A Colômbia vive nestas últimas semanas um momento bastante crítico e tenso em sua recente história política e social. Se você acompanha o noticiário, deve ter percebido que os atuais protestos que vêm acontecendo no país fizeram com que a Colômbia ocupasse um lugar de destaque em jornais de todo o mundo e atraísse olhares de preocupação e expectativa.
Mas, o que de fato está acontecendo por aqui? Por que, em plena pandemia, o país entrou nesse ciclo de protestos e violência?
O início de tudo
Tudo começou após o presidente Ivan Duque ter apresentado uma proposta de reforma tributária. O objetivo principal era recuperar as perdas com os gastos causados pela pandemia. Vários setores se mostraram bastante insatisfeitos com os efeitos que a suposta reforma traria. Obviamente, se a intenção era recuperar-se dos efeitos da pandemia, a reforma representaria um aumento de impostos para vários setores da sociedade, que também já vêm sofrendo com a crise atual e ficariam ainda mais sobrecarregados.
Esse descontentamento levou à convocação de uma Greve Geral para o último dia 28 de abril, data em que milhares de pessoas, espalhadas por todo o país, foram às ruas de toda Colômbia, em protesto pedindo a retirada da reforma.
Os protestos continuaram
Entretanto, os protestos não pararam. Logo depois veio o dia 01 de maio, Dia do Trabalho, data propícia para a realização de manifestações em favor dos trabalhadores. Nesse dia, os protestos, que já vinham acontecendo havia alguns dias, foram muito intensos e acompanhados de muita violência. Houve vários conflitos entre policiais e manifestantes, gente ferida, vandalismo e destruição.
No dia 02 de maio, o presidente retirou de pauta a dita reforma tributária. O governo iniciou então um movimento no sentido de tentar dialogar com os manifestantes.
Ainda assim, os protestos na Colômbia não pararam. À causa inicial, que era a retirada da reforma tributária, foram acrescidas outras causas e razões para protestar, como a questão econômica, a desigualdade, o aumento da pobreza e do desemprego e a violência policial. Os protestantes pedem menos desigualdade econômica, reformas na saúde, na educação, no sistema policial, renda mínima garantida, para citar apenas algumas delas.
Isso ocorreu nos moldes do que aconteceu no Brasil em 2013, quando a onda de protestos começou por causa do aumento da passagem de ônibus e logo tomou proporções muito maiores, ganhando o slogan “Não é (só) pelos 20 centavos…”. Aqui poderíamos dizer que “Não é (só) pela reforma tributária…”.
Violência
O que preocupa é que os protestos na Colômbia estão sendo acompanhados de muito vandalismo, além de muitos episódios de violência por parte da polícia e de alguns manifestantes. Após 15 dias de protestos, já são aproximadamente 50 mortos e quase 400 pessoas desaparecidas.
O histórico de conflito armado, além de toda a questão das FARC e outros grupos de guerrilha que existem no país fazem com que parte da população tema reviver momentos de terror como os que aconteceram no passado, quando o país sofria na pele os efeitos da guerra causada pelo narcotráfico e esses grupos.
Somado a isso, as manifestações também têm causado bloqueios severos em parte das estradas do país. Na Colômbia, o principal meio de transporte de carga interna é o rodoviário. Os reflexos desses bloqueios já estão sendo sentidos em alguns lugares, que já estão com falta de produtos. Produtores agrícolas, principalmente, podem perder as suas produções por não conseguir escoá-las. E isso agrava ainda mais a crise econômica já instalada.
A cidade mais castigada pelos bloqueios e violência neste momento, é Cali, uma das principais do pais, localizada próxima à costa do Pacífico.
Pandemia
Por fim, toda essa situação acontece no momento em que a Colômbia ainda luta contra a pandemia e vive uma terceira onda de contágios. O número de infecções e mortes está bastante alto em comparação com outros períodos da pandemia. Além disso, a ocupação de UTIs está próxima de 100% em algumas cidades. A vacinação está acontecendo, mas está muito, muito lenta. Apenas pouco mais de 10% da população tomou ao menos a primeira dose da vacina.
A situação da pandemia agrava a crise econômica e aumenta a insatisfação da população. Por sua vez, todo esse cenário de protestos, aglomeração, e desordem tende a agravar a pandemia, que já está complicada.
O que se espera é que o governo e os líderes dos movimentos de fato sentem e consigam chegar a alguma espécie de acordo. Que se interrompa o ciclo de violência, vandalismo e bloqueios por meio do diálogo. Que o país não seja ainda mais castigado por tudo que vem acontecendo. Esperamos que assim a Colombia mais uma vez supere as suas dificuldades e encontre a paz.
Para mais informações sobre o que tem acontecido aqui na Colômbia, acesse: El Tiempo, RCN Radio, Wradio, Semana
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