Copa do Mundo na França: paixão pelo futebol mesmo, é no Brasil.
Mesmo se não restam dúvidas de que o Brasil é muito mais apaixonado por futebol que a França, por aqui também existem torcedores adultos e mirins, principalmente em época de Copa do Mundo.
Por morar em uma cidade do interior e bem longe de Paris, não convivo com os fanáticos e tampouco com aqueles que curtem os jogos mas sem muita convicção. A verdade é que quase ninguém no meu círculo de amigos e conhecidos acompanha os campeonatos.
Aqui onde moro só ouço falar no esporte quando alguma amiga com filho homem me conta que matriculou-o na escolinha de futebol. Aliás, em minha cidade, esta escolinha é subsidiada pela prefeitura e o custo é muito baixo. Então, não se sabe até que ponto são as crianças que estão motivadas a aprender as manhas do drible ou se são os pais que apreciam a baixa tarifa dessa modalidade esportiva e matriculam os pequenos.
Isto dito, trabalhei por um certo tempo em escola primária e na hora do recreio a principal atividade dos meninos, sem sombra de dúvida, era o futebol. Ocorriam brigas homéricas entre os pequenos e os grandes pela ocupação do terreno. No final do ano, organizava-se torneios entre as turmas, mas o envolvimento das crianças com o futebol, ao menos pelo que EU pude presenciar, não ia muito além da escola. Não lembro de ouvir nenhum menino comentando que ia jogar no fim de semana ou que ia assistir a um jogo com o pai na televisão.
Em época de Copa do Mundo o “maillot” (camiseta do time) é visto com mais frequência nas ruas
Mas por ocasião da copa do mundo a coisa muda de figura. As pessoas, o comércio e as entidades públicas se mobilizam em torno deste evento que é, afinal, a apoteose do esporte mais praticado no mundo inteiro.
Desde abril surgiram promoções de televisores, sorteio de viagens à Russia com tickets de entrada para os jogos, concursos na televisão…
É comum também que em anos de Copa algumas editoras publiquem livros dirigidos ao público infantil em torno do tema do futebol, lancem enciclopédias explicando tudo sobre as técnicas do esporte, com perguntas e respostas e fotos dos jogadores mais famosos das últimas décadas.
Leia também: Copa do Mundo e o torcer a distância

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Mais sobre a edição de impressos dedicados ao público jovem aqui.
A Playmobil criou um estádio portátil, em forma de maleta. Uma vez aberta, esta se transforma em um campo de futebol composto de dois goleiros, dois atacantes com pernas articuladas e uma bola. A empresa de brinquedos ainda organizou um concurso chamado “Playmo, le foot et moi” (Playmobil, o futebol e eu) que sorteia um personagem gigante, de mais de 1,50m.
Durante o período da copa, uma grande rede de supermercados, presente na maioria das cidades da França, distribui raspadinhas no caixa para compras acima de um certo valor. Pode-se ganhar vários produtos para exibir um autêntico visual de torcedor: óculos, maquiagem, apito, pulseira e bandeira. As crianças querem ver triplicar as compras da semana para ter direito a mais raspadinhas!
De acordo com um estudo realizado por uma agência de pesquisa, o álbum de figurinhas Panini já era o brinquedo mais vendido na França na terceira semana de maio (400.000 envelopes vendidos). Mas toda essa paixão tende a esvaecer-se com o fim da copa e só reacende daqui a quatro anos !
Como a garotada curte (ou não) a Copa do Mundo por aqui
Para tentar ilustrar um pouco de como a criançada aqui encara a copa do mundo, fiz uma pequena enquete entre crianças e adolescentes. Todos franceses. Claro que essa pesquisa não é realmente representativa, visto o número pequeno de entrevistados e a concetração destes no mesmo perímetro geográfico, ou seja, Concarneau, na região da Bretagne. Segue os depoimentos:
Bastien, 16 anos e Eva, 14 (irmãos):
Nós assistimos aos jogos através do canal BeInSport, quando passa de noite e geralmente só acompanhamos o primeiro tempo.”
