e um mini-buraco no chão feito para acender fogueiras.
Um presente criativo: o “vale tarde”
Antes de qualquer coisa, eu e meu marido ficamos pensando o que levaríamos para a criança como presente de aniversário. Decidimos facilmente.
Chegamos às 17h30 como combinado, e o que resolvemos dar foi algo que eu mesma criei: um cupom no qual estava escrito “vale tarde na casa da família Melo Orr”. Sim, isso mesmo! A ideia era pegar Ruth na escola junto com meu filho, fazer um passeio com os dois pelo kibutz e jantarmos todos juntos. Nesse dia, logo após o jantar, os pais virão buscá-la na nossa casa. Dessa forma, todos nós vamos desfrutar de bons momentos, juntos e felizes.
Fogueira, hummus e pão sírio
No horário combinado, chegamos, eu e meu filho, no local do aniversário. Fomos uns dos primeiros a presentear a aniversariante.
O pai de Ruth, Yoguev, estava acendendo a fogueira para fazer as pitas (talvez você as conheça como pão sírio). A pita é feita em cima de um tabun, um pedaço de metal arredondado que é colocado em cima da fogueira e, quando quente, é usado para assar o pão.
É uma receita super fácil de se fazer. Até no Jardim de Infância dos nossos filhos eles o preparam. As crianças vão para fora, na área do jardim, e lá fazem a massa, assam o pão e o comem com queijo ou hummus. A receita? Basta misturar farinha de trigo com água e uma pitada de sal até a massa ficar pronta. Só isso! Super prático, delicioso e a melhor parte: as crianças amam essa atividade!
Todo mundo se diverte fazendo pita
Como eu disse anteriormente, a festa de aniversário começou da melhor forma possível, ou seja, com o Yoguev preparando a fogueira. Os pais da vizinhança iam chegando com os filhos e aos poucos o lugar foi se enchendo de gente.
Enquanto isso, duas panelas – com chá e café preto – estavam sendo preparadas na fogueira para os adultos. Água com limão e hortelã era servida na mesa ao lado para as crianças. O bolo estava na geladeira aguardando o final da festa.
Michal, a mãe de Ruth, chegou com o hummus e o labane (queijo árabe feito de iogurte, clique aqui para a receita em inglês) para as crianças comerem com o pão sírio.
Quando as crianças ouvem a palavra pita elas vão ao céu: – “Pita, pita, pita!!! Queremos fazer pita!”. Os olhos do meu filho brilham só em pensar em melar as mãozinhas com farinha e comer a massa crua.
A alegria está na simplicidade
Os pais deixam os filhos correndo à vontade. Uma das mães é encarregada de dividir a massa entre as crianças e uma outra pega as pitas cruas e as coloca em cima do tabun. Apesar da fogueira, as crianças correm livres e brincam umas com as outras de pega-pega ou esconde-esconde. Não tem nenhum pula-pula, nem palhaço ou jogo de tabuleiro, apenas as pitas e o deserto.
E os pais? Bom, os pais estão lá relaxados, tomando uma cervejinha, um café, e de olho nos filhos pra ninguém se queimar.
Acima de tudo, o que a criança lembra no final das contas é o sentimento de felicidade e as pessoas amadas que estiveram ali para comemorar com ela. A alegria está na simplicidade dos pequenos detalhes: na comida feita com carinho, na interação entre as crianças, na conversa acompanhada por uma cervejinha enquanto os filhos correm uns atrás dos outros, vendo o sol se pôr…
Diferenças culturais na educação da mãe e do filho
Sentada lá no deserto, tomando um cafézinho e vendo meu filho se encher de areia e massa, eu fiquei pensando na minha infância e em todas as minhas festas de aniversários. Eram vários preparativos, palhaços e brinquedos infláveis, balões por tudo quanto é lado e vários, “vááários” docinhos e um bolo feito por uma confeitaria. Tudo perfeito para, como meu avô gostava de me chamar, “a princesinha da casa”.
E aqui estou agora, vendo nessas crianças, amigas do meu filho, a mesma felicidade que eu vi em mim mesma e nos meus amigos quando todos éramos crianças. Com toda a certeza as energias e a correria são as mesmas, só que em lugares e com orçamentos diferentes.
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Neste exato momento eu gostaria de poder mostrar essa realidade para todas as mães e pais do mundo, e poder dizer que está tudo bem se os arranjos foram de última hora, e se a comida não saiu como planejado, ou até mesmo se o salão de festas já estava alugado e vocês tiveram que fazer o aniversário em um lugar menor.
Toda essa festa de aniversário aconteceu em um dos bairros do kibutz que fica no limite com o deserto. Essas crianças – a minha criança! – vive aqui. É um espaço livre. Vivem correndo atrás de borboletas e brincando com os amigos na lama que se formou a partir do furo da mangueira do vizinho. Água misturada com a terra amarela do jardim.
Eu sorrio… Às vezes as melhores celebrações são como estas: simples, em casa, com bolo caseiro e ao ar livre como o melhor parque de diversões.
1 Comentário
Que delícia de festa! Adoro coisas simples e preparadas pela família. E quanto tempo dura a festa? A comida era em excesso ou tinha uma quantia por pessoa?