California dreams: livros e mais livros para todos
Eu assistia a um programa de TV quando era mais jovem, em que o repórter visitava lugares paradisíacos e retirava destes lugares o que era o mais incrível para ele próprio. Era uma coisa assim “10 POR 1”, dez atrações incríveis para uma pessoa.
Mais do que a linda cidade que tenho o privilégio de admirar, mais do que o Pacífico que aprendi a amar, ou mais ainda do que as estações do ano que adoro, como a primavera e verão, a Califórnia – ou Califa -, que para mim é sensacional é esta que tem várias libraries (bibliotecas públicas) pela cidade.
A Califórnia que aprendia a amar é a que espalha pequenas caixinhas escritas “TAKE ONE. LEAVE ONE” (Pegue um, deixe um). Um o quê? Um livro! Quer alegria maior para uma mãe que ama livros do que ter livros pelo caminho? “No meio do caminho tinha uma pedra”. Ops! Pedra não! Livros! Mas não é só na rua que os encontramos. As crianças são estimuladas todo o tempo a ler, a comprar, a pegar emprestados livros na biblioteca da escola, nas bibliotecas públicas ou no médico em uma simples consulta mensal.

arquivo pessoal
Isso é incrível! Imagina você entrar em uma sala de aula, e nesta sala ter uma biblioteca particular?
Vejo um grande apelo da comunidade daqui de criar nas crianças amor aos livros. Em diversos momentos tive a oportunidade de ir aos dentistas dos meus filhos ou mesmo pediatras, e vê-los conversarem com eles sobre as leituras que eles estão fazendo, presenteá-los com livros ou indicar leituras.
Se toda comunidade que atende a criança se envolve, eu acredito que existe uma grande possibilidade de nascer um ávido leitor.
Não posso dizer que no Brasil não haja engajamento para a leitura. Acompanho diversos trabalhos incríveis de professores, bibliotecários, escritores, contadores de histórias que tentam disseminar o amor pela leitura, pelos livros. Mas sabemos também o quanto o acesso ao livro é caro, o quão escassa é a oferta de bibliotecas públicas nas cidades. E, infelizmente, o quanto nossos governantes ainda não entenderam que somente com educação de qualidade nosso país terá a possibilidade de dar um salto para um futuro melhor.
Aqui nos EUA, os meninos aguardam ansiosos pelas diversas feiras do livro que a escola promove ao longo do ano. Eles juntam dinheiro, leem diariamente e compartilham suas impressões de leitura. Além do acesso gratuito às bibliotecas públicas, com “story time”, e a opção de pegar até 100 livros emprestados de uma única vez. Não pegamos tanto. Pegamos geralmente sete livros para cada um. É um livro por dia!
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No ano escolar que acabou em junho de 2018, meus dois meninos foram premiados com um dia inteiro em um parque temático por terem lido bastante ao longo do ano. Sei que alguns podem dizer: “Ah! Mas estão fazendo barganha com as crianças.” Pode até ser. O que eu sei é que eles se sentiram desafiados, estimulados e conquistaram através da leitura um primeiro prêmio. Isso para mim é sensacional! Vê-los usufruindo de um dia em família porque leram bastante! Quer coisa melhor?
Essa é a Califórnia que adoro! E este é o desejo que tenho para o meu Brasil, afinal, Castro Alves já dizia em 1870:
Oh bendito o que semeia livros, livros à mão cheia. E manda o povo pensar! O livro caindo n’alma, é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar.”
Sim, claro que amo o mar, gosto pouco do frio, as pessoas são amigáveis… mas esse amor que eles insistem em nutrir pelos livros, ou a acessibilidade que nós e nossas crianças temos aos mais diversos tipos de textos, livros, escritores, ilustradores, e tudo isso, de graça, é incrível e fala alto ao meu coração!
Este não é só o “California Dreams“, mas é o meu “Brazil Dreams“. Monteiro Lobato, pai da literatura infantil no Brasil já explicitava:
Um país se faz com homens e livros.”
Os livros podem ser a arma que precisamos em nosso país para vencer tantos obstáculos, diferenças e desigualdades. Essa não deveria ser uma utopia, mas uma realidade.
Aqui na terra do Tio Sam, as crianças têm acesso a livros no meio da rua, a feiras do livro com preços acessíveis, a livros de qualidade, e são inspirados pelos professores, bibliotecários, pediatras, dentistas e pais a ler, ler e ler.
Este é o Brasil que quero para mim e para os meus filhos. E você, qual Brasil quer deixar de herança para a próxima geração?
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