Pierre, 8 anos:
Não assisto a jogo nenhum. Acho que a França vai perder.”
Ywen, 15 anos:
Assisto com meus amigos em torno de pizza e refrigerante.”
Kian, 13 anos:
Não acompanho os jogos, mas converso sobre o assunto no colégio com meus colegas.”
Lili, 10 anos:
Gosto de futebol, mas não assisto. No recreio eu e minhas amigas conversamos sobre o campeonato.”
Soem, 9 anos:
Assisto aos jogos com minha mãe e às vezes com meu avô. Coloco pintura nos braços.”
Oriane e Eloïse, 13 anos (irmãs):
Não curtimos futebol.”
Corentin, 9 anos:
Não jogo futebol nem acompanho a copa.”
Loïs, 9 anos:
Gosto de assistir aos jogos quando a França está em campo ou quando é um time que gosto, como o Brasil. Nesses dias, me maquio em tricolor e também tenho uma bandeira e um apito.”
Alex, 13 anos:
Assisto com minha família, mas não a todos os jogos. Não costumo usar maquiagem nem adereço.”
Lucas:
Comprei uma camiseta de futebol do time da França, e personalisei com meu nome e com o número 21, dia em que nasci.”
Ilias:
Tenho uma camiseta do time da França, assisto a uma grande parte dos jogos. Gosto de jogar futebol também.”
Emma, 14 anos:
Não gosto de futebol.”
Juliette, 12 anos:
Eu assisto sempre que posso quando a França joga. Conheço o nome dos jogadores, acompanho os resultados.”
E, para terminar, minhas três filhas, de nove anos e meio, que nasceram na França mas moraram dois anos no Brasil:
Prune:
Eu gosto de assistir aos jogos quando é a França ou o Brasil que jogam. Torço mais pelo Brasil. Não tenho camiseta nem outro adereço. Quando assisto gosto de comer em frente à televisão. Eu gostaria de poder ver a copa no estádio, com minha amiga Laura, que está na Rússia, para assistir aos jogos do Brasil, França e México, porque o namorado da Laura é mexicano.”
Coralie:
Curto os jogos da copa do mundo, quando jogam Brasil ou França, também torço mais pelo Brasil. Também preferiria poder assistir no estádio com a Laura, mas só iria aos jogos do Brasil.”
Flore:
O futebol não é meu esporte preferido mas gosto de acompanhar os jogos, principalmente França e Brasil. Torço mais pelo Brasil. Se eu pudesse estar no estádio com nossa amiga Laura, gostaria que o papai e a mamãe fossem junto.”
Mais sobre as crianças e a copa neste link.
O que posso constatar, ao menos do que conheço, é que mesmo entre as pessoas que gostam de futebol e que assistem aos jogos, não há fanatismo, nunca vi nem passeata após um bom resultado da França. Claro, quando olhamos o jornal das 20h, sempre tem uma notícia sobre uma briga entre torcedores adversários, festas de comemoração que acabam mal, mas isso acontece mais nas grandes cidades. Algumas empresas permitem uma certa flexibilidade nos horários de trabalho durante os jogos onde a França joga, mas até onde sei as repartições públicas não alteram seus horários de funcionamento em função da Copa.
3 Comentários
Adorei os depoimentos! Aqui em Nantes também não vejo nenhuma mobilização. Não sabia nem que havia o álbum da copa por aqui, ao contrário do Brasil, onde tinham filas enormes e grupos para trocar figurinhas em diversos lugares. Os mercados mais próximos não possuem nenhum item específico da copa ou da França para vender. Nos dias de jogo do país é um silêncio só… Pelas entrevistas dela, dá realmente para perceber que é algo bem mais adolescente do que infantil, já que nessa época da vida são os hábitos familiares que contam.
To adorando ler os textos sobre o tema!
Obrigada Mariana, o que mais me surpreende também é esse silêncio! Nada de buzinaço, passeata… Discussões nas ruas…
[…] saber mais: Copa do Mundo na França- Crianças e futebol, da colunista […]