Reflexão em tempos de confinamento.
Até quando estaremos confinados? E depois, como será a nossa vida?
Essas perguntas me trazem ansiedade e esperança. Ansiedade porque a incerteza da nossa realidade atual está mais aguda do que nunca. Esperança porque, claro, vamos sair dessa, e sairemos transmutados em todas as esferas. Acredito que para melhor.
Até quando ficaremos confinados? Quando poderemos voltar a ter nossa vida normal? Quanta ansiedade guardam essas perguntas! Temos sede de viver, sede de natureza, de atividades ao ar livre, de ir ao restaurante, ao cinema, a festas, shows, teatros… A Mãe Natureza diz que só sairemos do “castigo” quando estivermos transmutados, como uma borboleta num casulo. Deixaremos de ser a lagarta que devora todas as plantas para, então, nos tornarmos a borboleta que faz a polinização. Quando entendermos que somos uma comunidade só, somos fauna e flora, rios, mares e lagoas. O que você faz afeta todo o ecossistema de forma direta. Portanto, agir em função do benefício dessa comunidade, em solidariedade com o outro, é a nossa forma de polinizar e apoiar o desenvolvimento dessa grande estrutura que é o nosso ecossistema.
Necessidade de mudança estrutural
Somos tão interligados que o coronavírus veio de um morcego! Quando você iria pensar que um morcego poderia mudar tanto a sua vida? Talvez nada mais seja que uma metáfora da Mãe Natureza. Nós estávamos sendo os verdadeiros sanguessugas do nosso ecossistema e agora, vejam só a ironia, um morcego, que é estereotipadamente conhecido como sanguessuga (quando na verdade são mamíferos e em sua maioria se alimentam de frutas e insetos), traz para a espécie humana uma doença altamente contagiosa. E, pela falha das estruturas da nossa comunidade, criada de forma excludente, está gerando milhares de mortes pelo mundo. Uma bela lição.
Temos que mudar as nossas estruturas econômica, social, de saúde, etc. Temos que incluir todos no nosso sistema, pois a sociedade que impera hoje é excludente e já não se sustenta mais. Vemos o mundo hoje colapsar em todas as esferas, seja econômica, de saúde, ou social. Já não dá mais para continuarmos a viver de forma tão individualista. Nós somos uma comunidade só, em conjunto com a Mãe Natureza.
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A ansiedade vem da incerteza de até quando ficaremos em confinamento, como se em algum momento da nossa vida tivemos a certeza do que iria acontecer. Vivemos com a ideia que temos controle de tudo ou pelo menos de quase tudo, quando na verdade não temos controle de absolutamente nada. Tem uma força maior que controla tudo isso. Nós fazemos parte dela, mas por sermos excludentes não estávamos ouvindo o que essa força tinha a dizer.
Temos as geleiras gritando por socorro, a Amazônia, os mares, os bichos em extinção… Hoje vemos a calmaria do lado de fora, pois todos estão com medo e se voltaram para dentro de suas casas (de forma correta, fiquem em casa e não sobrecarreguem o sistema de saúde, pois ele é excludente e alguém vai ter que ser excluido – e pode ser você). Sem as indústrias trabalhando na China, o ar de lá está limpo, como não se via há muitos anos. Em Veneza, sem os altos números de pessoas circulando, a água está agora cristalina. A natureza responde de forma rápida, basta a gente escutar. E quando nós escutarmos aos chamados do nosso planeta, com certeza a ansiedade vai diminuir, nós vamos desacelerar, nos voltar pra dentro e voltar à nossa origem. Assim, conseguiremos recuperar o equilíbrio perdido no nosso ecossistema.
A metamorfose necessária
Quanto a voltar a ter a nossa vida normal, eu não acredito que teremos a vida que tínhamos antes, essa metamorfose é necessária. Vamos mudar as nossas estruturas no mundo todo para salvar o planeta. Neste distanciamento social físico encontramos na internet a solução para nos conectarmos, e o que era um mal do século passa a ser a nossa salvação: a velocidade como as informações são passadas e como essas podem salvar vidas. Imagina esperar por uma carta pra avisar que tem um vírus se espalhando pelo mundo?
Nas redes sociais temos nossas redes de apoio, diversos profissionais de diferentes áreas oferecem serviços gratuitos para cuidar da mente e do corpo, para termos lazer e cultura dentro da nossa casa. Influenciadoras incentivando o consumo de bens de pequenas empresas, lojas e serviços locais para que esses não entrem em falência. Eu nunca vi tantas lives – vidas – de verdade no Instagram. E a partir daí podemos ver o que realmente tem importância na nossa sociedade.
A ciência vale ouro. Precisamos investir mais na educação, pois esta é a chave para o desenvolvimento conscientizado e em concordância com o ecossistema. Precisamos investir mais na saúde para que todos tenham acesso e, principalmente, na saúde preventiva, pois é sempre melhor prevenir do que remediar. Precisamos investir em cultura, pois nós temos fome de comida, sim, mas também de arte! Precisamos investir mais no produtor local, consumir e usar mais local, o que diminui as pegadas de carbono e pode salvar o planeta. Por isso acredito que a nossa transformação será tão profunda que jamais seremos quem já fomos antes. E nossa vida será normal, porém muito diferente.
Essas mudanças me deixam esperançosa de que ao final teremos uma resposta positiva depois de tanto sofrimento. Poderemos respirar um ar mais puro, nadar em águas limpas, viver em equilíbrio com a natureza, respeitando e ouvindo aos chamados dela. O silêncio e a reflexão não vieram de forma desejada, mas de forma imperativa pela Mãe Terra para que o mundo parasse. E ele parou. Estamos olhando para dentro de nós e vendo também o próximo, o vizinho, o rapaz da quitanda, a moça que faz artesanato, a natureza. Percebemos então que não importa sua classe, cor, religião ou espécie, estamos nessa juntos. Eu dependo de você e você depende de mim, como uma comunidade de verdade.
Até quando? Até você se transmutar. E depois? Vamos viver em harmonia e com mais empatia.
1 Comentário
Otimo texto MESMO!