Segurança de morar em uma cidade pequena na Itália
Morar fora é para mim uma das experiências mais incríveis que alguém pode ter, principalmente quando se tem filhos. Antes de ter as meninas e até mesmo de conhecer meu marido, tive a brilhante ideia de morar em Londres. Eu tinha apenas 19 anos e nunca tinha saído do país e tampouco falava outro idioma, na verdade eu era bem ruim com o inglês.
Fui pra Londres com uma passagem de um ano, seis meses de escola paga e apenas um mês de acomodação. Não faz muito sentido, mas era o que eu tinha para aquele primeiro momento. O mais importante era ter uma passagem com validade de um ano, o restante eu tinha decidido correr atrás uma vez que estivesse já lá.
Esse inclusive pode ser assunto para um outro momento, mas só para resumir essa primeira viagem, tudo deu certo. Apesar dos desafios consegui não só ficar apenas um ano, mas um pouco mais de três anos. Com certeza essa experiência contribuiu para uma evolução pessoal maravilhosa e que estando em “zona de conforto” eu jamais teria.
Os benefícios de morar fora são enormes, e os desafios também, claro. Mas, o que gostaria de compartilhar com vocês hoje é sobre o benefício de ter segurança, que para mim é um dos mais importantes, principalmente quando nessa aventura de morar fora estão também os filhos.
A segurança onde morávamos no Brasil
No Brasil morávamos em Alphaville, um bairro planejado, com infra estrutura de segurança modelo que fica nos municípios de Barueri e Santana de Parnaíba há cerca de 15 km de São Paulo.
Ainda hoje, Alphaville é considerado tranquilo e mais seguro, comparado a outros bairros e cidades da grande São Paulo. Existem câmeras por toda parte e bases com carros e seguranças 24 horas por dia, sete dias por semana.
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Apesar de todo esse esquema de segurança, na rua do nosso condomínio, houve duas tentativas de estupro em menos de um ano. Isso tudo em plena luz do dia. Além dessa situação, se ouvia falar de outros acontecimentos, ou seja, não dava para se sentir segura suficiente para fazer uma simples caminhada ao ar livre depois da janta, por exemplo. Isso é muito triste, porque segurança deveria ser prioridade, mas sabemos que não é assim, pelo contrário, temos algumas capitais que estão até entre as metrópoles mais perigosas do mundo.
A segurança que temos morando na Itália
Chegamos na Itália em 2017, a Sarah com 6 anos e a Giulia (nem existia ainda) era apenas planos para 2018. Moramos em uma cidade bem pequena que fica na Valtellina, região da Lombardia bem ao norte da Itália. Estou falando de uma cidade que chega ser menor que muitos bairros de São Paulo com um pouco mais de 21mil habitantes.
Aqui a vida é muito tranquila, em todos os sentidos, especialmente quando se trata de segurança. A cidade é cheia de parques e trilhas que nos levam a lugares lindos, muitos trechos com área verde, bosques fechados, animais selvagens e com poucas pessoas de passagem.
Caminhadas pelas trilhas e bosques
Ao lado da minha casa tem um parque lindo com uma trilha que beira o rio e cheia de árvores. E um lugar perfeito para caminhar enquanto admiramos a paisagem e escutamos os cantos dos pássaros. É uma paz maravilhosa e um ar puro de tirar o fôlego.
Confesso que no começo ficava um pouco desconfiada de caminhar sozinha por essas trilhas, até que comecei a me acostumar, observar pessoas correndo tranquilamente, avós passeando com carrinhos de bebês que faziam suas sonecas matinais tranquilamente. Enfim, relaxei e passei a apreciar com paz essas caminhadas, sem me preocupar se apareceria um louco querendo me fazer algum mal.
Até nos Bancos
Não estou dizendo que a Itália é o país mais seguro do mundo e que aqui não existe violência, mas a proporção é bem menor, principalmente na cidade em que moramos. Para se ter uma idéia os carros fortes aqui são bem diferentes do Brasil, eles param na frente do banco e de forma muito tranquila desce um rapaz apenas fardado para pegar ou deixar o dinheiro daquela agência. Assim, bem tranquilo, como se estivessem fazendo uma entrega de uma simples correspondência, sem metralhadoras ou seguranças escoltando o carro e o rapaz que desce.
Lembro que quando vi isso pela primeira vez eu fiquei surpresa e em dúvida se era realmente um carro forte. Uma curiosidade, a última vez que houve uma tentativa de assalto à carro forte foi em 1982 e sem sucesso por parte dos assaltantes.
Sair para fazer coisas simples e sem medo
Surpreendentemente aqui o caixa eletrônico do banco fica do lado de fora, isso mesmo, na calçada totalmente exposto e desprotegido de seguranças armados, nada de porta giratória com detector de metal ou mesmo aqueles cubos que imitam uma sala para isolar e proteger o cliente e, claro, o dinheiro da máquina.
Outra coisa que se vê bastante por aqui são os carros que dormem na rua. Como a Itália é muito antiga, assim também são as moradias, por isso não é surpresa nenhuma que o apartamento ou casa que moramos não tenha vaga para carro. O apartamento que moramos por quase três anos não tinha vaga para dois carros, sendo assim, a BMW tinha que dormir na rua. Não consigo imaginar isso em São Paulo.
Crianças vão e vem sozinhas da escola e do esporte sem preocupação
As crianças aqui correm livremente nas praças e vão sozinhas para a escola a partir da segunda série com autorização dos pais. É comum ver também voluntários fazendo o “piedibus”, (tradução livre “ônibus a pé”), uma espécie de caravana de crianças que são guiadas por um voluntário que faz o caminho de ida e volta à escola passando por pontos específicos para pegar e deixar as crianças, exatamente como se fosse um ônibus escolar, porém, a pé!
Na época de inverno é comum ver crianças com o equipamento de esquiar em pontos de ônibus que as levam para às escolas de esqui nas montanhas. Elas esperam sozinhas pelo ônibus que as deixam na porta da escola de esqui.
Outra coisa são as crianças que vão à escola de bicicleta e as deixam estacionadas muitas vezes sem correntes ou cadeados e quando saem da aula suas bicicletas continuam ali. Isso também é comum na cidade, muitos entram em lojas e deixam a bicicleta do lado de fora sem cadeado enquanto olham tranquilamente as ofertas do dia.
Achados e perdidos
Muito comum também são objetos pessoais que encontramos na cidade porque alguém perdeu. A regra é: se achou não é seu. Portanto, se você perder algo por aqui, é quase certo que encontrará. Esses dias encontrei uma chave de carro, o que eu fiz foi empurrar para o canto da calçada. Outro dia o xerife Woody do Toy Story, estava novinho. Ahhh, outra coisa é chupeta e touca de bebê, se vê bastante por aqui.
O melhor de morar aqui é realmente essa segurança, principalmente quando se tem crianças. Outra coisa comum por aqui é ouvir as pessoas dizerem: Sondrio, é sem dúvida um dos melhores lugares para criar filhos pequenos.