Antes de começar, gostaria muito de dizer a você que foi atingido de forma cruel pela pandemia, seja pela perda de alguém próximo, seja por dificuldades financeiras, desemprego, ou qualquer outra situação extrema advinda da quarentena, que eu sinto muito, mutíssimo, de verdade! Não quero desrespeitar a sua dor, nem as suas dificuldades neste momento, muito pelo contrário.
Minha reflexão tem a intenção de ressaltar a possibilidade de encontrarmos coisas boas e motivos de gratidão no meio do caos em que eventualmente nossas vidas estejam nesse período.
Situação na Colômbia
Apenas para informação, a Colômbia entrou em quarentena em 25 de março de 2020. Passamos mais de 5 meses em casa, com alguma flexibilidade que veio acontecendo ao longo desse tempo. Oficialmente a quarentena terminou no dia 01/09. Quase todos os setores podem retomar suas atividades, com controles, capacidade reduzida e todos os protocolos, com exceção dos que reúnem muitas pessoas, como cinemas, escolas e igrejas. Aulas presenciais apenas em 2021, provavelmente. Estradas e aeroportos estão reabrindo e retomarão a normalidade aos poucos. Os primeiros voos a operarem serão os locais, entre as principais cidades do país, e neste mês ainda ou em outubro espera-se que algumas rotas internacionais sejam reabertas.
O susto da quarentena
Bem, quando começou a quarentena aqui em Bogotá, Isabella (minha filha mais nova) estava com apenas dois meses, e eu ainda me acostumando com a ideia de ter que cuidar de três crianças. Isso porque até aquele momento eu havia tido ajuda. Primeiro minha mãe, depois minha sogra, haviam estado comigo desde o nascimento dela, para me ajudar, especialmente no cuidado dos dois maiores. No entanto, com a ameaça de fechamento de aeroportos (o que se concretizou), antecipamos a volta da minha sogra para o Brasil. Pela primeira vez, eu fiquei sozinha com os três, mais a casa, mais as atividades escolares. Naquela noite, em que decidimos pela volta dela, dormi chorando, preocupada se daria conta de tudo isso. Confesso que estava mais preocupada com essa situação do que com o vírus em si.
Entretanto, depois do susto, com o passar dos dias, fomos sobrevivendo. Alguns dias melhores, outros piores, alguns tranquilos, outros enlouquecedores, e eu comecei a perceber os tesouros escondidos no meio de tudo que estávamos vivendo. Hoje, depois de quase cinco meses, venho aqui contar um pouco do que aprendi.
Alguns aprendizados
Aprendi que sim, podemos fazer mais do que muitas vezes imaginamos, e que “Tudo posso naquele que me fortalece.” Que o meu Deus está sempre comigo renovando as minhas forças e me ajudando nos dias bons e ruins. Naqueles em que a rotina flui bem e nos que tudo parece um caos.
Aprendi que tenho um parceiro e tanto ao meu lado, para toda a vida. Na verdade, isso eu já sabia, mas agora não me resta qualquer dúvida. Naquela noite em que dormi chorando, meu marido me disse que estaríamos juntos nessa, e foi tudo verdade. Sem nenhuma rede de apoio, nos ajudamos e apoiamos mais do que nunca. E se me perguntarem, ah, casaria com ele de novo, de novo e de novo!
Aprendi que é bom estar pertinho das crianças, acompanhar o seu desenvolvimento e aprendizagem, vê-las brincar juntas, desenvolver a criatividade e disfrutar das bagunças, risadas e até mesmo de toda a desordem na casa. Aprendi que tudo isso vai passar e ainda sentirei saudade desses momentos! Além disso, me dei conta de que algumas regras, em tempos de exceção como esse, podem e devem ser flexibilizadas, pelo bem da nossa saúde mental e emocional.
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Aprendi a valorizar e a desfrutar mais das refeições demoradas, sem hora pra terminar, essas que passamos a ter aos finais de semana (porque durante a semana, comíamos juntos, mas mais rapidinho…). Esse tempo de estar à mesa dá a possibilidade para as crianças conversarem conosco, nos fazerem perguntas, e a nós, de ouvi-las. Isso nos conecta muito mais a elas! Até então, mesmo estando juntos, quase todos os nossos finais de semana, apesar de estarmos longe da família, eram preenchidos com almoços com amigos, festas de aniversários e outros encontros sociais. Sem nos darmos conta, tiravam esse tempo nosso, só nosso, em família.
Aprendi sobre estarmos todos juntos em cima da minha cama, sem fazer nada, apenas jogando conversa fora, ou assistindo um filme, ou brincando, que esses momentos ficarão gravados pra sempre na nossa memória!
Aprendi também que a nossa vida, a nossa saúde e estarmos juntos são as coisas mais importantes dessa vida! Coisas que dinheiro nenhum compra, e na verdade nem precisamos dele para desfrutar delas.
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E me dei conta também que faz muita falta poder sair, passear, viajar, estar com as pessoas que amamos e moram longe! Essa quarentena longa nos deixou bastante cansados sim, e com muita vontade de poder voltar a alguma normalidade. As crianças levaram bem, mas também tiveram os seus momentos de reclamar e perguntar quando tudo iria acabar, quando poderíamos viajar de novo, ver os amigos etc… Aprendi que a espera para que tudo isso pudesse ou possa acontecer novamente também nos ensina a valorizar a vida, a liberdade, as pessoas que amamos e todas as bênçãos que temos!
Aprendi, mais uma vez, que temos muito mais para agradecer do que pedir. Que a vida é bela, apesar das dificuldades, apesar das dores. E que a alegria está na caminhada, e em todos os momentos, experiências e pessoas que vamos encontrando pelo caminho, independente de onde queiramos chegar.
Por fim, a espera por dias melhores, mais tranquilos. Que o fim da quarentena realmente faça bem a nós e à Colombia, com a certeza de que cada um pode e deve fazer a sua parte para que isso aconteça.
E a você? O que a quarentena te ensinou? Conta pra gente? Beijos e ate a próxima!!
4 Comentários
Olá Lívia!
Adorei o texto👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾, parabéns e obrigado por compartilhar sua história🙏🏾
Que bom, Luciana! Fico muito feliz!! beijos
[…] Leia também: O que a quarentena me ensinou […]
[…] disso, como já escrevi aqui, a pandemia nos ensinou muitas coisas. Acredito que todos nós, definitivamente, estamos começando […]