EUA e o espaço das mulheres em profissões consideradas masculinas
Neste universo de profissões vistas quase que predominante e exclusivamente masculinas, umas das coisas que me chamou a atenção aqui nos EUA nas primeiras semanas após a nossa mudança foi a cena de uma motorista de caminhão de bombeiros na minha frente na fila do Starbucks.
Lembro de ficar um tempão analisando cada detalhe de sua roupa. E ela toda sorridente na fila falava com seus companheiros de trabalho numa cena que se para todo mundo ali era super normal, para mim era algo encantador: uma bombeira e motorista daqueles caminhões enormes!
Leia também: Desigualdade de gênero na infância no Brasil e nos Estados Unidos
E nas semanas seguintes, mais e mais mulheres em profissões consideradas masculinas e que no Brasil não são tão comuns para nós, resolveram chamar a minha atenção. E a cada nova descoberta (sim, porque eu me sentia como criança descobrindo um mundo novo cheio de possibilidades), eu ficava mais encantada vendo tantas mulheres trabalhando em algo que muitas vezes eu não imaginava ou não estava acostumada a ver.
Bem, policial feminina nem conta porque aqui tem de monte. Até uns meses atrás eu tinha uma vizinha policial, daquelas que parecem duronas quando te cumprimentam ao sair para o trabalho, mas é só você ter a oportunidade de trocar algumas palavras com ela (e se tem uma coisa que eu adoro fazer por aqui é conversar com todo mundo) que você descobre que por trás daquele uniforme preto tem uma mulher como qualquer outra de nós. Vaidosa, preocupada com sua aparência, mas mostrando que é possível uma mulher fazer as mesmas coisas que um homem, sim!
E voltando ainda aos primeiros meses por aqui, lembrei de um bilhete da escola do Fê pedindo aos pais que quisessem ir à sala de aula falar sobre suas profissões aos alunos seriam super bem-vindos. No dia em que isso aconteceu, meu filho voltou da escola me contando todo eufórico que a mãe de um colega de classe havia ido se apresentar à turma vestida com seu uniforme do exército. Com direito a coturno e roupa camuflada!
Diferentes mas iguais
Segundo ele, durante os poucos minutos em que ela conversou com a classe, explicou um pouco do que fazia no Exército, suas obrigações para com o país, das suas atividades do dia a dia, mas também deixou claro a todos ali que era uma mãe como outra qualquer. Que todo dia de manhã trazia seu filho até a porta da escola, que também esquecia quando tinha reunião de classe, que às vezes mandava ele para a escola com uniforme errado ou faltando algo na mochila (quem nunca?). E com isso ela quiz dizer que seu uniforme não mudava em nada o fato de ela ser mãe daquele aluno e muito menos de ser uma mulher como as outras mães da turma.
E isso me fez pensar no modo como as crianças são educadas por aqui. Além de aprenderem sobre cada um ter o seu espaço, aprendem também que não há gênero quando o assunto é profissão. Homens e mulheres podem ser o que quiserem e podem trabalhar onde quiserem.
E não é só o querer, há também a questão do precisar. Se você precisa trabalhar e tem força de vontade, DO IT (faça isso)!
Ainda que muito poucas, as mulheres também têm seu espaço na construção civil. E não estou falando de engenheiras ou arquitetas. Estou falando da turma do pesado mesmo. Aquele pessoal que trabalha com britadeiras, dirige BobCat, as soldadoras e por aí vai. Na minha lista entram também motorista de caminhão de lixo e carteiro. Essa última profissão encontramos também no Brasil, mesmo que em minúsculas proporções.
As mulheres e a tecnologia
E puxando a sardinha pro meu lado (prefiro sempre dizer o chocolate, mas como ninguém iria entender…), as mulheres envolvidas em tecnologia por aqui crescem a cada dia. Se no Brasil há um movimento para que jovens mulheres e meninas façam parte dessa área que ainda tem muito para crescer, por aqui isso se fortalece cada vez mais. São desenvolvedoras, designers digitais e de games, professoras de coding (programação) espalhando esse mundo doido e por que não “mágico” da tecnologia por todos os cantos do país.
A ideia deste texto não é levantar nenhuma bandeira ou movimento XPTO, mas sim mostrar algumas das diferenças que podemos encontrar em outras culturas. Diferenças que muitas vezes nos encantam por serem como a palavra diz: diferentes. Mas que no fundo não precisariam ser consideradas assim. Mulheres em profissões consideradas masculinas não deveria nos surpreender porque, antes de tudo, não deveria haver distinção de gênero em nenhuma profissão.
É importante mostrar às nossas crianças que além de poderem ser o que quiserem quando crescer, sem distinção, toda profissão é digna! Desde a motorista de caminhão de lixo, até a alta executiva de uma empresa de Tecnologia do Vale do Silício.
2 Comentários
Andrea, eu também moro nos Estados Unidos ( e sou colunista de Nova Iorque) e essa questão também chamou a minha atenção quando cheguei aqui. Até escrevi um texto sobre a questão da desigualdade de gênero na infância comparando Estados Unidos e Brasil. Gostei muito do seu texto! Abraços
Andrea, eu também moro nos EUA (sou colunista de NY) e essa temática também chamou a minha atenção quando me mudei. Até escrevi um texto sobre a desigualdade de gênero na infância comparando Brasil e Estados Unidos. Parabéns por tratar desse tema tão relevante! Abraços