Início de ano com hábitos novos para uma melhor maternidade !
Cada olhar, gesto, abraço ou uma alteração comportamental é uma forma de comunicação não verbal. Você não precisa falar para se comunicar, conceito apresentado no livro O Corpo Fala, de Pierre Weil e Roland Tompak.
Já observou que o seu estado de humor tem uma influência direta nos comportamentos dos seus filhos? E que ele (ela) tendo comportamentos inadequados (birra, agressão e outros) deixa todo mundo da família com os nervos à flor da pele?
No caso de família com crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o núcleo familiar é o elo mais importante para a criança, muitas vezes, a figura materna é a pessoa que passa mais tempo com essa criança, anulando a sua individualidade em prol do bem-estar da família e dessa criança.
Até 2010, acreditava-se que a incidência de divórcio era de 80 por cento nas famílias americanas com crianças com TEA, ou seja, muitas famílias viviam o luto do diagnóstico e também de um possível divórcio. Esse dado já é considerado um mito. Uma nova pesquisa, demonstra que agentes estressores podem facilitar a ruptura. No entanto, a comunicação entre parceiros é a melhor forma de manter o núcleo familiar coeso. Notícia excelente! Agora, coloca uma pitadinha de preocupações.
Pequenos momentos com grandes níveis de ansiedade
Convido você a fazer uma pequena reflexão do seu dia. Quantas vezes o seu coração palpita mais forte? Você sente melancolia, ansiedade ou agitação?
Ilustro alguns exemplos que vivencio. Acredito que você poderá se enxergar em algumas situações, caso seja responsável por uma criança com TEA ou outros quadros assemelhados.
Cada ligação da escola faz com que o meu coração bata de forma acelerada. Penso sempre em algo negativo antes de atender. Cada vez que abro a mochila para ler o diário de comunicação entre família e escola, é como se eu tivesse abrindo uma caixinha de surpresa.
Da mesma forma, procuro a muda de roupa suja para ver se houve algum acidente na escola. Abro a sua lancheira para verificar se comeu bem. Fico atenta durante à noite para ver se está dormindo profundamente. Se possível, corto sua unha na calada da noite, para evitar futuros arranhões em terceiros.
O caminhar no shopping, supermercado ou museu é extremamente estressante. Temos que antecipar todas as variáveis do ambiente para que tudo corra bem, para que ele fique tranquilo e para que possamos propiciar atividades prazerosas para ele e sua irmã. Esperar na fila é estresse. Não entende porque fica em pé parado por muito tempo, zangando-se facilmente, apresentando comportamentos autolesivos.
Acordo à noite pensando como será o futuro. Como ele ficará quando eu não estiver mais aqui? O que posso fazer para ele se tornar independente?
Listei apenas algumas das inúmeras preocupações. Acredito que outras mães, pais e ou cuidadores de crianças com TEA ou outros quadros assemelhados também se sentem da mesma forma: cansados e com muitos questionamentos sem respostas.
Dados concretos não negam o cansaço infinito
Navegando pelo site National Institutes of Health, existem vários artigos que correlacionam estresse, ansiedade, depressão e alterações no nível de cortisol entre as famílias que possuem filhos com Transtorno do Espectro Autista.
Recentemente, nos grupos sociais começaram a compartilhar que “Mães de crianças com autismo apresentam estresse similar a de um combatente na guerra.” Esse estudo foi publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders.
No estudo, um grupo de mães com filhos jovens e adultos com TEA foram acompanhadas por oitos dias seguidos. No final do dia, respondiam perguntas sobre as suas experiências diárias. Nos últimos quatro dias, foram submetidas a exames hormonais para verificar o nível de estresse. Verificaram que os hormônios associados ao estresse estavam extremamente baixo, como em pessoas que sofrem doenças crônicas e como em combatentes. Taxas extremamente baixas que podem afetar a regulação da glicose, atividade mental e sistema imunológico.
Indico duas pesquisas para leitura sobre o assunto. Para acessá-las, clique aqui e aqui.
