Organizando a rotina com as crianças para a segunda onda da pandemia
Os meses de junho a agosto foram muito divertidos para a minha família. Após três meses de quarentena, retomamos uma vida quase normal. Aos poucos tomamos coragem de voltar a encontrar os amigos, fazer piquenique nos parques, tomar sorvete na rua para refrescar. Até brincar nas fontes e piscinas públicas meus filhos foram!
Por um lado, os baixos índices de infecção pelo coronavírus nos davam mais confiança. Por outro, sabíamos que, com a chegada do frio, tudo poderia mudar. Eu só não esperava que seria tão rápido!
Após dois anos cuidando quase integralmente de meus filhos, eu estava ansiosa pelo início das aulas em setembro! Meu filho mais novo ficaria alguns dias na escolinha e eu finalmente teria um tempo só para mim!
No entanto, setembro chegou com um crescimento enorme do número de casos. Em 15 dias duas professoras da escolinha de meus filhos tiveram contato com alguém infectado. E meu marido recebeu a proposta de retomar o regime de home office. Então eu tive que mudar meus planos rapidamente.
Como está a segunda onda na República Tcheca
No momento em que escrevo este texto não estamos em quarentena, mas há várias restrições, como o uso de máscaras em ambientes públicos fechados e a proibição de reunião com mais de dez pessoas. Optamos por não enviar meus filhos para a escolinha até o fim do mês e não sabemos como será depois. A única coisa que tenho certeza é que devemos seguir um dia de cada vez.
Então comecei a pensar… Já que as crianças ficarão em casa, quero fazer algumas coisas diferentes! Na primeira quarentena, foquei na alegria e conexão familiar, o que foi muito bom! No entanto, desta vez eu pretendo fazer algo mais organizado. Então eu comecei a planejar melhor a minha rotina com as crianças.
Organização da rotina
A primeira coisa que me veio foi tentar organizar encontros semanais com minhas amigas brasileiras. Se não for possível sair, planejamos revezar as casas e assim conseguimos manter o contato social e a prática da língua portuguesa.
Em seguida, comecei a pensar nas atividades que faria com meus filhos. Como eu poderia suprir a experiência que eles teriam na escola? Pesquisei mais sobre as necessidades das crianças em cada faixa etária e anotei tudo o que percebi que precisava trabalhar mais com eles. Leia abaixo alguns exemplos.
Alimentação saudável
A minha filha está em uma fase de alimentação seletiva, recusando vários alimentos. Eu sei que isso é comum na idade dela, mas eu posso ajudá-la de forma mais efetiva.
Primeiro, organizei melhor a nossa rotina, evitando que ela coma nos intervalos das refeições. Estou desenhando lembretes visuais de cada momento da nossa rotina, para que fique mais claro e as crianças tenham mais facilidade para compreender as mudanças de atividades.
Leia também “Rotina para crianças: 8 dicas de como organizar”
Em seguida, comecei anotando tudo o que ela efetivamente está comendo, conferi os rótulos (em tcheco!) e tabelas de recomendações nutricionais. Assim, consegui identificar que tipos de alimentos preciso incentivar mais.
No entanto, na minha opinião, o que mais está ajudando é incentivá-la a preparar os alimentos comigo. Desde o primeiro dia eu fiquei impressionada! Ela preparou uma omelete, colocou mais espinafre do que eu tinha planejado e acrescentou os tomates (que normalmente ela recusa). Depois de pronto, comeu com boca cheia e até disse “que delícia” no final! No dia seguinte foi a vez da lentilha. Coloquei um pouco em seu prato (eu já esperava que ela não comeria), mas, para a minha surpresa, até pediu que eu transferisse um pouco do meu prato para o dela! Não preciso dizer como a mãe ficou feliz!
É claro que há dias com melhor aceitação e dias piores. Mas eu acredito que estamos caminhando bem!
