A França é conhecida mundialmente por ser o país da gastronomia, dos grandes e estrelados chefs. Não é por acaso que temos tantas palavras francesas ou de origem francesa no nosso vocabulário português, que mostram a influência dos hábitos alimentares na França.
De forma geral, podemos dizer que os franceses têm muito cuidado com a alimentação. A busca por refeições bem equilibradas começa desde cedo, a partir da diversificação alimentar dos bebês. E isso é visível na sociedade. Por exemplo, a França não sofre com problemas de saúde ligados à obesidade como o Brasil. De acordo com um estudo feito pelo New England Journal of Medicine em 2017 (ler neste artigo), a obesidade está explodindo no mundo, mas se estagnou na França nos últimos anos.
Rituais à mesa
É verdade que não apenas os pratos, mas os hábitos alimentares franceses são diferentes dos brasileiros. Culturalmente, a refeição é considerada um momento sagrado. E não se come simplesmente porque se tem necessidade; come-se para degustar, saborear o alimento, desde o cheiro ao sabor. Por isso, é comum ver franceses “tentando descobrir” os ingredientes de um prato ou o tipo de vinho (usando até aquele vocabulário técnico e tudo), durante as refeições. E a conversa à mesa pode durar horas e horas, principalmente nas refeições em que toda a família está reunida. E não, não é educado deixar a mesa antes do fim. As crianças acompanham o “ritual” desde cedo, porém, não são obrigadas a ficar à mesa durante horas. (Quando falo “horas”, pode ser de 12h até 18h! rs)
Os franceses são rigorosos com os horários das refeições e estas têm várias etapas: aperitivo, entrada, prato principal, salada, queijo, sobremesa, café e digestivo – no caso de uma refeição completa. Essa é mais para os domingos, Páscoa, Natal, etc. No dia-a-dia, entrada, prato principal, sobremesa e café é o mais comum, ou até menos etapas, como nos restaurantes que propõem “fórmulas” (menus prontos) de entrada e prato principal ou prato principal e sobremesa. Cada etapa é respeitada e quem terminou primeiro espera pelos demais – até porque os pratos de cada etapa são levados à mesa aos poucos em casa.
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Além disso, há regras para combinar os alimentos. Uma coisa importante para quem não está acostumado com os hábitos e a gastronomia francesa é que os franceses não misturam os alimentos no prato. Nada de colocar um alimento em cima do outro. Cada alimento tem um lugarzinho no prato e a “mistura” entre eles é feita na hora de levar o garfo à boca. E os acompanhamentos não são inúmeros como no Brasil. Normalmente, a carne, o peixe ou a ave terá um acompanhamento (arroz OU batata OU feijão, por exemplo). Aparentemente, o único acompanhamento inseparável dos franceses é o pão, comido com o prato principal e com o queijo, todos os dias, no almoço e no jantar. Durante as refeições, geralmente bebe-se vinho e/ou água. Refrigerantes, sucos e afins ficam de fora e são consumidos apenas no aperitivo. Aliás, refrigerantes não são muito vistos nas refeições.
E as crianças?
As crianças também seguem esses hábitos alimentares. Desde a escola maternal, na cantina, elas têm um menu que prima por alimentos saudáveis no almoço. Aliás, desde a creche, para aquelas que propõem refeições no local. No caso dos bebês, as etapas são: prato principal (legumes/verduras com carne/peixe/galinha/ovo), sobremesa (fruta) e iogurte. Para beber, água. E o pão, claro!
Nas cantinas das escolas, colégio e liceu, os alunos tem a entrada, o prato principal, o queijo/o iogurte e a sobremesa (fruta e/ou outra sobremesa). Com água e pão para acompanhar também. Neste link, você pode ver como é o menu de uma cidade francesa.
Os alimentos servidos nas escolas podem ser cozinhados na própria escola por uma equipe formada na área ou por uma empresa terceirizada. Os pais têm acesso ao menu, que muda todos os dias.
No caso de restrições alimentares relacionadas à saúde, os pais devem comunicar à escola que, assim, pode autorizar que o aluno tenha a sua refeição preparada e vinda da casa dele. Os alunos também podem optar por almoçar em casa. (Lembrando que o ensino é integral na França.) Hoje, a grande maioria dos alunos almoça na cantina escolar.
A cantina é paga pelos pais/responsáveis, mas o valor é simbólico. Na escola maternal e primária, a tarifa depende da renda declarada pela família. No colégio e no liceu, a tarifa é única para todos. E se a família não tiver condições de pagar, pode solicitar ajuda financeira entrando em contato com o serviço social ou a secretaria do estabelecimento, pois existe um fundo reservado para esses casos. Para saber mais sobre as cantinas, clique aqui.
Goûter, lanchinho sagrado francês
Como a escola é integral e há atividades extra-curriculares propostas, as crianças, às vezes, ainda estão na escola na hora de uma refeição bem típica na França: o goûter.
O goûter é “pontualmente” às 16h. As crianças trazem o lanchinho de casa e alguns são típicos e encontrados em qualquer lancheira: pão e um pedaço de chocolate (sim, e ainda colocam o pedaço de chocolate dentro do pão!) , fruta, purê de frutas, bolinhos,… Ou seja, doce. Se for em casa, a diversidade é maior e inclui outro alimento típico, presente também no café-da-manhã francês: o pão torradinho com manteiga e geleia de frutas por cima.
Esse lanchinho nesse horário preciso tem como objetivo evitar de beliscar o tempo todo (e engordar), e serve também para compartilhar o momento com os filhos, se for em casa. Este artigo fala sobre a importância do goûter na França.
Curiosidades
Até a salada na França é diferente da salada do Brasil. Mesmo contendo só alface, ela não é acompanhamento e vem depois do prato principal, por exemplo. Ou, se for uma salada caprichada, com vários e vários ingredientes, pode substituir tranquilamente uma refeição.
O mamão é servico como entrada. E o abacate é usado na cozinha francesa para pratos salgados, nunca doces.
A obesidade infantil é algo considerado preocupante. Por isso, as crianças acima do peso podem receber atenção específica e os pais podem receber orientações (e puxões de orelha, se for o caso), principalmente se a criança for acompanhada pelo serviço social.
Os fast-foods existem aos montes, porém a maioria dos franceses ainda prefere os sanduíches típicos das padarias francesas, caso não possam/queiram almoçar.
Os comerciais são bem controlados na França. Os de comida e fast-food, por exemplo, devem ter mensagens do tipo “comer muito sal e açúcar é prejudicial para a saúde”, seguidas de “coma ao menos cinco frutas ou legumes por dia”, por exemplo. É interessante porque vemos o fast-food dizendo “coma isto” e, segundos depois, uma voz na propaganda (ou por escrito) dizendo o oposto.
As pizzas são individuais, normalmente.
O croissant não é considerado salgado e se come apenas no café-da-manhã. (E nem tem os milhões de recheios inventados no Brasil!)
E não esqueçam o pão! O pão é sagrado e vai com tudo.