A cultura israelense de passear e curtir a natureza.
A primeira vez em que eu caminhei pela natureza em Israel foi nas montanhas do Deserto do Neguev, em uma viagem da escola. Eu tinha 15 anos e nos levaram para um passeio escolar de três dias, no qual nós subimos e descemos montanhas, no calor escaldante de dia e no frio de congelar de noite. Tudo isso ao lado de professores e todos os alunos que eu estava acostumada a ver entre quatro paredes, atrás de livros. Eu lembro de estar subindo uma montanha altíssima e, morrendo de medo, ter dito a mim mesma: “Quem em sã consciência faz esse tipo de passeio no meio do nada e ainda mais nesse calor?!”.
Nove anos depois estou eu aqui no Deserto do Neguev, todo final de semana, fazendo passeios pelas montanhas com meu marido e nosso bebê. E essa experiência que eu acabei de contar foi a primeira de muitas que foram me ensinando e inserindo na cultura israelense de passear, fazer trackings e simplesmente conhecer o país – e o mundo! – com os pés.
Pra quem acha que ter filhos é sinônimo de ficar em casa se enganou. Muitos casais aqui, incluindo eu e meu marido e outros muitos do Kibutz onde moramos, não param em casa no tempo livre. Sábado é dia de arrumar as bolsas, colocar o suporte de bebê no corpo, pegar o filho e o cachorro e escolher o novo destino do fim de semana. O que eu mais gosto de ver é a grande quantidade de famílias que saem para passear e saber que essas crianças estão, desde o dia em que nasceram, aprendendo sobre a natureza e vendo com seus próprios olhos todas as paisagens lindas que esse país – que é menor do que o estado de Sergipe – tem para oferecer.
Aqui, não há idade para colocar uma mochila nas costas e sair conhecendo as paisagens ao redor. Nos finais de semana, a maioria das famílias vai explorar – no norte, sul ou centro, não faz diferença. O importante é passear. Essa cultura é tão forte que os israelenses crescem conhecendo não só os nomes das regiões e sítios históricos e arqueológicos, como também nomes de rios, montanhas, árvores, plantas, flores e animais! Comparando com o Brasil, onde minha infância foi ver a natureza pelo mar e, de vez em quando, por um manguezal que passávamos ao lado, chegar aqui foi como chegar no paraíso: finalmente natureza, paisagens diferentes e sabedoria sobre o que me rodeia.

Foto: Arquivo pessoal.
Não somente em passeios familiares as crianças aprendem sobre as belezas naturais do país: desde pequenas, no jardim de infância, elas são ensinadas sobre o que há em sua terra. Em meu trabalho com crianças de 1,5 ano a 3 anos, eu vejo como minhas colegas de trabalho explicam aos pequenos sobre os tipos de flores que florescem na primavera, o nome das árvores que foram plantadas ao longo das ruas por onde passamos de manhã e todos os tipos de pássaros que aparecem na nossa frente. Esse tipo de educação é tão profunda na cultura israelense que em quase todos os livros e músicas infantis há nomes de árvores e animais.
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Passear assim no meio das montanhas, no deserto ou entre as florestas parece uma coisa meio complicada e que demanda uma super preparação. Mas nem tudo é como parece! Aqui há vários tipos de sinalização de caminhos feitos pelo Estado e que, de tempos em tempos, são reforçados para que as pessoas não se percam. Além disso, mapas de trackings e lugares com fontes de água são os mais vendidos em livrarias e lojas de turismo. Assim, de uma forma segura e prática, dá para acordar em um belo dia e decidir sair com os filhos e a família em uma caminhada de algumas horas. Tudo o que precisa é abrir um mapa, livro ou internet para checar qual lugar é o mais adaptado para crianças e quais fontes de água estão cheias naquele momento.
Israel é um país com ligação muito forte com a agricultura. Seus habitantes são muito ligados à terra e tudo que cresce dela. Os nomes das pessoas, por exemplo, são muitas vezes relacionados à natureza – o meu filho, por exemplo, chama-se Erez, que significa “cedro” em hebraico, uma árvore muito presente no norte, principalmente no Líbano.
Essa ligação se deve em parte à história dessa terra, que há apenas 70 anos foi declarada independente e que todos ajudaram a construir do zero. Mas deve-se também ao fato de que muitas pessoas moram em Kibutzim ou lugares parecidos a eles e, desta forma, mantêm-se ligados à natureza que os rodeia e à agricultura (que é a principal fonte de renda deles).
Kibutz é uma pequena comunidade conhecida por ser socialista e baseada em agricultura, onde todos os seus membros trabalham juntos, ganham o mesmo salário e vivem uma vida conjunta e igualitária. Muitos desses kibutzim são situados no meio de territórios ótimos para se fazer trackings ou ao lado de rios e lagos. E esse foi um dos grandes motivos, dentre muitas outras razões, que nos levaram a escolher criar a nossa família aqui no Deserto do Neguev, onde a natureza é de tirar o fôlego.
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[…] claro que as atividades em parques, praias ou passeios em cachoeiras se intensificam nessa época do ano, mas sempre levando em conta […]
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