As crianças na pandemia: o que elas nos ensinam?
O ano de 2020 nunca será esquecido na história mundial. A pandemia na qual vivemos revelou a identidade dos verdadeiros heróis da humanidade. Super-heróis e super-heroínas que usam máscaras por necessidade, que lutam incansavelmente para combater o vilão intitulado Coronavírus.
Vivemos um processo de ressignificação. Nossos olhares e agradecimentos estão por todos aqueles que estão na linha de frente. Contudo, a vida não acontece apenas do lado de fora do muro de nossas casas. Nossos olhares devem perceber a vida numa dinâmica ascendente que vem se revelando dentro de nossos lares. A família é o grupo social que temos de lidar durante 24 horas por dia, sem intervalos.
Como nós, adultos, estamos vivendo com esta situação? Vejo que estamos em um caos, bombardeados por sentimentos.
A receita para esta desordem emocional é exercer a resiliência. Você pode encontrá-la em qualquer indivíduo com menos de 12 anos. A posologia se restringe a copiar as atitudes destes mestres da sabedoria. Quem está passando a quarentena com crianças na mesma casa pode fazer um upgrade de persona.
Pequenos grandes heróis
As crianças lidam com o novo como ninguém. Elas aceitam as situações da forma que lhe aparecem. Para elas, o que importa não é o que se fala e sim quem fala. O mais importante não é a guerra travada contra o vírus, mas se sentirem protegidas e amadas pelos pais. O que vale é olhar para o lado e ver a mãe fazendo um bolo de chocolate, o pai lendo uma história de ninar, os irmãos juntos correndo pelos corredores da casa, construindo acampamentos e jogando bola. A vida para os nossos filhos se faz pelos sorrisos e pelas coisas simples.
Os pequenos gênios aceitam ficar em casa, lidar com o estresse dos pais, não comemorar o aniversário na presença dos amigos, dar somente uma volta de carro e olhar o mundo por uma janela. Estes são os nossos pequenos grandes heróis! Professores da vida!
Aqui em casa tenho aprendido muito com as minhas crianças na pandemia. Confesso que no início foi tudo muito difícil, principalmente a questão das aulas online de três crianças em diferentes classes e horários. Cheguei a pensar que não iria dar conta, me atrapalhei todinha na primeira semana. Lembro que perdi a paciência e gritei com o meu filho porque ele estava demorando demais para fazer o dever de casa. O grito foi tão alto que assustei o Noah e ele começou a chorar. Eu também me assustei com a minha atitude, pois fazia meses que não gritava com meus filhos. Mas nesse dia, infelizmente, eu perdi o controle. Imediatamente, eu reconheci o meu erro e pedi desculpas para o meu filho. E ele me abraçou e disse: “está tudo bem, mamãe!” Está aí uma lição que devemos aprender com as crianças: elas perdoam muito fácil e o fazem rapidamente e sem reservas.
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Depois daquele abraço gostoso e de ter me reconciliado com o meu filho, perguntei pra ele o que a gente poderia fazer para solucionarmos o problema juntos. O Noah pediu então que eu o ajudasse a recortar a atividade de arte; eu ajudei e finalmente terminamos o dever daquele dia. Vi que tinha que utilizar estratégias para que o homeschooling fosse mais agradável e produtivo tanto para mim quanto para as crianças. Por isso, usei os ensinamentos da disciplina positiva para ter mais paciência, autocontrole, organização e estabelecimento de rotinas. Com o passar do tempo, fomos nos adaptando e aprendemos a gostar de assistir as aulas online e fazermos as atividades propostas. Recebemos até elogios das professoras pelo cumprimento das obrigações escolares pontualmente e com excelência!
Outra lição que tenho aprendido com as minhas crianças na pandemia é que elas aproveitam os momentos e as alegrias de agora; que elas são muito mais compreensivas e se contentam com pouco. Não reclamam das circunstâncias como nós adultos fazemos, vivem um dia de cada vez e sorriem sem motivo algum. Elas também estão sempre dispostas a aprender, sem se importarem com quem ensina. Falamos tanto sobre empatia, mas na prática é difícil encontrarmos um adulto empático. Já as crianças demonstram empatia o tempo todo. O mundo seria bem melhor se mantivéssemos o olhar empático da infância à vida adulta!
Enquanto pais somos eternos aprendizes. Somos imperfeitos, mas devemos estar em busca de um aperfeiçoamento! Tenho aprendido diariamente com as minhas crianças e por causa delas tenho me tornado uma pessoa melhor, pois procuro educar pelo exemplo. Sem falar que nós pais somos os primeiros professores dos nossos filhos. Temos a responsabilidade de educá-los até se tornarem adultos.
A Disciplina Positiva na primeira infância
Reflita comigo: você já parou pra pensar que a gente estuda para ser tudo na vida, mas que a gente não estuda para ser pai e mãe? É necessário preparo para educar as crianças, haja vista que esta tarefa não é fácil. Como pais e mães devemos educar e disciplinar a nós mesmos, então poderemos ensinar nossos filhos com o nosso bom exemplo, pois as crianças crescem de acordo com a influência daqueles que os cercam. Nas minhas consultorias como educadora parental, recebo com frequência a pergunta: quando devemos começar a educação da criança?
Segundo a autora Ellen White, a educação começa com o bebê nos braços da mãe. A obra de educação e preparo deve começar na infância, pois nessa fase a mente é mais suscetível a receber impressões e as lições dadas serão lembradas futuramente. As crianças devem ser educadas de maneira cuidadosa e sensata, pois os maus hábitos formados na infância vão fazer parte de toda a vida adulta. Os métodos de ensino tradicionais que conhecemos traz a ideia de que punições, castigos e recompensas são necessários para disciplinar a criança e/ou o adolescente. Todavia, essas técnicas são ineficazes. Há um ano e meio tenho utilizado as estratégias da disciplina positiva na educação das minhas três crianças e tem dado muito certo, por isso decidi compartilhar com outros pais a minha experiência positiva, a fim de ajudá-los a ter uma parentalidade mais leve e tranquila.
Eu e a psicopedagoga e também educadora parental Mariana Gambine criamos o Mater Class: escola de pais , que tem como proposta oferecer uma reeducação familiar com base na Disciplina Positiva. As crianças educadas com essa filosofia serão adultos resilientes, responsáveis, empáticos e capazes de solucionar problemas. A escola de pais mostra que a vulnerabilidade não é algo ruim e sim um degrau para a harmonia familiar!

Mariana Gambine e sua filha (acervo pessoal)
Em suma, peço permissão para retificar o início do texto: os super-heróis e as super-heroínas da vida real são aqueles que têm menos idade cronológica do que nós adultos. Nossos filhos possuem uma grandeza humana genuína e admirável. Pais, aprendam a ter resiliência e empatia assim como as crianças nos ensinam!
Co-autora desse texto: Mariana Gambine, psicopedagoga e educadora parental (Instagram: @marianagambine).
2 Comentários
Maravilhoso esse texto!
Muito obrigada, Veronica!😘