Puerpério na quarentena: idealização x realidade
Diferente do meu primeiro filho, minha bebê foi super planejada. Tudo parecia ir bem e de acordo com o que eu tinha imaginado, até que veio a quarentena!
Sempre fomos muito ativos, adoramos sair para passear, conhecer novos lugares, encontrar amigos, viajar… E o coronavírus mudou nossa vida completamente! A quarentena começou e eu tinha uma bebê recém nascida, uma criança de três anos, e um marido trocando de emprego no meio desse caos!
A vida com um recém-nascido
Tudo começou bem. Apesar de ter tido um trabalho de parto demorado e difícil, tive o parto natural que tinha planejado e minha bebê nasceu linda e saudável! Foi um parto sem intervenção nenhuma, não precisei de pontos e no dia seguinte já estava em casa. Minha mãe tinha vindo para cá para nos ajudar e isso foi essencial. Além de ajudar com os cuidados da casa ela conseguia dar atenção para o meu filho mais velho, levava ele pra passear, contava histórias e brincava com ele.
As primeiras semanas foram tranquilas, afinal tinha me preparado psicologicamente para os desafios das primeiras semanas de um recém-nascido. Assim como muitas mães, tive muita dificuldade de amamentação do meu filho mais velho, foi dolorido, difícil de acertar a pega, eu chorava a cada mamada e ainda tive hiperlactação. Além disso, ele chorava muito e eu não sabia o motivo, ele quase não dormia durante o dia e durante a noite acordava a cada uma hora e meia para mamar.
Enfim, me preparei para ter dias como esses, mas sabe aquilo que dizem que cada bebê é diferente?! Então, isso é verdade, acreditem! Minha bebê já foi para o peito assim que nasceu e já pegou direitinho. Dessa vez foi mais fácil controlar a produção de leite e não foi dolorido amamentar! Minha filha dormia o dia inteiro e minha preocupação dessa vez foi se era normal um bebê dormir tanto assim! As noites foram tranquilas, nos primeiros dias ela já dormia horas e horas seguidas e eu que acordava com o peito cheio!
O início do isolamento
Começaram a anunciar alguns casos aqui na Irlanda e as coisas começaram a mudar. Minha mãe foi embora e começamos a nossa vida de família de quatro. No dia 9 de março, já com alguns casos confirmados, o governo anunciou o cancelamento da parada de St. Patricks Day, que é a celebração mais esperada do país e que atrai turistas do mundo inteiro. Para cancelarem este evento tão tradicional, é porque as coisas estavam ficando sérias!
No dia 12 de março, o governo anunciou que fecharia as escolas e creches por duas semanas e logo depois disso teria o feriado de páscoa de duas semanas. Apesar do meu filho só ir para a creche três horas por dia, essas horinhas fazem muita diferença no meu dia. Para completar minhas preocupações, meu marido iria mudar de emprego e viajaria para um treinamento de três semanas nos Estados Unidos. Mal sabia eu, que aquilo era só o começo!
Os dias de isolamento começaram e paramos de sair. Ficávamos 24 horas dentro de um apartamento de dois quartos. Meu filho começou a sentir falta dos amigos, de sair pra passear e chorava de saudades da vovó, pois tinha se acostumado com a atenção exclusiva que ela dava para ele quando estava aqui. Minha bebê começou a dormir mal, nunca dormia antes das três da manhã. Meu marido, estava ansioso sem saber como seria o início do novo trabalho no fim do mês. E eu, além de cansada, com noites mal dormidas, estava preocupada pensando em como iria sobreviver sozinha com um recém-nascido, uma criança de três anos e sem ajuda enquanto meu marido estivesse viajando.
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A viagem do meu marido foi cancelada e ele começou o novo emprego trabalhando de casa. Imaginem só, começar um trabalho novo sem conhecer os colegas de trabalho, fazendo treinamento remoto, usando o quarto do filho de escritório e tendo como barulho de fundo um bebê chorando e uma criança fazendo aparições nas video conferências. Não foi fácil!
Como imaginei minha vida depois da chegada da minha bebê x realidade do isolamento
Sabe quando você engravida e começa a fazer planos e imaginar como será a vida depois que o bebê nascer? Passei a gravidez toda planejando como seria tudo, planejei inclusive atividades e programas para fazer só com o meu filho e ter um tempo só nosso para a chegada da bebê não ser tão difícil para ele, já que deixaria de ter a nossa atenção exclusiva. Planejei também as aulas de natação com a bebê, café com as amigas, e até as tão sonhadas férias e meu primeiro natal no Brasil, depois de tantos anos morando fora.
A realidade foi bem diferente da minha expectativa, nada foi conforme eu tinha planejado e a quarentena trouxe muitas mudanças no nosso estilo de vida e muitos desafios. Eu, que sempre fui uma pessoa super calma, passei a ficar muito cansada e estressada! Eu queria dar conta de tudo e acabava não dando conta de nada. A casa começou a ficar uma bagunça, não conseguia dar muita atenção para o meu filho, não conseguia curtir minha tão planejada bebê da maneira que eu gostaria e ainda vivia brava com o marido. Para completar tudo isso, começamos a receber reclamações do vizinho dizendo que meu filho estava fazendo muito barulho. Pensem numa mãe estressada com toda essa situação.
Quando levei minha bebê na consulta de acompanhamento com a médica, desabei. Comecei a chorar e dizer que estava muito difícil toda essa situação. Acho que era isso que eu precisava, desabafar para conseguir me recompor. Depois desse dia comecei a me cobrar menos e tentar levar uma vida mais leve e sem me preocupar tanto.
Tem dias aqui em casa que tem tanto brinquedo espalhado pelo chão, que mal dá para andar. Tem dias que meu filho passa muito mais tempo na tv do que eu gostaria. Temos dias também que está tudo limpinho e que conseguimos brincar bastante. Agora consigo me organizar e ter tempo só com o marido e também momentos individuais com cada criança. Continuamos tentando nos adaptar a essa nova realidade, como é cansativo fazer parte de um momento histórico. O que me motiva todos os dias é a ideia de criar momentos especiais para que meu filho lembre desta época, como um momento em que curtimos muito nossa família e fizemos muitas coisas juntos. Minha filha não lembrará dessa época, mas será sempre minha bebê de quarentena!
E assim seguimos na quarentena, com dias bons e dias mais difíceis, mas sem cobranças e tendo a certeza que estamos fazendo o nosso melhor.
3 Comentários
Helga querida, sinta-se abraçada. Aqui também não foi nada fácil. Amo acompanhar sua família!! Bjs e saudades!!
Obrigada pelo carinho!
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