5 dicas de ouro para viajar com crianças autistas (ou não).
Pra quem ama viajar, a chegada de um filho pode mudar muito o estilo de percorrer o mundo. Por aqui, os passeios com um pequeno autista de 4 anos são cheios de desafios – e também de descobertas e diversão. No planejamento das férias, são cinco as minhas “dicas de ouro” para os pais de crianças autistas – e que, é claro, podem ser úteis para qualquer família que se aventure por aí com seus pequenos viajantes.
1. Programação pensada pra eles
Após alguns passeios frustrados, eu finalmente percebi que, se o pequeno está junto na viagem, o roteiro tem que ser feito pra ele. Isso não vai me impedir de olhar um ou outro ponto turístico (ou ir numa montanha russa), mas não adianta pensar que vai dar pra andar despretensiosamente num museu ou tomar uma taça de vinho com calma naquela esplanada com vista.
O jeito é pesquisar e planejar as atrações que podem ser interessantes para eles: museus de ciência, atrações interativas, teleféricos, praia, piscina, brincadeiras ao ar livre. Na pior das hipóteses, vai ter SEMPRE um parquinho no caminho (acredite em mim, tem sempre um parquinho), pra te dar um descanso e poder de barganha pra conseguir entrar rapidinho naquela igreja ou museu depois.
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Além disso, o segredo é usar a criatividade e lembrar que criança gosta mesmo é de brincar! Se o passeio ficou chato, pode rolar um pega-pega, equilíbrio no meio-fio, “o chão é lava”. As muretas são ótimas pistinhas pros carrinhos hot wheels, por exemplo.
Não esqueça também de planejar as refeições: aquele restaurante renomado com vista talvez tenha que ficar pra outro momento. Com os pequenos é melhor apostar em lugares simples, com menu infantil que tenha comidinhas mais familiares e quem sabe um cantinho com legos e livrinhos de colorir.
2. Equilíbrio: mantenha a rotina, na medida do possível, mas desencane
Crianças adoram rotina e as autistas precisam dela para sentirem-se seguras. Mas não vale entrar numas de regime militar.
Por aqui, tentamos manter os horários do sono, das refeições e, principalmente, a rotina de relaxamento no fim do dia, pra garantir uma noite tranquila.
Por outro lado, desencanamos totalmente de outras coisas, como a alimentação. Antes que alguém me julgue, durante nosso dia a dia, o pequeno come super direitinho, então não vemos problemas em abusar um pouco da batata frita e do chocolate durante as viagens. Também rola café na cama, snacks no carro, lanchinhos fora de hora…
3. Repense os deslocamentos
Sempre fui adepta do que chamo “turismo raiz”: andar muito, explorar a cidade a pé e, quando necessário, usar o transporte público. Na vida pós-filho (e depois de um bocado de tentativa e erro), achamos o que funciona pra gente: carro + carrinho + ônibus sightseeing.
Apesar de encarecer um pouco a viagem, preferimos alugar um carro ao invés de usar transfer, taxi, uber, etc. Nos dá mobilidade e independência. Além disso, eu e o marido adoramos dirigir e formamos uma bela dupla de piloto e co-piloto, nos revezando ao volante. O carro tem ainda, ao meu ver, uma grande vantagem: faz as vezes de super mochila de viagem. Dá pra largar os casacos se o tempo esquentar, bolsinha térmica com lanches e água, sacola com muda de roupa extra e toalhas… Funciona também pra se abrigar da chuva, do frio, do sol e dar uma carga emergencial na bateria do celular. Vale repensar a estratégia apenas no caso de grandes cidades, onde o trânsito e a falta de estacionamento podem ser uma dor de cabeça.
Aprendemos também na vida pós-filho que os ônibus sightseeing (esses de dois andares que percorrem os pontos turísticos) são uma ótima opção. Eu nunca curti, mas agora incluo no planejamento, pois além de poupar a caminhada, acaba sendo uma boa maneira de recuperar as energias (e a calma) entre um ponto turístico e outro.
Por fim, nosso último aliado nos deslocamentos é o carrinho. Embora o pequeno já tenha 4 anos, ele é fundamental nos passeios mais longos (tanto em distância quanto em tempo). Usamos um simples, tipo guarda-chuva, e bem leve. Ajuda não só a poupar as perninhas (lembre-se que pra cada passo seu, eles têm que dar uns três), mas a relaxar e se reorganizar depois de muitos estímulos.
4. Tensão e relaxamento

Foto: Viajar é uma explosão de estímulos sensoriais. Arquivo pessoal.
De uma maneira geral (estou generalizando bastante aqui), pessoas no espectro do autismo são mais sensíveis a alguns estímulos sensoriais. Isso gera uma ideia errada de que elas apenas evitam tais estímulos, quando, na verdade, pode ocorrer o contrário (quem se interessar, pode ler um pouco sobre o que chamam de sensory seekers e avoiders aqui e aqui). Meu filho é assim: procura estímulos o tempo todo, adora luzes, coisas brilhantes, sons, música, pula, corre, quer tocar em tudo. Embora isso facilite as viagens, pois é fácil engaja-lo nos passeios, o excesso de estímulos o deixa muito eufórico e excitado. Para evitar que ele chegue num nível extremo de euforia, trabalhamos o que chamamos de “tensão e relaxamento”. Explico: após uma atividade de grande estímulo sensorial (um parque de diversões, luzes de natal, loja de brinquedos), adotamos sempre uma atividade para relaxá-lo, que pode ser simplesmente ficar no carrinho em um lugar calmo, assistindo desenho no tablet. Essa técnica pode ser muito útil com crianças neurotípicas também. Quem nunca teve um pequeno com dificuldade de dormir, por exemplo, porque estava cansado e excitado ao extremo?
5. Tenha sempre uma carta na manga (ou um pacote de M&M)
Por fim, aqui vai uma dica que você vai ler em todos os blogs sobre viagem com crianças: use e abuse de algumas “armas secretas” que vão te livrar daquele ataque de birra ou de uma criança entediada. Vale tudo: iPad, chocolate, M&M, brinquedinhos, livrinhos de colorir, jogos, fones de ouvido. Jamais esqueça da “mochila das tranqueiras”, como chamamos aqui. Ela é o item mais importante da sua bagagem.
Para acompanhar a aventura (cheia de desventuras) que é ser mãe atípica no exterior, é só seguir lá no instagram: @tanto_mar_
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