Uma das coisas que me chamou a atenção e que muito me surpreendeu logo que cheguei na França foi o hábito de comprar e vender usado. Pessoas de classe média e baixa têm o costume de comprar e vender toda sorte de objeto: roupas, brinquedos, eletrodomésticos, móveis, bijuterias, tudo!!! Neste texto vou dar várias dicas de onde encontrar roupa infantil barata.
Seja pela internet, em casa, em feiras organizadas na rua ou em hangares, em sites específicos como e-bay, Amazon, Leboncoin (equivalente ao bomnegócio), tem gente que não passa um dia sem consultar um anúncio e não passa um mês sem publicar.
Eu nasci e cresci em uma família de classe média e nunca ouvi meus pais falarem em comprar algo usado (a não ser automóvel) ou vender algum objeto que não servisse mais. Se não serve mais, mas está em bom estado, se doa, se está muito velho, joga fora. Essa mentalidade de querer ganhar dinheiro com usados não é coisa comum no Brasil. Por isso estranhei muito, porque quase todas as pessoas com quem passei a conviver tinham esse hábito.
Brocantes, vide-grenier e vide maison
Na entrada da primavera ou em troca de estação, pululam as brocantes em todas as cidades do país. São como grandes feiras ao ar livre, onde pessoas que têm objetos ou roupas que não usam mais, oferecem por preços derrisórios, seus bens dispostos em mesas ou até mesmo no chão. Cada expositor paga um certo valor ao metro quadrado pelo espaço que ocupa e utiliza-o como quer para vender seus produtos. Geralmente as brocantes começam em torno de 9h e vão até umas 18h. Esse tipo de evento se chama também vide-grenier (literalmente esvazia sótão). Existe uma outra versão a esse tipo de mercado alternativo, que é o vide maison (esvazia casa), que se passa na casa do interessado. A pessoa que opta por fazer um vide-maison, muitas vezes vai se mudar e precisa se desfazer de uma parte ou da maioria dos seus móveis e eletrodomésticos.
Alguns produtos são mais fáceis de vender que outros; é o caso de brinquedos e roupas para bebês ou crianças até 10 anos. Produtos que são utilizados por um período curto e que são relativamente caros quando comprados de forma convencional. Nas brocantes pode-se facilmente encontrá-los em ótimo estado e a preços mais que razoáveis.
Claro que tem também quem venda velharia. Uma das primeiras vezes em que visitei uma destas feiras me horrorizei ao constatar o estado de certos artigos postos à venda: chave enferrujada, cadeirinha de bebê bem estragada e suja, ferramentas em péssimo estado, louça feia e meio quebrada, coisas do arco da velha que eu nunca imaginaria que alguém pudesse querer comprar e muito menos que alguém tivesse a coragem de colocar à venda!
Dépôt-vente
Outra forma de comprar objetos de qualidade a preço inferior é procurar um dépôt-vente. Existem inúmeros espalhados pela França especializados em artigos para bebês. Funcionam assim: o vendedor deixa o objeto na loja (dépôt-vente), em venda consignada. Uma vez que o produto é vendido, o depositante ganha uma comissão. Exemplo de uma loja dépôt-vente em Paris é Trottinette.
Passados 12 anos desde minha mudança para cá continuo não tendo o reflexo de vender minhas coisas. E às vezes ocorre de me irritar quando vejo pessoas que não estão “a perigo” quererem tirar proveito de tudo através desse sistema de venda de usado.
Solidariedade
Quando eu engravidei das minhas trigêmeas (escrevi um artigo a repeito aqui), recebi muita ajuda. Inclusive de pessoas que eu não conhecia. Sim, porque apesar de tudo que se possa ouvir sobre a falta de solidariedade, existem pessoas muito solidárias por aqui também. Que fazem o bem sem olhar a quem.
Quando uns amigos de um amigo do meu marido souberam que estávamos esperando três bebês, logo se apressaram em nos propor praticamente um enxoval completo. Nos deram tudo o que tinham guardado dos dois filhos deles. Tudo em ótimo estado. Roupas, cama, cercado, cômoda, mini-processador para papinha, brinquedos… Poderiam ter ganho um dinheiro considerável se tivessem vendido, porque os móveis eram de qualidade e as roupas praticamente novas e de boa marca. Mas sabiam que para eles não iria fazer diferença alguns euros a mais na carteira e para nós, que tínhamos três enxovais a preparar, era uma ajuda e tanto. Por isso até hoje nunca quis vender nenhuma roupa das minhas filhas que deixou de servir. Quando alguma amiga me pergunta se quero participar com ela de uma brocante, sempre respondo: “não, me ajudaram muito quando precisei, prefiro dar do que vender“.
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Claro que me ocorre de vender objetos de maior valor, se tiver que repô-lo, porque me ajuda a pagar uma parte do valor do novo, afinal aqui as coisas também são muito caras. Mas colocar tudo à venda, não.
Para vestir as crianças sem se endividar tem também o sistema de compra e venda de artigos usados na internet, como o Patatam. Acessando este site, você pode vender os artigos que não servem mais e comprar o que está precisando. E no site Showroom prive você encontra roupas e calçados infantis novos, de grandes marcas, além de produtos para bebês com até 70% de desconto! O site Le Bon Coin é muito utilizado pelos franceses, para artigos infantis mas também para muitas outras coisas, até para procurar emprego.
Como deu para ver, as opções são muitas para vestir os pequenos sem gastar muito. Basta escolher entre as feiras ao ar livre, as lojas de venda por consignação ou a internet. De uma maneira ou de outra, tem como ficar satisfeito com a qualidade do produto e o preço pago por eles.
2 Comentários
Para mim, também é difícil pensar em vender as roupas da minha filha. Mas comprei algumas peças em brocantes no ano passado e queria revendê-las para recuperar o dinheiro e usá-lo novamente para itens infantis. Esse fim de semana haverá brocante aqui na escola ao lado e já estou ansiosa para ver se encontrarei alguns brinquedos para ela.
É exatamente como você falou no texto. Algumas são péssimas, com objetos de qualidade muito ruim. Mas em outras dá para encontrar qualidade e preço bom.
Ola, Mariana, tem bastante brocante na tua regiao? Paga-se entrada para acessar à brocante? Aqui, algumas são pagas, não gosto desse sistema, porque acho que não se justifica cobrar ingresso pra esse tipo de coisa, a gente já paga o produto que compra. Acho que reduz bastante o número de entradas quando se tem que pagar. Claro que muitas pessoas acabam indo somente para “dar uma voltinha” e matar o tempo quando o acesso é gratuito, mas muitas vezes essas mesmas pessoas acabam vedo algum artigo que interessa e comprando.