A vida pós-pandemia na Austrália
Assisto a vários filmes sobre o final do mundo e séries sobre zumbis. Quando começou a pandemia, não imaginei que o fim do mundo iria exigir pijamas e isolamento social.
É claro que isso é um exagero, mas que senti que era o final do mundo, sim senti.
Acho que em todo lugar do mundo vimos o impacto do medo, da insegurança, da incerteza assim que ouvimos que estávamos vivendo uma pandemia. Como disse em um outro post, o que mais me deixou insegura foi a possibilidade de meu filho prematuro pegar esse vírus. Ou um de nós.
A realidade do Covid-19 é dura. Triste e solitária. Pode parecer uma prisão para quem precisa somente ficar em casa, mas para quem teve a doença e para quem perdeu alguém amado é uma ferida e isso marca para sempre.
Assim que começou a pandemia, eu pensei que seria um tempo para olharmos para o que realmente importa e nos proteger. Eu me sinto abençoada por ter podido continuar em casa durante todo período da quarentena. Meu marido trabalhou de casa e eu mudei meus negócios para o ambiente online.
Minha filha é pequena então não sentiu tanto não ir para escola, na verdade ela adorou estar em casa. Aqui na Austrália, em meu estado Western Australia, não tivemos lockdown. Tivemos restrições, distanciamento social (que temos até hoje) e até drones circulando no nosso quintal para garantir que não tínhamos visitas.
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Pelo tempo que a quarentena na Austrália durou, meu marido era a única pessoa que saía de casa para ir ao mercado. As lojas continuaram abertas com precauções, porém nós decidimos comprar tudo online para evitar o risco.
Tivemos dois meses de casos, com os números subindo. Isso assustava e trazia insegurança. Escolas nunca chegaram a fechar completamente, mas a orientação era ficar em casa para quem pudesse manter seus filhos em casa. Mas quem não pudesse, a escola estava lá.
O governador da Western Australia reagiu muito bem. De acordo com 90% da população, agindo rapidamente. Todos os dias ele publica um relatório com detalhes sobre os casos, as restrições, no nosso Estado.
Sendo assim, dia 6 de junho entramos na fase 2 de abertura do estado. A vida pós-pandemia está quase normal. Em Perth, na verdade, não houve muitas transmissões comunitárias. Todos os casos foram de pessoas que voltaram do exterior, de outros estados e seus familiares. Tiveram muitos casos relacionados a um navio também. Mas isso é aqui em Perth. Victoria, o estado onde fica Melbourne, ainda há novos casos. Então a vida pós-pandemia ainda é rondada por certa ameaça.
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Em Perth, as escolas estão funcionando normalmente, bares e restaurantes, abertos. Pode ter aglomeração de até 100 pessoas seguindo as normas de distanciamento social. Os corredores do supermercado estão normais, lojas abertas, parques com famílias.
Todos estavam loucos para socializar. Nós inclusive! No primeiro final de semana pós-confinamento, parecia final de ano, quando temos que ver todo mundo. Loucura.
Porém, nada é igual.
Não existe “voltar ao normal”
Primeiro porque aqui as coisas podem estar calmas, mas o perigo é invisível.
Além disso, não tem como ficar tranquila com o Brasil do jeito que está. Nossos familiares vivendo com tanto perigo e medo. E não só lá, no resto do mundo. Como podemos dormir em paz com cada dia uma notícia ruim?
Qualquer tosse é um sinal de alerta. Cada notícia vem o medo: “será que vem uma segunda onda ai?”. Sinto uma necessidade imensa de abraços e contato físico, mas ao mesmo tempo temos receio de abraçar.
É uma coisa estranha, um momento de insegurança mesmo as coisas estando aparentemente bem. A incerteza do futuro dá medo.
Como será a economia, como será a nossa vida? Enfim, parece estranho pensar na economia em um momento de pandemia mundial. Porém, passado o stress, as preocupações vêm. E eu sei que vivemos em um país privilegiado que nos dá auxilio e nos permite ficar em casa. E agradecemos todos os dias as nossas escolhas que nos trouxeram até aqui. Mas sabemos que nem todos têm esse privilégio.
Esperamos do fundo do coração que o ” novo normal ” seja melhor do que o antes. Se tem uma coisa que ouço de todo mundo é que as pessoas mudaram com a pandemia. Que as prioridades mudaram, e a forma de viver também.
Como será a nossa vida mesmo? E os relacionamentos? Estou ansiosa para ver e viver. Espero que você também!
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