Necessidade de higiene
Um dos momentos delicados de nossa rotina era a escovação de dentes. Quase sempre acabava em recusa e choro! Então tomei três atitudes para resolver essa situação:
- Retirei a escovação de dentes da hora do banho. Esse era o momento mais crítico e os meninos já tinham feito uma associação negativa.
- Reforcei a leitura de um livro que trata dessa temática.
- Comecei a fazer uma brincadeira em que eles escovam um dente sujo desenhado em um papel. Como existe uma cobertura de plástico no papel, ao passar a escova a sujeira some! Eles adoram!
Bom, desde então, a escovação de dentes não tem sido mais um problema. É claro que sempre precisamos melhorar, mas o estresse do momento já foi superado!
Necessidade de movimento
Toda criança precisa se movimentar (e nós também!) e, com essa perspectiva de ficar mais tempo em casa, comecei a planejar atividades de circuitos, amarelinha e brincadeiras para ajudá-los a gastar energia.
Ao pesquisar mais a respeito, vi que já posso ensinar a minha filha a pular em um pé só e andar para trás. Então inclui essas atividades na nossa rotina. E ela já está aprendendo!
Estímulo da fala
Minha filha tem um atraso de fala e está em acompanhamento fonoaudiológico. Durante a quarentena teve um progresso no português e, desde então, estou fazendo atividades para estimulação. Assim, estou aproveitando a reformulação da rotina para verificar que outras atividades posso realizar com ela. Percebi que ela começou a se interessar pelas letras e fui conversar com duas amigas pedagogas. A minha questão é: como eu posso estimular o aumento do vocabulário e a pronúncia correta, respeitando o seu interesse, sem forçar? Estamos programando atividades e depois eu conto o resultado para vocês!
Outras necessidades
No meu planejamento inicial, coloquei também comentários sobre outras necessidades de meus filhos, como os aspectos socioemocionais e necessidade de autonomia. Aos poucos estou incluindo novas pequenas mudanças em nossa rotina, para favorecer o desenvolvimento de tudo o que eu percebo que eles possam precisar.
Além disso, fiquei atenta às minhas próprias necessidades. Tenho buscado ter cada vez mais momentos de autocuidado e não quero interrompê-los caso a quarentena chegue novamente.
Impressões iniciais
Estou feliz com essa nova organização, focada nas necessidades de meus filhos. Eu já comecei a ver alguns resultados positivos, o que me estimula a continuar.
É claro que sei da importância do livre brincar, mas considero também que devemos ficar atentos às características e necessidades de cada criança. Muitas vezes uma intervenção simples pode ajudar em seu desenvolvimento, além de contribuir para a sua autoestima e para o fortalecimento dos vínculos familiares.
É importante considerar que esse planejamento não é duro. Pelo contrário, é bem flexível e acompanha as necessidades de cada membro da família ao longo dos dias. Por exemplo, um dia eu não dormi o suficiente, então eu me respeitei e tivemos um dia menos estruturado.
Também é importante considerar que esse é um planejamento individualizado e pode não se aplicar à realidade de outras famílias. O meu objetivo ao compartilhá-lo com vocês é trazer a reflexão sobre o olhar atento às necessidades de nossos filhos.
Também sei que esse pode ser um trabalho penoso para muitos pais, que já têm muitos compromissos e preocupações. No entanto, acredito que, se ficarmos realmente atentos aos nossos filhos, conseguimos realizar algumas mudanças pequenas que fazem muita diferença não só para as crianças, mas também para a harmonia do lar.
1 Comentário
[…] Depois, o governo trouxe o sistema de Tiers (camadas) para as diferentes regiões do país, com níveis de 1 a 4. Em um sábado no fim de outubro, o primeiro-ministro anunciou que haveria outro lockdown, já mencionando a tal segunda onda. O objetivo do fechamento era baixar a taxa de transmissão do vírus e fazer com que o sistema de saúde desse conta do inverno. Mas, dessa vez, teríamos escolas, colleges e universidades abertas. Veja notícia sobre o anúncio do segundo lockdown no Reino Unido e um texto sobre a organização da rotina familiar na segunda onda na República Tcheca. […]