Efeitos da pandemia no mercado imobiliário: A nossa experiência na Itália
Sem querer chover no molhado, mas nunca será suficiente afirmar que o ano de 2020 mudou as nossas vidas e marcou a História.
Fico imaginando como será quando nos livros de escola houver um capitulo só sobre a pandemia Covid-19 de 2020. Mas ter vivido (e enfrentado) esse período certamente nos trouxe experiências que não constarão nos livros.
Aqui na Itália, enquanto escrevo esse texto, estamos no meio da segunda onda de contagio do Corona Vírus. Aqui na Lombardia (região em que vivemos) estamos com medidas ainda muito restritivas. Só podemos sair do município onde moramos por motivo justificado, ou seja, trabalho, saúde ou necessidades básicas (inclui-se comprar comida e coisas).
Estamos há 19 dias do Natal, e já foram anunciadas medidas ainda mais restritivas para o período de festas. Ceia de natal e réveillon serão em casa e com a recomendação de ficar só com as pessoas que moram junto. Viagem? Restaurante? Hotel? Nada. Tudo fechado. Será tudo feito em casa, no sentido mais literal possível, dentro das quatro paredes.
Lockdown na Itália
Mas pra quem mora na Itália essa não é a primeira vez que nos vemos confinados dentro de casa. Aliás o primeiro “lockdown” que durou exatamente 69 dias foi muito mais restritivo. As cidades italianas pareciam cenário de Walking Dead.
Vimos os pontos turísticos mais visitados do mundo ficarem desertos. Não tinha escola, creche, nada. Empresas fechadas. Começou o “smart working”. Tudo em casa. Tudo em quatro paredes. Acordávamos em casa, trabalhávamos em casa, as crianças estudavam em casa. Era quase como viver em uma prisão domiciliar.
Essa nova vida trouxe um impacto muito importante em um dos mercados mais tradicionais e estáveis, o mercado imobiliário. Viver e conviver em baixo do mesmo teto por tantas horas ao dia trouxe mudanças no que considerar na busca de um imóvel seja para comprar ou alugar.
Mudanças no mercado imobiliário
Alguns artigos em jornais noticiaram esse efeito, como esse aqui, de um jornal de Bergamo (cidade mais atingida na primeira onda da pandemia na Itália), resume algumas dessas mudanças.
Algumas prioridades mudaram. Apartamentos com terraços e sacadas, casa com quintal ou jardim, ter um cômodo para fazer um studio ou uma cozinha mais confortável. Por que não uma piscina?
Pagar mais para morar no centro de Milão e ter tudo na mão e metrô na porta, passou a ser um custo questionado. Melhor um apartamento bem localizado no centro ou uma casa mais espaçosa em um bairro mais distante? Mesmo quem tinha essa resposta pronta na ponta da língua passou a pensar duas vezes.
Não que o mercado tenha mudado em um sentido como se a pandemia nunca fosse acabar e viveríamos eternamente presos dentro de casa. Claro que não. Mas se repensou sobre uma forma de buscar um equilíbrio. Na Europa, falo baseado na nossa experiência na Italia, a oferta de imóveis sempre foi maior de apartamentos pequenos e antigos.
Quando vejo amigos que moram nos EUA por exemplo, com aquelas casas maravilhosas nos subúrbios, tipo coisa de filme, não posso esconder aquela ponta de inveja… aqui não é assim. Até existe esse algo parecido em algumas regiões, mas é diferente, é outro estilo de vida.
A Nossa experiência
A nossa experiência como família enfrentado essa pandemia foi assim. Eu sou um pai mundo afora. Nós viemos para a Itália em 2017. Fui expatriado pela empresa e alguns meses depois da nossa chegada alugamos um apartamento onde moramos por praticamente três anos. Um pouco da nossa história vc pode conhecer nesse texto aqui.
Não que morássemos em uma quitinete no centro de Milão, muito pelo contrario, para os padrões italianos era um apartamento até muito bom. Não na moderníssima Milão, mas na nossa grande metrópole de Sondrio, no alto de seus 22 mil habitantes.
Leia mais: Adaptação à escola na Itália
Um prédio do início de 1900 porém a nossa unidade era totalmente reformada internamente. Três dormitórios espaçosos e até uma suíte, coisa raríssima de se ver até em casas novas. A sala e cozinha juntas, na verdade a cozinha é só um cantinho da sala (em italiano se chama literalmente “angolo cottura”) e com uma sacadinha de 1 metro de largura, que até tentamos colocar uma mesinha colada na grade, mas eu me sentia naquele restaurante que se come nas alturas…
Crianças com energia sobrando
Apesar de ser no quarto andar não tinha grades e tela nas janelas e nem na sacada. Aliás vimos muito raramente grades ou telas em janelas e que na verdade nem era para proteção das crianças. Mas a gente não conseguia ficar tranquilo em casa. Principalmente com o início do calor não dava para vacilar com as janelas e sacada abertas e sem tela. Dava até um frio na espinha só de pensar.
Outro fator de se morar em um apartamento antigo com as crianças é o barulho. Apesar de ter paredes grossas, a laje (o chão) não isola o barulho. Claro que tem vizinho mais chato e tem vizinho mais tranquilo. Na escala da chatice o nosso era tipo o Mr. Hackles vizinho de baixo da Monica na serie Friends. Bem do tipo que batia no teto com o cabo de vassoura.
Mas, gente, sinceramente, até eu me incomodava com a Giulia (de 1 ano) e a Sarah (de 9 anos) pulando e correndo o dia inteiro dentro de casa, e jogando brinquedo no chão, gritando e tacando o terror. Mas vai fazer o quê? Não dá pra por na televisão o dia inteiro ou querer que elas sentassem civilizadamente no sofá para ler um livro. Era muita energia represada.
Somando esse cenário eu e a Patricia tentando trabalhar de casa, telefone tocando, vídeo conferências. A mesa da cozinha virou mesa de escritório, e, algumas vezes, ficar de pijama o dia inteiro não era escolha, simplesmente não dava para assobiar e assoprar ao mesmo tempo. Foram incontáveis vezes que estava com meu chefe no telefone com a Giulia no braço.
Acho que precisamos de uma casa nova…
Foi aí que bateu a necessidade de procurar um outro imóvel. A gente precisava de um imóvel mais seguro, maior e mais confortável. E sem o Mr. Hackles batendo com o cabo de vassoura e reclamando toda vez que me encontrava no corredor.
Essa nova saga, a gente vai contar nos próximos textos aqui o Mães Mundo Afora. Não perca, porque foi uma verdadeira aventura!
Até a próxima!
1 Comentário
Fred, vc resumiu todo o meu sentimento com a moradia na Itália, demorou muito tempo para eu entender e aceitar isso aqui!! Rsrs