E agora? O que fazer?
No meu caso, tudo começou quando fui procurar uma foto legal para colocar aqui no perfil do Mães Mundo Afora. Percebi que não tinha foto minha, apenas das crianças. As poucas fotos que encontrei, demonstraram que estou acima do meu peso. Comecei a refletir sobre as minhas noites de sono, as quais não eram as melhores possíveis.
Em alguns eventos sociais, eu não conseguia conversar com pessoas sobre assuntos comuns. Eu apenas interagia quando era para conversar sobre os filmes infantis, os desenhos do Netflix e atividades ligadas aos pimpolhos. Percebi que tenho mapeado grande parte dos parquinhos de Los Angeles e também os banheiros públicos para levar os meus filhos.
O meu foco passou a ser os filhos desde o nascimento. E eu, o grande pilar da casa, estava perdendo a minha forma de ser. A partir do momento que iniciei o processo de autorreflexão e de autocuidado, comecei a gostar mais de mim. Como consequência, iniciou-se uma avalanche de acontecimentos positivos.
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Então, o objetivo do meu texto é te convidar a se perceber. Não espere segunda-feira ou o próximo ano novo. Não demore para iniciar esse processo de cuidar de si. Lembre-se dos seus sonhos. Não se anule. Faça atividades prazerosas. Tome um cafezinho com alguém querido. Aproxime-se de pessoas do bem. Presenteie-se. Caminhe num local bonito. Almoce acompanhada de um bom livro. Use diariamente aquele perfume que utiliza para ocasiões especiais. Faça atividade física. Visite o seu médico. Aconselhe-se com profissionais. Estabeleça um canal de comunicação sincera com a pessoa que ama. Seja sincera consigo!
Permita-se fazer coisas que tem vontade, sem se sentir culpada. Uma horinha longe das suas crianças, não tem problema! Você vai se sentir bem e mais feliz. Os seus filhos irão absorver a sua mudança, e irão te agradecer. Viva! Energize-se para continuar essa linda caminhada chamada maternidade.
E Feliz 2020 para todos nós!!!
10 Comentários
Obrigada pela reflexão.
Querida Márcia, de nada! O texto foi feito com muito carinho! É um alerta para nos cuidarmos, e o tempo passa rápido como num piscar de olhos… Beijos e feliz 2020!
Sensacional! Que texto maravilhoso! Olhar amoroso articulado com embasamento teórico. Gratidão por compartilhar conosco suas experiências e conhecimentos. Um excelente 2020 para você e sua família. Bjos
Querida Suliane, obrigada pela sua mensagem! Sou sua fã! Adorei a sua Live no Mães Mundo Afora. Um abraço! Feliz 2020
Muito bom teu texto. Tambem observei que quando estou estressada ou irritada minhas filhas se comportam de maneira insolente e agressiva. Somos todos imas e atraímos o que irradiamos.
E cuidar de si mesmo, alem de salutar, melhora nosso humor e em consequencia das pessoas que nos rodeiam.
Querida Zandra, obrigada pelo feedback! É impressionante como os pequenos absorvem tudo, né? Nessas horas é bom ter uma atividade na manga, a qual consigam executar sozinhos. Feliz 2020
Querida Raquel,
a sua contribuição ao nosso trabalho cotidiano segue mesmo com você distante. É excelente perceber que as vivências individuais podem auxiliar na redução do sofrimento alheio, alhures. Parabéns pelo texto, pela coragem, pela tenacidade!
Querida Vicenza, fico feliz em ler o seu comentário. Esse texto foi escrito com muito carinho e com muito desejo de que o pessoa que cuida, cuide de si, sempre. Nós, cuidadoras, tendemos a nos deixar…e a vida passa.
[…] Leia também: Início de ano com hábitos novos para uma melhor maternidade […]
[…] Num texto que já escrevi para o Mães Mundo Afora, apresentei uma pesquisa que comparava o estresse das mães de criança com transtorno do espectro autista com o de combatentes na guerra. Deixo o link do texto aqui. […]