No último ano resolvemos passar as festas de final de ano no Brasil. Sabia que essas não seriam férias comuns na terra em que nasci e cresci, mas uma releitura do meu país através da maternidade. Seria minha primeira viagem ao Brasil como mãe.
Quando a Liv tinha 5 meses, minha mãe veio nos visitar. No entanto meus irmãos, que moram no Brasil, só a conheciam pelas centenas de vídeos e fotos que eu envio quase que semanalmente. Então acrescentem aí mais um pouco de emoção para todos nós. Os reencontros com amigos também seriam diferentes, tanto para mim quanto para eles, especialmente para aqueles que não têm filhos.
Programamos nossa viagem e resolvemos passar o Ano Novo a três no melhor estilo brasileiro: na praia e na Bahia. Depois disso, eu e a Liv viajaríamos para Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, para ficar com minha mãe e um dos meus irmãos. Meu marido voltaria pra Israel.
Preparações
Com o surto de febre amarela, fomos obrigados a nos vacinar antes de viajar, coisa que em 15 anos morando aqui nunca aconteceu. Mas como com bebê a gente não arrisca, nós nos vacinamos. Eu, que adoro uma listinha, incluí na minha quantos dias ficaríamos e calculei fraldas, fórmula, lencinhos umedecidos e aqueles mini lençóis descartáveis para troca de fraldas em lugares públicos. A farmacinha da Liv também foi estocada e contava com repelente, antibióticos, antitérmicos, pois eu acho melhor contar com aqueles medicamentos que já estamos acostumados, não é?
Maluquíssima que sou, levei também lenços de álcool para limpeza das mãozinhas da Liv, que adora pegar coisinhas do chão ou mesmo testar a textura dele. E também lenços antibactericida para limpar o avião. Se você nunca parou pra pensar como aviões são sujos considere-se sortudo, pois eu piro em quantas mãos sujas pegaram aqui ou ali.
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Como moramos em Israel, onde o Natal é pouco comemorado, ensinei a Liv o que é Natal através de desenhos animados uma semana antes de viajar. Assim que chegamos, em pleno dia 24 de dezembro, fomos ao shopping comprar sandalinhas, já que as do verão não serviam mais. A Liv, hoje com 2 anos, se encantou com toda aquela decoração magnificente e resolveu que Papai Noel se chama Papai El.
Pedimos com antecedência ao hotel cadeirinha de bebê para o traslado do aeroporto para o hotel e para a locadora de carro em São Paulo, já pra Poços consegui uma emprestada.
Comparar é inevitável
Quem mora em outro país sabe que em determinado momento o imigrante sente-se “entre mundos”. Isso se dá uma vez que ele assimila novos costumes e se expõe à nova cultura. Muitos relatam que ao voltar pro Brasil sentem-se estrangeiros e passam a comparar o Brasil com sua nova morada. Eu mesma faço isso, mas acho que em 15 anos essa foi a primeira vez que me senti super brasileira e super israelense ao mesmo tempo. Não sei precisar, mas acho que deve ter sido a minha vontade de mãe de que a Liv se sinta brasileira também. Como disse, comparar é inevitável, então aqui vai algumas coisas que percebi pela primeira vez como mãe lá.
Pontos negativos
Em Israel há um parquinho em cada bairro. Isso mesmo. Há uma infraestrutura muito boa devido ao número elevado da população infantil. Pela diferença em relação à violência urbana nos dois países, é fácil de entender porque os parquinhos no Brasil são privilégio do condomínio em que se mora. Diferentemente do Brasil, aqui o chão é sempre de um piso emborrachado e os brinquedos servem a crianças de várias idades. Já nos parquinhos que tivemos a oportunidade de ir, tanto em São Paulo como em Poços de Caldas, o chão era de areia ou grama. Como no verão chove bastante, houveram dias que era uma lamaceira só. Além disso, os brinquedos são quase os mesmo que eu brincava quando era criança e os balanços são abertos, impossibilitando os menorezinhos de se divertirem com segurança.
Um super ponto negativo tanto no meu bairro em São Paulo, como a maior parte de Poços de Caldas, é que as calçadas, além de esburacadas, não são rebaixadas, fazendo com que um simples passeio vire uma verdadeira trilha off-road pra quem conduz o carrinho do bebê.
Fiquei também um pouco desapontada com a falta de variedade de fórmulas. Acabamos ficando mais tempo e precisei arriscar. Tentei o leite Ninho, que a Liv detestou, então racionei o que tinha até meu marido voltar pro Brasil e acabou dando certo. Além de NAN, não encontrei outra marca que conhecia. Precisei também comprar fraldas, aliás poderia não ter levado daqui, mas o sistema de tamanho é diferente e elas são mais caras.
Pra finalizar, fomos em alguns restaurantes que não contavam com trocador para bebês. Por sorte não precisei me aventurar a trocar fralda com número dois em pé.
Pontos positivos
Em geral as pessoas foram muito cordiais, deixando-nos entrar num elevador ou segurando uma porta e coisas assim. Bem como em Israel, crianças têm o poder de tirar um sorriso de um desconhecido e logo uma pequena conversa se inicia.
Mas o que me impressionou de verdade foi um sábado em que a Liv acordou com febre alta e amidalite e ao meio-dia decidi que ela precisava ver um médico. Resolvi atravessar a rua e entrar em um posto do SUS, onde pra minha surpresa fomos excelentemente bem atendidas. Se não fosse a falta de ar condicionado em um dia em que fazia 35 graus, eu diria que estava em um país de primeiro mundo. Parabéns para essa unidade do SUS!!!
A área da família em shoppings também foi uma surpresa agradável. Aqui em Israel há, muitas vezes, uma área dessas que conta com um trocador, uma pia e às vezes uma poltrona para amamentação, mas é só isso. Em São Paulo, os shoppings vão a extremos e oferecem gratuitamente lencinhos umedecidos e fraldas. As pias são muitas vezes grandes, para lavar o bebê com água quente. Ha salas apropriadas para amamentação, microondas e empréstimo de carrinho de bebê frente a um cadastro. Essas áreas são lindamente decoradas e super divertidas, algumas contam até com salinha de brinquedos.
Outro ponto positivo para o Brasil é em relação às áreas de recreação em restaurantes, alguns até têm funcionários disponíveis para olhar e brincar com as crianças.
E por falar de espaço para brincadeiras, os gymborees, aquelas áreas pagas por tempo em shoppings com brinquedos e piscina de bolinhas, são mais sofisticados no Brasil do que aqui, porém bem mais caros também. A quantidade de brinquedos e fantasias é impressionante e todos possuem monitores para olhar e brincar com as crianças. Bem no estilo “madame deixe seu filho maior de 2 anos e vá fazer suas compras tranquila”. Menores de 2 anos precisam estar acompanhados. Fomos a alguns e um deles tinha até aplicativo viabilizando os pais de verem seus filhos brincando em tempo real, uau!!!
Burocracias e alegrias
Férias no Brasil sempre têm a parte chata, como banco pra quem ainda tem conta lá, Tribunal Superior Eleitoral, já que ainda não transferi meu título de eleitor pra cá, e coisas do gênero. Nesse caso abusei da fila prioritária, que aqui não existe nem pra grávidas, mães ou idosos. O bom senso em alguns lugares prevalece, mas em Israel não é lei.
Bem, o encontro com a família e amigos foi mais especial dessa vez. Senti uma profunda alegria de ter a Liv no Brasil comigo e com todos. Descansamos, passeamos e recarregamos as energias. Essa viagem foi um marco no desenvolvimento físico, intelectual e linguístico dela. Quem sabe o ano que vem tem mais?
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