Advogar em causa própria: em defesa dos seus direitos
Imagina você pequena ser forçada a comer comida que não gosta? Enfiarem na sua boca à força? Imagina ter que vestir roupas impostas por sua mãe, enquanto suas amigas da escola se vestem e escolhem o que querem vestir? Imagina você ser interrompida no meio de uma conversa e não ter a chance de retornar para concluir a sua fala?
O que você faria se tivesse no lugar dessas pessoas? Falaria que não vestiria a roupa, que não experimentaria a comida, pediria firmemente licença e diria que foi interrompida? Daria uma birra enorme na hora da refeição, jogaria a roupa no chão, sairia do local da conversa e deixaria as pessoas? Com certeza cada pessoa reagiria de forma diferente. Tudo depende do repertório comportamental de cada uma.
O que é ser self advocate ou autodefensor?
Podemos definir self advocate ou autodefensor como uma pessoa que advoga em causa própria. Significa falar por si mesmo, expor e defender os seus próprios interesses. Em muitos casos, podemos substituir por autodeterminação. O self advocacy surgiu em função dos movimentos de direitos civis nos Estados Unidos, em meados dos anos 60 e faz parte do direito das pessoas com deficiência.
Aprender a ser autodefensor desde pequeno
Advogar em causa própria é uma habilidade que pode ser ensinada para qualquer criança. As habilidades podem ser trabalhadas desde pequeninos, quando se deparam em algumas situações que precisam se autodefenderem.
A escuta ativa dos pais, a formação de um autoconceito positivo, assim como a modelagem para a construção de argumentos de forma adequada, a construção de estratégias para solucionar situações problemas e a possibilidade de escolhas ajudam a criança a ir construindo a fundação para ser um self advocate na adolescência e na vida adulta.
De acordo com Phillips (2001), em seu estudo A Self-Advocacy Plan for High School Students with Learning Disabilities: A Comparative Case Study Analysis of Students’, Teachers’, and Parents’ Perceptions of Program Effects, indicou que advogar por causa própria é importante para estudantes adolescentes com dificuldades na aprendizagem para atingir a maturidade, confiança e o senso de identidade.
Autodefensoria no ambiente escolar
Para que o estudante com deficiência seja autodefensor é importante que saiba as suas potencialidades e dificuldades, tenha conhecimento das modificações e acomodações de acordo com a sua necessidade, compreenda os seus direitos. Por fim, que tenha habilidade para solicitar informações, assistência e as acomodações.
O estudante é incentivado a participar da reuniões do Plano Educacional Individualizado aqui nos Estados Unidos. É um direito que ele tem assegurado pela Individuals with disabilities Education Act. Ele faz parte do time com o mesmo peso que os outros profissionais.
Mudanças na minha casa
Desde o diagnóstico do meu filho, venho trabalhando para que ele atinja o seu potencial máximo, que seja o mais independente possível e que seja feliz.
Em julho, fará um ano que ele iniciou a Comunicação Alternativa Aumentativa (CAA) de alta tecnologia. Antes, ele utilizava outros tipos de CAA somente para pedir algo. Ele pedia, ele recebia. Atualmente, ele descreve, comenta, chama a atenção de terceiros, faz solicitações e CONTESTA.
Durante a aula online, a fonoaudióloga educacional perguntou se ele queria responder a uma atividade e ele apertou o botão NÃO. Ela disse que estava tudo bem e que depois voltaria a perguntar. Eu fiquei intrigada!
Confesso que num primeiro momento pensei que ele iria deixar de fazer a atividade, mas depois de alguns minutos, entendi que ela estava validando a sua comunicação e respeitando os seus desejos. Depois de alguns minutos, após realizar as atividades com os colegas, retornou para o meu filho responder a atividade. Desta vez, quando foi perguntado, ele respondeu.
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A partir desse dia, após uma reflexão materna, comecei a escutar mais o filho. A tendência é ligarmos o piloto automático, seguir a rotina, fazer o que estamos acostumadas a fazer e, quando vemos, o dia acabou.
Opções começaram a ser oferecidas com mais frequência. A frase “pergunte a ele” começou a ser mais repetida no nosso ambiente. Respostas de contestação e escolhas estão sendo escutadas e validadas. O meu pequeno, que já é um pré-adolescente, está sendo escutado em casa e na escola. O meu desejo é que ele se fortaleça mais e mais, e possa contribuir além dos muros da casa e da escola. Que ele contribua ativamente na sociedade!
Lembre-se: não reagir ou expressar sobre algo que você não está de acordo significa anular-se como parte ativa da comunidade que está inserido(a).
4 Comentários
Adorei o texto ! Como sempre uma reflexão . Ouvir e acreditar mais nos nossos filhos ! Mamãe da Sky
Querida Annie! É algo que estou aprendendo junto com o meu filho! Obrigada pelo comentário.
Acredito que o trabalho para desenvolver a autonomia perpassa, necessariamente, pelo desenvolvimento da capacidade de manifestar-se , de se colocar diante das situações que o mundo nos faz enfrentar.
Oi, Ana! Obrigada pelo comentário. Muita saudade!