2020 foi um ano atípico que apresentou dilemas que ninguém poderia prever. Máscaras, isolamento social, infecções. Impossibilidade de viajar, de encontrar amigos em casa, de trabalhar fora e crianças em casa por seis meses. Na Europa, o auge da primeira onda da pandemia aconteceu na primavera. Apesar do desespero dos habitantes do planeta em busca das melhores opções para lidar com o desconhecido, a natureza floresceu, como se fosse um ano normal. A frase do artista plástico britânico David Hockney nunca fez tanto sentido:
Do remember they can’t cancel the spring” (Lembrem-se, não se pode cancelar a primavera).
O verão chegou com a diminuição dos números de infecções e mortes e com o relaxamento de algumas medidas de restrição na Inglaterra. Mas os altíssimos números de mortes no Brasil neste período serviam como um lembrete de que a pandemia ainda não havia terminado.
Aproveitamos as possibilidades de viajar dentro do país. Fomos algumas vezes até a costa. Fizemos passeios em parques e programações ao ar livre. Conseguimos encontrar amigos, fazer uma mudança de casa e mergulhar no mar (ainda que gelado).
Compramos um carro e aprendemos a dirigir. Cada um desses eventos teve sabor especial, experimentado depois do primeiro lockdown. Apesar das crianças terem ficado meses em casa em um ano escolar atípico, havia a esperança de retorno à escola após as férias de verão.
Volta às aulas e esperança
E assim foi. A volta às aulas na Inglaterra veio acompanhada de animação e curiosidade. O cotidiano, enfim, tomava forma novamente com as idas e vindas para a escola. O governo admitiu que educação seria prioridade e que as escolas permaneceriam abertas, para o bem das crianças. Elas já haviam sofrido em excesso com o impacto do fechamento anterior.
A alegria de estar na escola renovou a crença na importância que a instituição tem na vida das famílias. Aqui, professores são trabalhadores essenciais. Dessa forma, assim como os médicos e outros profissionais-chave, eles se arriscam durante a pandemia. Sabendo dos riscos, enfrentaram a reabertura, dando às crianças a possibilidade de conversar e elaborar fora de casa o que vinha acontecendo no mundo.
Com naturalidade, pais, alunos e escola se adaptaram às entradas e saídas em horários distintos para cada turma, à permanência em bolhas de turmas do mesmo ano e ao álcool gel em diversos momentos do dia.
Outono e segunda onda
Quando as primeiras folhas começavam a cair, os números de infectados pela COVID-19 na Europa começavam a subir. Se alguma criança ou funcionário de uma bolha na escola tinha teste positivo para o vírus, a bolha fechava e as crianças ficavam em casa por duas semanas.
As regras mudaram e já não podíamos encontrar outras famílias em ambientes fechados. Restaurantes, apenas em família. Em lugares abertos, havia a rule of six (apenas 6 pessoas de famílias diferentes poderiam se encontrar ao ar livre).
Depois, o governo trouxe o sistema de Tiers (camadas) para as diferentes regiões do país, com níveis de 1 a 4. Em um sábado no fim de outubro, o primeiro-ministro anunciou que haveria outro lockdown, já mencionando a tal segunda onda. O objetivo do fechamento era baixar a taxa de transmissão do vírus e fazer com que o sistema de saúde desse conta do inverno. Mas, dessa vez, teríamos escolas, colleges e universidades abertas. Veja notícia sobre o anúncio do segundo lockdown no Reino Unido e um texto sobre a organização da rotina familiar na segunda onda na República Tcheca.
Seguimos firmes nesse ano atípico, buscando cumprir as orientações e mantendo o olhar atento ao que há disponível ao nosso redor. Folhas caindo, neblina, escola, home office.
Inverno e um Natal diferente
Pela primeira vez desde que nos mudamos, iremos passar o Natal por aqui, sem a tradicional ida ao Brasil. Isso significa que não teremos um break no inverno. Enfrentaremos ele de frente e por inteiro.
Há notícias sobre vacinas, a promessa de que o lockdown dê uma trégua antes do Natal e, como sempre, a natureza ao redor. Olhamos as revistinhas do supermercado que já oferecem menus natalinos e nos animamos para provar as receitas típicas daqui. Pensamos em como as casas do nosso bairro ficam iluminadas para as festas e em como podemos decorar nossa própria casa. Até mesmo os comerciais de natal que começam a aparecer na TV nos emocionam…
Será um Natal diferente, dentro de um ano atípico, e sentiremos saudades do calor do Rio de Janeiro no verão e do corre-corre insano do Natal tropical. Mas teremos, também, a chance de experimentar a placidez do Natal no inverno. Quem sabe teremos neve? A pandemia irá embora em algum momento, mas os aprendizados do ano ficam com a gente.