Coronavírus: voo suspenso e a incerteza de poder voltar para a casa
Há quatro anos não ía ao Brasil. A última vez foi quando a minha sobrinha Luísa nasceu. Fui especificamente para conhecê-la e ajudar a cuidar dela nos seus primeiros dias de vida, já que no Brasil eu era enfermeira neonatal.
Há dez anos me casei com um americano e moro nos EUA. Aqui, tornei-me coach de mães, palestrante, educadora parental e tenho um instablog materno, o @myprecious_kids, no qual compartilho dicas maternas e amor. Tenho estudado neuropsicopedagogia e comunicação consciente para me conhecer melhor e, consequentemente, ser uma mãe mais adequada para as minhas crianças; e para ter embasamento científico nos posts que escrevo.
Em janeiro, descobri um evento imperdível que aconteceria em março em Belo Horizonte, Minas Gerais: a I Conferência Nacional de Disciplina Positiva. No dia 9 de março teria um workshop sobre Psicologia Positiva e Disciplina Positiva, e nos dias 10 e 11, o treinamento para se tornar Educadora Infantil pela pda. Além de fazer o treinamento que tanto queria, eu aproveitaria para matar a saudade dos meus familiares e amigos que moram no Brasil. Decidi ir a esse evento, pois o local estava perfeito, afinal eu sou mineira “uai”. E ainda iria me deliciar com a culinária mineira, que na minha opinião é a comida mais saborosa do mundo!
Planejamento
Conversei com o meu marido e fiz a inscrição para o evento. Fiz todos os arranjos necessários para que as minhas crianças fossem bem cuidadas enquanto eu estaria fora. Planejei também fazer uma cirurgia plástica, pois com o dólar alto, o procedimento cirúrgico seria bem mais barato no Brasil.
Parecia tudo perfeito, o único problema é que nunca havia viajado sem as minhas crianças. Sou mãe em tempo integral, participo ativamente de todas as atividades deles; estamos sempre juntos, então não sabia como seria a experiência de ficar sem eles. Para amenizar a minha ausência, trouxe o meu pai para ficar com as minhas crianças, pois elas amam a companhia do vovô, principalmente a minha caçulinha. A minha mãe cuidaria de mim pós-cirurgia e retornaria comigo para os EUA.
Duas semanas antes de viajar, falei com as crianças sobre a minha viagem e que vovô viria especialmente para ficar com eles. Um dia antes de partir perguntei: “Quem está feliz porque o vovô vai chegar amanhã?” A Agatha e a Alice pularam e gritaram de alegria: “Eu!” Estranhei a reação do Noah, que não disse nada. Perguntei se não estava feliz e ele respondeu: “Só um pouco.” Continuei a conversa e questionei se ele não estava com saudades do vovô, ao que ele respondeu: “Eu estou, mamãe, mas você vai para o Brasil um dia depois que o vovô chegar e eu vou sentir muito a sua falta.” Naquele momento, eu percebi que não seria fácil ficar longe deles, mas ao mesmo tempo eu precisava ir.
Aconteceram vários imprevistos que quase me fizeram desistir da viagem. As minhas duas filhas tiveram H1N1 uma semana antes da viagem. Eu também corria o risco de me contagiar com o coronavírus nos aeroportos e nos aviões. Na noite anterior à viagem, o meu marido disse: “Baby, você tem certeza de que você quer ir? Você vai estar vulnerável a pegar o vírus.” Eu realmente quase desisti, mas estava determinada a alcançar os meus objetivos!
A viagem e o avanço do Coronavírus
Então viajei na quinta-feira 5 de março, e na sexta-feira de manhã já estava em BH, Minas Gerais. Que sensação maravilhosa estar de volta na minha terrinha depois de tantos anos. Participei do evento de Disciplina Positiva, que foi maravilhoso! Conheci pessoas incríveis, as quais vou levar para o resto da vida.

Acervo pessoal
Enquanto isso, o mundo estava sob alerta com o rápido avanço do coronavírus. No dia 11 de março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que estava suspendendo a entrada de todos os viajantes vindos da Europa por um período de 30 dias. A medida começaria a valer a partir da noite de sexta-feira (13), e a única exceção seria para o Reino Unido.
