Moro na região Bretanha, na França, há seis anos. Aqui os nativos são muito ligados às suas origens e defendem a sua terra com unhas e dentes. O bretão é uma língua falada há mais de 1500 anos. De origem celta, é específica da Bretanha (região no noroeste da França). Hoje cerca de 225.000 pessoas falam o idioma. Como as demais línguas celtas, o bretão historicamente provém das ilhas britânicas.
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Toda a primeira metade do século XX foi marcada pelo esforço em reavivar a língua bretã. Em 1931, François Vallée publicou um dicionário que até hoje é referência e em 1992 Francis Favereau editou o dicionário de bretão contemporâneo.
Existem também alguns dialetos, mas as principais diferenças entre eles são a pronúncia e o acento tônico. O vocabulário e a gramática variam pouco, de forma que os falantes de dialetos diferentes entendem-se facilmente.
Devido à ausência de um estatuto legal e à exclusão quase total da língua da vida pública, assim como à exclusão do seu ensino alguns anos atrás, a transmissão familiar foi diminuindo a partir dos anos 50. Por essa razão, a Unesco classificou o bretão como uma língua em sério perigo de extinção.
Volta às origens
Entretanto, a partir dos anos 80 começou um movimento de volta às origens e o bretão entrou novamente no currículo escolar de alguns estabelecimentos bilíngues. O número de adultos que se interessa pela língua aumenta a cada ano e publicamente o idioma é cada vez mais usado. Ainda assim, hoje o bretão é a única língua celta sem um estatuto legislativo.
Escolas bilíngues (francês-bretão)
A região da Bretanha, ciente da importância de manter e desenvolver a língua bretã, segue uma política ativa em prol da transmissão da língua, via ensino bilíngue, do maternal ao secundário.
O ensino do bretão existe no ensino público, particular e na rede Diwan (rede de ensino à parte, pública, que propõe ensino em imersão, sob a direção do ensino público nacional).
Hoje em dia mais de 18.000 alunos estudam nas mais de 570 escolas bilíngues da região, repartidas em 180 cidades da Bretanha. Aqui na minha cidade, Concarneau, conheço uma escola pública e uma particular que oferecem classes monolíngues e bilíngues.
O bretão no cotidiano
Apesar das dificuldades, por iniciativa das comunidades locais a visibilidade da língua aumentou nos últimos 30 anos. Atualmente, por exemplo, em três dos quatro departamentos da região Bretanha (Finistère, Morbihan e parte oeste de Côtes d’Armor), as placas de indicação no trânsito devem obrigatoriamente estar escritas nos dois idiomas (francês e bretão). Além disso, os municípios também aderiram criando placas de acesso e saída bilíngues. O nome da cidade onde moro, por exemplo, em francês é “Concarneau” e em bretão, “Konk-Kerne”.
Gradativamente, outros serviços também adaptaram seus conteúdos aos dois idiomas, como painéis eletrônicos, placas de rua, sites da Internet etc.
Os símbolos “Breizh” (Bretanha em bretão)
“Gwen ha du” (a bandeira)
São nove tiras, alternadamente pretas e brancas, acompanhadas de uma estampa que representa a pele de um arminho. É uma bandeira que simboliza a diversidade e a unidade.
O arminho é um mamífero carnívoro pertencente à mesma família dos texugos e furões. Há muito tempo esse animal entrou na história da Bretanha e já fez parte de brasões de duques no século XIII. A estampa refere-se à sua cauda, que no inverno é a única parte da pele que permanece preta, representando a pureza.
O Triskell

Triskell, símbolo celta. (Fonte: Pixabay)
Símbolo celta com três ramos. Existem diversas interpretações para esse símbolo. A primeira e mais popular é que as três partes representam a água, a terra e o fogo. Outra corrente defende a ideia que se trata do céu, da terra e da água. Uma terceira interpretação possível é de que os ramos representem os três principais deuses da religião celta: Lug, Ogme e Dagda. Há ainda quem defenda o símbolo do sono, do sonho e do despertar. Também cogita-se a hipótese que esse símbolo represente o ciclo da vida: a infância, a vida adulta e a velhice, ou ainda passado, presente e futuro. E há também os simplistas que acreditam que o Ttriskell é simplesmente inspirado em um trevo.
O Triskell, com suas curvas, representa o dinamismo e o entusiasmo, contrariamente às cruzes, que não transmitem ideia de movimento. A rotação do Triskell tem também um significado: as espécies de hélices devem girar sempre no sentido contrário aos ponteiros do relógio (paz). Se elas girarem do lado oposto, diz-se que é sinal de guerra ou conflito.
A cruz celta

Cruz celta. (Fonte: Pixabay)
O significado de cada barra não é claro, poderia ser uma referência aos pontos cardinais ou às quatro estações ou, ainda, ter uma relação com os planetas. Quanto ao círculo, simboliza o mundo que nos cerca, o conhecimento, o universo, mas também remete à roda, muito presente na tradição celta.
Curiosidade: nome bretão
Muitos são os pais que aqui escolhem dar um nome de origem bretã ao seu filho. Os nomes de origem bretã são em geral curtos e harmoniosos. Vários nomes masculinos podem se transformar em femininos, acrescentando-se um “a” no fim (exemplo: Brendan – Brendana). A marca do diminutivo é o “ig” (Yann – Yannig, Anna – Annaig).
Alguns nomes que encontro com frequência por aqui:
Menino Menina
Armel | Annick |
Erwan | Enora |
Gaël | Lenaïg |
Maël | Maëlys |
Nolan | Morane |
Titouan | Rozenn |
Yannick | Solenn |
No texto do próximo mês pretendo falar sobre a dança tradicional bretã, seus trajes típicos e sua a música!
Kenavo! (Até logo)
5 Comentários
Eu adoro a cultura celta! Muito bom saber essas curiosidades! Obrigada 🙏🏻
Bom dia, Zandra! Eu estive na Bretanha em 2015 e a região é belíssima… Sempre fui encantada com o “gorro” que as mulheres bretãs antigas usavam… Eu tive um sonho, há muito tempo, antes de conhecer a região, em que eu usava esse gorro… Mas qdo estive na Bretanha, não consegui descobrir o nome desse gorrinho branco que elas usavam…vc saberia me dizer o nome, ou a origem desse gorro? Merci beaucoup !!
Jucimara, meu próximo texto vai falar sobre isso!!! Não vou estragar a surpresa:)
Obrigada por prestigiar nosso grupo de Mães Mundo Afora.
[…] falei neste texto do mês passado, a região da Bretanha tem uma cultura bem própria. Existe até piada em torno do […]
[…] Leia ainda: Bretanha: cultura e língua celtas na França […]