Fazendas suíças – produtos locais e refúgio em tempos de confinamento
Minha vida sempre foi bem urbana. Gastar horas no trânsito para atravessar a Marginal Tietê, em São Paulo, esperar na fila para comer em algum restaurante aos finais de semana e ficar alguns minutos procurando vaga pra estacionar em um shopping era normal pra mim. Morando a 1h30 de carro do trabalho e fazendo plantões, eu vivia no automático.
Nessa época, qualidade de vida pra mim era: encarar algumas horas de trânsito para descer à praia no fim de semana, e já levar as compras no porta-malas pra não ficar presa no mercado do litoral. E sim, era uma delícia!
Mas alguma coisa diferente aconteceu nos últimos tempos e mudou tudo. Não falo da minha mudança à Suíça durante o início da maternidade. Essa mudança a qual me refiro foi algo mais profundo e que não envolveu somente minha família, mas o mundo. De repente, a Marginal ficou vazia, não existiam mais filas de espera nos restaurantes e os mercados se tornaram o único motivo pra sair de casa.
Ao redor do mundo, muitas famílias se reinventam e se dividem para não correrem riscos maiores. Aqui em casa, meu marido foi o escolhido da vez. Era ele, e ainda é, quem sai pra fazer a compra do mês. Mas a Suíça nos deu uma grata surpresa nesse período! Aqui, ainda podemos vivenciar algumas situações em família. Compras da semana é uma delas. Sim, eu sei. O compromisso até parece chato, mas não se tratando deste país!
Comprando direto da fonte
A Suíça possui mais de 52 mil fazendas em todo seu território. Morando em uma área mais afastada, em Zug, região central do país, tenho o privilégio de estar próxima a algumas delas.
No mesmo bairro em que moramos, conhecemos duas boas fazendas que vendem produtos fresquinhos no local. Uma delas, inclusive, não possui nem atendente. Você entra, escolhe o que quer, anota no livrinho de controle do comércio e coloca o dinheiro no caixa. Em outra caixinha, você pode retirar seu troco, caso necessário.

arquivo pessoal
Ao longo do ano, estas fazendas são essenciais na vida das pessoas que vivem em áreas mais rurais, já que os mercados fecham após às 4 horas da tarde aos sábados e não funcionam aos domingos – algumas redes possuem pequenos comércios em postos ou estações de trem, que também ficam abertos.
Na quarentena, em especial, o que vimos foram famílias aproveitarem a necessidade para tornar as compras um passeio. Se não bastassem os produtos fresquinhos, ainda é possível desfrutar do trajeto em meio à natureza e aos animais. As famosas vacas suíças e as ovelhinhas são um capítulo à parte na caminhada.
As lojinhas oferecem leite fresquinho (que em algumas pode ser comprado em uma máquina que funciona 24 horas), frutas, verduras, legumes, geleias, queijos, ovos, vinhos locais e muitos outros produtos. Mesmo na quarentena, algumas delas ainda oferecem cafezinho, que você pode tirar na hora e aproveitar ao longo do caminho. É válido ressaltar que o cafezinho fica ainda melhor quando sentamos por lá e compramos um pedaço de bolo, ou torta doce, bem fresquinho. Mas isso faremos de novo mais pra frente, quando possível.
Pais, que moram próximo destas fazendas, como nosso caso, podem aproveitar o trajeto para tirar as bicicletas de casa ou fazer uma trilha com as crianças. Em tempos como o de agora, aproveitamos para tirar nosso bebê de 10 meses em momentos como este, sem medo de uma possível aglomeração.
Mas não é só das vendas que estas fazendas vivem, muitas delas oferecem até refeições aos visitantes e atividades às crianças. Infelizmente, não falaremos sobre isto agora, pois, assim como a maior parte do mundo, a Suíça cumpre as regras do isolamento social.
A Suíça aderiu ao isolamento no dia 17 de março e, no último dia 27, começou a primeira etapa do relaxamento das medidas, reabrindo alguns comércios, clínicas e salões de beleza. O país se prepara para voltar ao normal no dia 8 de junho, quando está prevista a última etapa, que inclui a volta do ensino médio, escolas profissionais, universidades e zoológicos. Até lá, ainda é proibido o encontro de mais de 5 pessoas na rua.
Enquanto ainda vivemos essa nova realidade mundial, temos a oportunidade de rever nosso tempo, nem que seja na caminhada com a família para fazer compras em uma fazenda na Suíça, ou atravessando a Marginal Tietê vazia para ir ao mercado. Hoje, qualidade de vida virou muito mais que uma viagem ao litoral devidamente equipada. Qualidade de vida é estar em família e ver todos saudáveis. Vamos nos lembrar disso…