Fiquei temerosa e avisei ao meu marido que iria antecipar o meu retorno. Troquei o meu voo para o dia 17 de março, saindo de Confins até Fort Lauderdale, Flórida, e de lá para Denver. Fiquei muito triste, pois não iria mais visitar os meus irmãos, como o planejado, mas eles entenderam a situação e me pediram pra voltar o mais rápido possível.
Eu sou muito ansiosa, tenho trabalhado isso. Confesso que nunca vivi momentos tão angustiantes e estressantes como esse. Em 16 de março, a companhia aérea com a qual eu viajaria emitiu uma nota anunciando a suspensão de vários voos, em medidas contra o coronavírus. Todos os voos internacionais, exceto os que partiam de Campinas (SP), estariam suspensos.
Foi aí que começou o meu estresse.
A indefinição do retorno
Meu irmão, minha mãe, tia e duas amigas me ligaram, enviaram mensagens no WhatsApp, todos me perguntando o que eu iria fazer. Liguei para a companhia aérea para checar a veracidade do comunicado, mas ninguém atendeu. Tentei fazer o meu check-in online, mas não consegui: dizia voo não encontrado. Se fosse antes, já teria entrado em pânico, pois estava tudo dando errado. Pra me estressar ainda mais, a minha mala estava com excesso de peso, e tive que refazê-la e passar para outra bagagem os quilos em excesso.
As mensagens negativas não paravam de chegar, eram muitas perguntas que eu não tinha resposta e até julgamentos recebi: Por que você viajou para o Brasil sem as crianças? Por que você não deixou para fazer esse curso depois? E se você não conseguir voltar para os EUA? Eram tantos “por quês” e “ses”, que estavam me sufocando e tirando a minha paz. Decidi não ler mais as minhas mensagens e fui dormir confiante que daria tudo certo. Resolvi não sofrer por antecedência, até porque não poderia fazer nada a não ser ir ao aeroporto no outro dia e saber o que aconteceria. Estava tão cansada que depois de orar, adormeci rapidamente.
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Acordei cedo e fui para o aeroporto. Chegando lá fiquei sabendo que o meu voo havia sido cancelado. Não recebi nenhum e-mail avisando do cancelamento, mesmo assim mantive a calma e fui gentil com o funcionário que estava me atendendo. Expliquei para ele que precisava voltar para os EUA naquele dia, que as minhas crianças pequenas estavam lá e usaria o meu passaporte americano. Vi muitas pessoas estressadas, alteradas, xingando, gritando, mas essas atitudes não solucionariam o problema. Pelo contrário, só estavam causando mais conflitos. Senti orgulho de mim mesma, pois apesar de toda angústia e incerteza, eu mantive a calma. Usei toda a minha inteligência emocional e autocontrole que acabara de aprender com a Disciplina Positiva.
Resumindo, eles me colocaram no único e último voo do dia que partiria às 23h20. Não me deram certeza se o voo seria cancelado ou não. Mais uma vez eu mantive pensamentos positivos que daria tudo certo. Enquanto esperava para o meu embarque (foram 14 horas de espera), algumas pessoas tentaram me desestabilizar dizendo que esse voo também seria cancelado. Eu simplesmente me afastei, fiquei orando em silêncio e pensando na alegria de reencontrar os meus filhos. E esse reencontro aconteceu no outro dia, às 19 h, quando eu finalmente cheguei em casa. Que alívio e alegria estar no meu lar-doce-lar. Receber o amor e carinho das minhas crianças, do meu esposo e do meu pai fez toda espera valer a pena. Aprendi com tudo isso que é possível manter a calma em meio ao caos, só depende de você!
2 Comentários
Como sempre, a gente sente a tua doçura no texto, Claudia! Que bom que tudo deu certo. E claro que deu certo porque confiaste e não ouviste as mensagens negativas… é isso aí, a gente tem que saber filtrar e guardar só o que nos é saudável. Beijão!
Querida Zandra! Muito obrigada pelas suas lindas palavras. Não foi fácil passar pelo que passei, mas acabou dando tudo certo. Aprendi que podemos ter paz e calmaria em meio ao caos! Beijos.😘