Minha experiência com assistente social na Inglaterra
Em uma quinta-feira, dia normal de trabalho, e eu estava em casa com as crianças à espera do meu marido. Algumas vezes da semana trabalhávamos juntos, e aquele era um dia que estávamos no mesmo turno. Então ele chegou atrasado e tínhamos que sair logo, mas antes fui lhe fazer um café e umas torradas. Ainda tínhamos que deixar as crianças na casa do nosso chefe, onde ficam enquanto trabalhamos. Já diz o ditado que criança consegue cegar os pais, bem verdade! Estamos sempre com os olhos em cima dos filhos e quando menos esperamos e debaixo do nosso nariz? o pior acontece.
Acidente doméstico
Estávamos todos na cozinha, eu fiz o café e entreguei para meu marido. Ele se virou para pegar o açúcar e o que aconteceu? O Oliver, meu filho mais novo de apenas um ano, simplesmente puxou a xícara e o café caiu em cima dele. Escutei os gritos de desespero e em exasperação eu entrei. Falei para meu marido ligar correndo para a emergência, afinal com queimadura em bebê não se deve brincar. Meu marido nervoso com a criança aos berros falou alguma coisa que fez a atendente entender que as crianças ficavam sozinhas em casa. Neste preciso momento não poderíamos imaginar o que viria a acontecer.
O tempo passou, Oliver está ótimo e sem nenhuma marca no corpo. Eis que em um belo dia recebi uma ligação, que no momento não pude atender pois estava na aula. Deixaram uma mensagem de voz: “Aqui é a Ms Lauren, assistente social, recebemos algumas informações e precisamos conversar com você”. Ainda bem que eu não atendi, porque provavelmente eu teria desmaiado no meio da ligação.
Por que o pânico?
Porque nunca ouvi boas histórias acerca das social workers (assistentes sociais). Sempre ouvi da família que perdeu o filho, outros que foram pegos de surpresa na madrugada. Certa vez vi uma reportagem falando de famílias portuguesas que perderam seus filhos. Muitas delas continuam na luta para reaver a guarda dos mesmos.
Sabia que se você der uma palmada na criança você vai presa? Que nossos filhos não são 100% nossos? Que nas escolas as crianças são orientadas a denunciarem os pais em caso de maus-tratos? Mas as coisas não são tão simples, vejo muitas famílias se queixando que sofrem “ameaças” dos filhos! Imaginem que situação complicada.
Eu sempre tive pânico de assistente social, no entanto, acabei atraindo a situação. Recebemos algumas ligações onde ela quis esclarecimentos do que tinha acontecido no dia do acidente com o café. Relatamos o que tinha ocorrido, ela quis saber de tudo: o que fazíamos, onde trabalhávamos, onde ficavam as crianças, se frequentavam a creche. Ela entrou em contato com a creche, que por acaso já me conhece há quatro anos, e foi uma mais valia, um ponto positivo. Passado alguns dias recebemos uma carta dizendo que por ora não seria mais necessário recebermos comunicações e nem visitas, mas que ficaríamos nos registros.
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Duas ou três semanas atrás recebemos uma carta dizendo que teríamos visita da health visitor (profissional que cuida das crianças até os dois anos). Pensei que ela viria fazer a avaliação do Oliver, pesar e ver se está tudo ok. Porém, segundo o ditado proferido pela minha adorada vovozinha, alegria de pobre dura pouco. A health visitor veio inspecionar a nossa casa, ver como nossos filhos estavam sendo criados e se havia algum vestígio de maus-tratos.
Para o nosso alívio, o acidente com o nosso filho foi muito superficial. Ele é muito amado, aliás, eles são amados. Meu marido conversou com a health visitor, explicou mais uma vez o que tinha acontecido e a má interpretação da conversa no dia do acidente. Ela conversou com a minha filha de três anos, que muito sincera disse: “eu sou muito feliz!” A health visitor perguntou se teríamos receio em ligar para a emergência caso acontecesse algum acidente novamente. E, logicamente, a resposta foi sim! Resumo da ópera: não estamos mais no banco de dados (pelo menos foi o que ela disse).
E agora?
Mas em um belo dia de julho, meu filhotinho brincando com a irmã saiu correndo e o que aconteceu? Caiu e bateu com o nariz na porta de entrada de casa! O menino quer me enfartar de vez! E agora, ligar ou não ligar para o hospital? Não ligamos. Sim, temos receio, ficamos coagidos. Não queremos visitas constantes da assistente social, é demasiado estressante.
Eu gostaria de falar mais sobre esse assunto, mas com embasamento. Pode ser tema para um próximo texto. Até minha professora de inglês disse que o sistema aqui é muito complicado. Embora tenha ficado por meias palavras, senti algo sombrio e desejo explorar mais o assunto. Certa vez ela disse que crianças e adolescentes não respeitam os professores.. Fiquei pensando e deixo uma reflexão: será que essa proteção e incentivo à criança a denunciar os pais não gera um reverso da medalha?
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5 Comentários
Bem pertinente seu texto, e sim eu, como mae, tb tenho medo de assistente social. A gente ouve tanta coisa.
Mas no fundo nao eh mto diferente de como teria q ser em tdo o Lugar, inclusive no Brasil. Fui psicologa de programas de protecao a crianca por 4 anos. E como TA aqui, a gente ve mta coisa. Pode ter certeza q mesmo c tda essa protecao mta crianca eh vitima de violencia.
E adolescentes ameacando os pais vem justamente daqueles lares onde nao ha atencao e cuidado, onde ha negligencia e violencia.
Mas entendo seu desconforto e nao queria estar no seu lugar. Dou Graças a Deus por nao ter vizinhos mto proximos pq ja tive amigos sofrendo ameacas qdo o bebe chorava.
Olá Carolina,
Acredito sim em que há muitos casos de violência doméstica, muito triste ver esse tipo de acontecimento em pleno séc. 21.
Ter vizinhos próximos é um terror.
Sou absolutamente contra essa intervenção do Estado na criação de nossos filhos. Evidente que existe também País monstruosos e é para esses que a lei deve existir, mas para tudo na vida há limites!
Olá Lilian,
Concordo plenamente e assino embaixo. Tudo há um limite e aqui parecem que as coisas ultrapassam certos limites.
[…] meu último texto falei sobre o meu pânico em relação às assistentes sociais. E por quê? Porque aqui na […]