Sou a Rachel, brasiliense, pedagoga e psicóloga, com pós-graduação em Neuropsicologia. No Brasil, trabalhava com Educação Especial. Desde o Ensino Médio já sabia qual seria a minha profissão. Eu gostaria de ser fonoaudióloga. Fui influenciada por um colega com surdez e pela leitura de um livro chamado Xamã, escrito por Noah Gordon, no qual o protagonista tinha deficiência auditiva.
Infelizmente, em Brasília não havia o curso de Fonoaudiologia, então optei estudar Pedagogia na Universidade de Brasília, com a habilitação na escolarização do estudante com deficiência intelectual. Ao mesmo tempo, iniciei o curso de psicologia noturno no UNICEUB, uma universidade particular. Fiz concurso público para a Secretaria de Educação do Estado do Distrito Federal e escolhi trabalhar num Centro de Ensino Especial. Aí me apaixonei de vez pelo tema da Educação Especial…
E as crianças com deficiência auditiva? Nunca atendi ninguém. Apenas pessoas com múltiplas deficiências, com Transtorno do Espectro Autista e com deficiência intelectual. Falando em Educação Especial, tenho um lindo filho de 10 anos que tem o diagnóstico em Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas a minha paixão pelo tema iniciou-se muito tempo antes dele nascer.
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Também tenho uma filha apaixonante de 8 anos. Atualmente moramos em Los Angeles, mas já morei Washington e Santiago devido ao trabalho do meu esposo. Nesses momentos em que estamos fora do Brasil, eu me reciclo profissionalmente, faço trabalhos voluntários nas escolas dos filhos e curto a maternidade.
Sinto-me mais tranquila sem ter que preocupar com o meu trabalho, mas continuo dando apoio aos pais com filhos com Transtorno do Espectro Autista e às minhas colegas de profissão.
Costumo dizer que a minha casa está preparada para a companhia de mudança vir empacotá-la a qualquer instante e toda mudança é uma renovação de hábitos e aprendizagens culturais.
Aproveito as mudanças para aprender e observar coisas novas,: as receitas dos países em que vivo, como funciona a escola e as relações sociais que ocorrem dentro da mesma, como é a relação da sociedade com a pessoa com deficiência, como a sociedade enxerga o estrangeiro…
Meus hobbies não são muitos, mas amo ler livros da minha área, estar ao ar livre com minha família, fazer arts e crafts com a minha filha, brincar com o meu filho, fazer amigos e viajar. Adoro jogos de tabuleiro, mas na era da informática confesso que está difícil jogar com a família. Depois do jantar, cada componente “gruda” numa tecnologia e aí não consigo juntar a família novamente. Acredito que os temas viajar e passear no final de semana são os que nos fazem ficar unidos.
Penso que essa vontade louca de viajar é genética. Os meus pais estavam sempre prontos para viajar e tinham uma frase interessante que sempre ecoava nos meus pensamentos: “Filho meu não fica de recuperação, se ficar, ficará na Brasília chuvosa nas férias!”.
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Tínhamos um trailer para os acampamentos. Era muito comum meus pais buscarem a gente na escola nas sextas-feiras ou véspera de feriados, com o trailer suprido com mantimentos e com as nossas roupas. E nele descobrimos muitos locais no nosso Brasil.
Eles nos ensinavam a história e geografia do Brasil in loco. Tenho a imagem até hoje da gente chegando em Santa Cruz Cabrália e o meu pai falando: “Aqui é a terra do descobrimento! Quem achar um pau brasil, ganha sorvete no almoço!!!”

Minha família em uma de nossas aventuras de infância a bordo do trailer. (arquivo pessoal)
Eles pediam para a gente estudar para passarmos direto e irmos viajar os dois meses de férias. O mesmo acontecia em julho. Não podíamos ficar de recuperação. E viajar era a nossa recompensa. Hoje entendo porque acampávamos tanto. Era uma forma de meus pais propiciarem as férias sem onerar muito. Ficávamos juntos 24/7, jogávamos muito e nos ensinavam muito.
Fui criada numa família numerosa, comparando com os padrões de hoje. Somos quatro filhos. Então era muito comum um usar a roupa que era do outro, ir passando para o mais novo. Dividir igualmente o pacote de biscoito! Acho que isso me fez ser simples. Não gosto de guardar muitas coisas. Se não preciso, não compro. Se não uso, eu doo.
A minha família é muito importante para mim e eu cultivo o companheirismo diariamente, o conceito de equipe e a necessidade de estarmos juntos para um apoiar o outro. E a casa está sempre aberta para os amigos, familiares e para novas amizades. E a partir de hoje, espero compartilhar com vocês aqui no Mães Mundo Afora a nossa experiência como família vivendo em várias partes do mundo e também minha experiência profissional com psicologia, pedagogia e educação especial. E podem deixar nos comentários sugestões de temas que gostariam de ver abordados nesse espaço 😉
3 Comentários
Parabéns pelo texto, Rachel!
Eu, como mãe de um rapazinho autista, fico com o coração cheio de esperança quando leio relatos como o seu, que escolheu a educação especial como profissão. Não é muito fácil achar professores que estejam prontos (profissional e emocionalmente) pra lidar com nossos pequenos.
Bem vinda!
Obrigada Nayara! Estamos juntas nessa caminhada! A Educação tem que entender que estamos na era da inclusão. O profissional da educação tem que gostar do que faz e sempre se reciclar.
Parabéns pelo texto! Ansiosa pelos próximos artigos ! Beijos e abraços aqui de São Paulo 😘