Copa do Mundo na Espanha: nossa experiência.
Essa é nossa primeira Copa do Mundo fora do Brasil. E como é diferente na Espanha!
Como o futebol é muito forte na Espanha, eu esperava uma grande animação por aqui. Real Madrid e Barcelona são clubes conhecidos no mundo todo e seus jogadores estão espalhados por diversas seleções presentes na Rússia. Na seleção brasileira temos Marcelo, Paulinho, P. Coutinho e Casemiro. Na argentina temos o Messi, na portuguesa o Cristiano Ronaldo, na uruguaia o Suárez, na croata Rakitic e Modric, na francesa Umtiti, na costarriquense Navas, e por aí vai. Passaram por aqui brasileiros importantíssimos para a história do nosso futebol, como Bebeto, Romário, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho e Neymar. É realmente impressionante a força dos clubes espanhóis.
Porém, a sensação é que essa força e animação estejam presentes muito mais nos clubes do que na seleção.
Diferenças da Copa na Espanha: nossa experiência
Por aqui não tem rua pintada. Não tem folga no trabalho. Não tem dispensa na escola. Não tem bandeira na janela. Não tem fogos. Não tem cobertura exaustiva da imprensa. Não tem o Galvão gritando na televisão. Tem apenas uns gatos pingados de camiseta da seleção, principalmente crianças.
Acredito que essa “apatia” não seja apenas pelo (mau) desempenho da seleção (desclassificada pela Rússia nas oitavas de final), mas seja cultural.
Na estreia, Espanha 3 x 3 Portugal, não ouvimos um gritinho de gol sequer. Isso porque estamos na capital do país, Madri. Se fosse na Catalunha o envolvimento com a seleção seria menor ainda. Pela questão independentista boa parte da população não se sente representada pela seleção espanhola. Nos jornais esportivos da região a copa é mencionada de forma discreta, havendo destaque apenas para Messi e Piqué, craques do Barcelona, clube mais importante da Catalunha.
Mesmo em outras regiões do país a cobertura da imprensa é bem mais discreta do que no Brasil. A seleção só é notícia quando tem jogo. Não fica ninguém filmando 24 horas o hotel onde estão os jogadores, passando o cardápio do dia ou o corte de cabelo do Neymar. A Copa não é capa de jornal todo dia. Outros assuntos, os mais diversos, e outras seleções também são notícia. A vida aqui segue “quase” normalmente. Há algumas promoções em restaurantes, bolão no trabalho e locais de reunião para assistir aos jogos da Espanha, como no estádio Santiago Bernabeu.
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Eles têm muito respeito pela seleção brasileira (que chamam de canarinha) e comemoraram por não ter o Brasil pelo caminho, caso seguissem na competição. Apenas se encontrariam numa eventual final entre as duas seleções. Parece-me que eles acreditam mais na nossa seleção do que nós!
Para nós brasileiros a copa é sempre uma alegria (pelo menos para a maioria de nós, questões políticas à parte). E como passar esse sentimento para o meu filho? Ele tem apenas 16 meses, não vai se lembrar. Mas, acho importante que ele participe dessa atmosfera festiva desde cedo.
Copa do mundo na Espanha: para quem torcer?
Camiseta do Brasil comprada, bandeira, corneta, tudo pronto. Aí teve o jogo da Espanha. Aí teve o jogo de Portugal. E aí surgiu a dúvida: para quem meu brasileirinho de cidadania portuguesa e que mora da Espanha vai torcer?
Será que com nossa opção de morar fora do Brasil estamos tirando dele esse sentimento de pertencimento, de ser parte integrante de uma nação?
Não é possível responder a essa pergunta. Também não é possível saber para quem ele vai torcer ou em que língua será sua primeira palavra.
O que podemos – e acredito que devamos – é o integrar da melhor forma possível à cultura brasileira. Comida, música, livros, filmes, folclore, futebol. Ter sempre o Brasil “por perto”. Mas, também não podemos afastá-lo da cultura espanhola. É aqui que vivemos e também precisamos estar integrados na cultura local. Por enquanto a creche tem nos ajudado bastante, principalmente com a comemoração de festas e feriados. É muito enriquecedor conhecer como comemoram o Natal e a Páscoa por aqui. Ou conhecer algo totalmente novo, como a festa de San Isidro, que me ajudou a entender melhor a cultura madrilenha.
E assim vamos. Uma “simples” Copa do Mundo trouxe tantos questionamentos e aproximou o Brasil um pouco mais do nosso dia a dia.
Boa sorte, Brasil!