Nosso encontro com o autismo
Coração de mãe não se engana…
Observei que meu filho aos 12 meses não sabia brincar, não “pedia” colo com os bracinhos, não apontava e estava muito longe de andar. Ao mesmo tempo, observei que nenhuma outra criança de 12 meses falava tão bem quanto ele. Ele já conseguia se comunicar através de frases com 3 ou 4 palavrinhas.
Não sabia ao certo o que era, mas senti que tinha alguma coisa diferente com ele. Foi quando minha mãe, sutilmente, levantou a possibilidade dele ser autista. Autismo? Tipo aquele cara do filme Rainman? Mas ele se comunica, olha no olho e responde quando chamamos o nome dele… não pode ser autismo!
Ao assistir vídeos no Youtube sobre autismo e observar crianças no espectro autista brincando, pouco a pouco fui me convencendo de que meu filho poderia ser autista. Mas o que significa isso pra ele e para a nossa família? Educação, futuro, nível de independência dele e todas as outras coisas mais?
Como funciona o diagnóstico na Inglaterra
Não sei como funcionam essas coisas no Brasil, mas aqui na Inglaterra, pelo menos na nossa experiência, os profissionais de saúde só fecham um diagnóstico de autismo quando a criança faz 3 anos. Confesso que não aguentei esperar; pensei, se for autismo, quanto antes a gente intervir com atividades e terapias, melhor. Estava decidida a fazer o que fosse preciso para ajudá-lo.
Ainda aos 2 anos levei meu filho ao pediatra e à psicóloga infantil (ambos médicos privados) para iniciarmos observações. Ao completar 3 anos, em julho, começamos, então, as etapas necessárias para que se fosse feito um diagnóstico.
Aqui em Londres, o diagnóstico é feito através de várias etapas diferentes e, geralmente, são 2 ou 3 médicos trabalhando juntos. No nosso caso, foram sessões de observação na creche, no consultório e em casa. Além de entrevistas com os pais e um teste chamado ADOS, feito pela psicóloga em conjunto com uma neurologista.
O diagnóstico
Lembro como se fosse hoje o dia 12 de setembro. No dia anterior ele tinha começado na pré-escola e, no dia 12, o diagnóstico foi confirmado. Aqui eles chamam de high functioning autism, há quem chame de aspergers. Pra mim, meu filho é um menino de 3 anos, dono de uma mente brilhante, que se comporta como um jovem adulto e prefere estar entre adultos, pois dialoga de igual pra igual.
Diferente dos seus coleguinhas, em sala, sempre opta por jogos com números ou atividades que estimulam seu raciocínio lógico. Não entende o mundo do faz de conta; nas terapias, durante as sessões de faz de conta, tem grande dificuldade para criar histórias ou situações imaginárias. Sabe todos os episódios de Peppa Pig de cabeça e consegue memorizar qualquer coisa sem grande dificuldade.
E o que isso significa para nós, pais de 1ª viagem, sem auxílio de familiares, morando no exterior?
Logo que a ficha caiu, pensei: vou embora para o Brasil, vou parar de trabalhar e me dedicar exclusivamente a ele. No entanto, ao entender que na verdade não havia nada de errado com meu filho e que ele é apenas diferente, comecei a ver que autismo não é bicho de sete cabeças. E que aqui em Londres não existe tabu a respeito da condição.
E as oportunidades são infinitas: terapias, grupos de apoio, sessões de cinema autism friendly (sessões adaptadas para as necessidades de autistas), espaço reservado no soft play (parquinho fechado) para crianças com autismo, sessões sensoriais. Enfim, a inclusão dessas crianças é um assunto muito sério. Na medida em que fomos conversando e compartilhando a nossa história com amigos e com a escola, fomos abraçados por pessoas e profissionais que queriam muito nos ajudar.
Leia também: Inclusão de crianças com necessidades especiais nas creches de Genebra
Quem o conhece observa duas coisas: a fluência na sua comunicação e que ele é carequinha do lado direito – pois arranca os cabelos quando está ansioso. As questões sensoriais e de relacionamento, que efetivamente o colocam no espectro, são menos aparentes para aqueles que não estão com ele todo dia.
A cada dia vamos aprendendo mais e desenvolvendo atividades para ajudá-lo com as dificuldades. Nos últimos 8 meses, por estar em licença-maternidade, pude me dedicar exclusivamente aos meus filhos. Então, diariamente, exercitamos essas questões sensoriais e de relacionamento que são difíceis para ele.
Confesso que essa jornada, desde o nosso encontro com o autismo até hoje, foi bastante árdua. Por outro lado, vendo o progresso diário dele e as nossas vitórias, sinto-me recompensada. Mais do que nunca, estou convicta de que o fato de morarmos em Londres ajudou muito.
6 Comentários
Oi, Joana.
Muito legal a descrição da sua experiência acima.
Pelo que vi, nossas vidas possuem diversos paralelos. Meu nome é Cristiane e também moro em Londres; meu filho de 8 anos foi diagnosticado com Asperger ainda no Brasil aos 3 anos.
Na verdade, te escrevo pois gostaria de entrar em contato e te solicitar algumas indicações de profissionais qualificados aqui por aqui.
Um forte abraço.
claro! estou as ordens. me passa whatsap 07964544183 e a gente conversa. trabalhamos com pessoas excelentes aqui.
[…] Para ler mais sobre o tema: Autismo na Inglaterra. […]
Olá Joana, muito bom seu post. Eu moro no Canadá e meu marido está pensando em ir trabalhar em Cornwall. Meu filho de 6 anos foi diagnosticado aqui aos 2 anos. Ele recebe terapia ABA e outras. Você poderia me dizer como funciona o tratamento por ai? Eh subsidiado pelo governo ou eh particular? É dificil achar profissionais da área? E na escola? Eles recebem suporte na sala de aula também? Desculpa por tantas perguntas, mas já agradeço qualquer ajuda. Danielle
Prezada Danielle,
Infelizmente a Joana precisou dar um tempo em sua colaboração. Pedimos desculpas por näo termos como responder às suas perguntas.
Um abraço,
Equipe do BPM Kids
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