Morar em outro país é desafiador. A adaptação demanda muito de toda família e por isso é fundamental encontrar uma rotina. Quer saber mais sobre a rotina da uma família brasileira na Holanda? Conto para vocês no artigo de hoje.
Sempre que vamos de férias para o Brasil recebemos perguntas sobre o nosso dia a dia em outro país. São perguntas como: o que vocês comem? Como é a escola? No supermercado tem itens brasileiros? As pessoas são mesmo tão frias na Europa? É fácil fazer amigos?
Eu entendo muito bem esse tipo de curiosidade porque, apesar de muita gente já ter visitado algum outro país como turista, quando você mora é diferente. Quando você tem uma vida e uma rotina estabelecida, você conhece melhor a cultura do lugar, o jeito que as pessoas vivem, a alimentação e também como se relacionam.
O dia a dia
Eu e meu marido somos brasileiros e meus dois filhos, apesar de terem nascido na Alemanha, têm nacionalidade brasileira. Por sermos uma família integralmente brasileira acho mais fácil e natural termos uma rotina mais ligada aos costumes do Brasil.
O nosso dia a dia é basicamente o mesmo do que se morássemos no Brasil. Acordamos, os adultos vão trabalhar e as crianças vão para a escola. Vou me prender aos detalhes que fazem a diferença. A escola da nossa região começa às 8h30 e vai até as 15h. Dois dias na semana – quartas e sextas – a aula termina às 12h15 (em muitas escolas da Holanda, o dia de aula só é mais curto na quarta-feira). Minha filha mais velha tem 4 anos e está no primeiro ano escola, o Grupo 1 aqui na Holanda. O meu filho mais novo, de 2 anos, vai para a pré-escola duas vezes na semana por algumas horas pela manhã.
Começando o dia, tomamos café da manhã juntos, geralmente suco, frutas, pão e café. Levo as crianças a pé para a escola porque moramos bem pertinho. Isso é um grande diferencial de muitas famílias no Brasil (pelo menos nas grandes cidades). Trabalho em casa, então volto e faço as tarefas do dia. À tarde, busco minha filha e me dedico a eles.
Ao final da tarde, meu marido volta do trabalho às 18h e fica com as crianças enquanto eu organizo o jantar. Aqui, mais dois pontos de destaque: geralmente o expediente na Holanda termina cedo, entre 17h e 18h, o que possibilita que a família esteja reunida para o jantar. E, apesar do meu marido trabalhar entre Eindhoven e Amsterdam, cidades diferentes de onde moramos, ele sempre chega logo por que quando usa o transporte público é sempre eficiente e de carro as estradas são seguras e tem um bom fluxo. Por fim comemos juntos, as crianças tomam banho e vão para cama.
Um dia típico é assim como descrevi, mas nem todo dia é assim, claro. Temos rotina, mas se por acaso sairmos dessa sequência, está tudo bem também!
Os fins de semana
Talvez o que mais tenha diferença na nossa vida aqui sejam os finais de semana. No Brasil, fim de semana quer dizer casa de vó, encontro com amigos, churrasco, piscina, festas de aniversário e comemorações. Aqui a gente não tem família por perto, os amigos são poucos e não tão animados como no Brasil!
Aproveitamos o tempo livre de sábado e domingo para explorar. Como tudo é perto por aqui, estamos sempre viajando e conhecendo as cidades da Holanda. Quando morávamos na Alemanha era a mesma coisa. Existem cidades lindas no interior que valem a visita de um dia só. Como estamos no sul dos Países Baixos, o norte da Alemanha está a apenas meia hora daqui. A Bélgica também é perto e podemos passar um dia em algum lugar por lá. Há fins de semana que vamos passear num parque ou em algum museu, quando não estamos muito dispostos para viagens.
A alimentação
Uma dúvida muito comum é sobre o que comemos. Como eu disse, por sermos uma família brasileira, comemos muito parecido com o que comeríamos no Brasil. Cozinho arroz, feijão, carne e legumes que compro no supermercado holandês. Sempre trago do Brasil meus temperos favoritos e isso faz a comida ficar com um gostinho mais parecido, apesar dos ingredientes serem daqui.
Existem supermercados com comida local e existem mercados menores que vendem ítens internacionais. Aqui na Holanda são mercados chineses, africanos, cabo-verdianos ou turcos que têm produtos do Brasil e Portugal ou similares. Aqui, estes mercados são chamados de Toko. Em Amsterdam e Rotterdam, há a opção do supermercado brasileiro Finalmente Brasil, que também possui loja online. Para quem mora em Rotterdam há ainda a opção do Euro Africa, que fica na mesma rua da Finalmente Brasil e vende carnes para feijoada e até queijo minas!
Sou mineira e cresci comendo biscoito, bolo e pão de queijo. Sempre faço esses quitutes com ingredientes que encontro por aqui. Fica tudo gostoso, bem parecido com o que minha avó fazia! O paladar vai se adaptando e com o tempo já não se percebe a diferença.
Viver em outro país é descobrir um mundo novo, mas aos poucos, na tentativa e erro, a gente vai descobrindo que tudo é bem parecido. E a adaptação vai acontecendo.
Mas é importante dizer que alguns pontos da cultura são bem diferentes e não há nada que eu possa fazer, como por exemplo, almoço na escola. As crianças passam três dias quase inteiros na escola por semana. E para o almoço tem que levar um sanduíche e algum legume (tomatinhos cereja, pepinos e cenourinhas são os mais comuns no lanche da criançada daqui), nada que precise usar talheres nem que precise esquentar. Sim, aqui na Holanda, e na Europa em geral eu diria, as pessoas não almoçam comida quente como no Brasil. Comem um sanduíche. O holandês, especificamente, é conhecido por só comer pão no almoço. Comida só no jantar.
A relação com as pessoas
De um modo geral, as pessoas são mais reservadas por aqui. Mas tudo tem exceção e pude constatar que em algumas áreas na Europa as pessoas são mais ou são menos simpáticas do que em outras regiões.
No interior da Alemanha, geralmente, as pessoas são mais ríspidas, não conversam muito. Mas fiz grandes amigos por lá, também de outras nacionalidades, pois uma vez que você convive com eles, tem bons amigos para sempre.
Aqui no sul da Holanda, mais do que em Amsterdam, ao meu ver, as pessoas são mais abertas, adoram conversar, perguntar sobre sua vida e te dão bom dia na rua. Eles te tratam bem e te convidam para um café em casa. Falar a língua local é um fator extremamente importante para esse bom relacionamento e para o sentimento de pertencimento ao lugar. Recomendo muito aprender pelo menos o básico.
Na escola dos meus filhos, as crianças se dão muito bem com estrangeiros. No pátio, ao terminar a aula, combinam de se encontrar para brincarem juntos. Estão sempre na rua de casa andando de bicicleta.
Espero ter descrito um pouco da nossa rotina por aqui. Mas se você ainda tem alguma dúvida ou curiosidade sobre o dia a dia de uma família brasileira na Holanda, faça sua pergunta nos comentários.
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