Enquanto parte da humanidade está tirando o atraso das séries, filmes e livros, as mães em quarentena, no dia que comem bem, não dormem ou no dia que fazem exercícios, não bebem água.
Mães não têm tempo de fazer tudo. Infelizmente temos que escolher o que dá para fazer.
Eu nem estou me referindo ao quanto aumentam os serviços domésticos com todos dentro de casa e quanto é difícil fazê-los com a casa em movimento. E quem tinha o privilégio de ter ajudante, não tem mais.
Enquanto muitas pessoas estão enlouquecendo sem ter o que fazer, famílias com crianças estão exaustas para mantê-las ocupadas e gastar a energia sem poder sair de casa.
Eu, que já estou há mais de 40 dias em quarentena (considerando desde quando as escolas do meu estado aqui na Itália fecharam), não me lembro quando foi a última vez que vi um filme ou li um livro!
Síndrome de ansiedade
Eu desenvolvi nesse período uma síndrome de ansiedade. Não é nada diagnosticado ou com o que os familiares tenham que se preocupar. Vou explicar.
Todas as vezes que eu começo a fazer algo, estar concentrada e a coisa pegar no tranco, um serzinho já me chamou 900 vezes. Quando não me chama, ele pula em cima de mim. Como é um pouco ogro, às vezes me machuca. Eu estou vivendo na defensiva para que ele não me machuque (risos).
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E se eu peço para ele esperar um pouquinho, ele começa a chorar como se fosse o fim do mundo (uma preocupação que tenho é se estamos criando seres humanos que não conseguem esperar).
Quando eu começo fazer algo, eu não consigo mais relaxar, mesmo que eu não seja interrompida. O meu coração bate desesperado esperando que alguém vá me requisitar a qualquer momento.
Para ter algum momento de concentração, eu estou indo dormir lá pelas 2 horas da manhã, que é quando a casa fica em silêncio total e eu consigo fazer algo sem essa taquicardia no peito.
Com certeza dormir no horário errado está me fazendo mal. Cientificamente são as primeiras horas da madrugada que liberam o hormônio do sono para que descansemos bem.
O lado das crianças
Eu sei que da mesma forma que está difícil para mim, está muito difícil para ele também.
Você pode imaginar? Ser uma criança que ama correr, pular e escalar e estar há 40 dias preso em um apartamento? É a primeira vez na vida que não temos um grande quintal.
Quarenta dias sem ver outra paisagem, quarenta dias sem sentir a liberdade, quarenta dias sem correr, quarenta dias sem ter contato com a natureza.
Ele também está no limite dele, tadinho!
Quando eu abro a porta do quarto dele, que dá para uma sacada, ele fica ali por um tempo sentindo o vento frio. Vai na sacada e grita à senhora do prédio da frente que é amiga dele. Ela não escuta, é do grupo de risco e está segura dentro do seu apartamento com as janelas fechadas.
Talvez, se você mora em um país quente, não entenda isso de ficar fechado. Mesmo que seja primavera aqui, está frio e estamos com os aquecedores ligados, não dá para deixar tudo aberto o dia todo.
Mas mesmo assim, para nossa sanidade, uma vez por dia eu abro tudo. Nesse momento, esqueço minha consciência ambiental (é maléfico para o meio ambiente porque o aquecedor precisa fazer mais esforço para re-aquecer o local). Não me entenda mal, eu sou super preocupada com o meio ambiente.
Crianças que não sabem brincar sozinhas
Meu filho ou quer atenção exclusiva para ele ou então fica paralisado na frente de um desenho animado. Sim, infelizmente estamos usando telas mais do que gostaríamos para enfrentar esse período. Eu tenho certeza que isso é nocivo para a saúde dele, visto que quando o aparelho é desligado ele fica super irritado e agressivo.
Me faz pensar muito: Será que as crianças dessa geração estão tão super estimuladas que não conseguem mais ficar ou brincar sozinhas? É bem raro as vezes que ele se distrai sozinho. Eu me pergunto: onde foi que erramos?
Mesmo com toda essa situação, ele nunca reclamou, em nenhum dia pediu para sair. Mas claro que já está precisando. Ele já não consegue mais lidar com os seus sentimentos, oscilando euforias incontroláveis que ele joga tudo para cima e choros dramáticos sem motivo.
Em todas as crises, sentamos e conversamos com ele, explicamos que está errado, ele pede desculpas, promete que não vai repetir o acontecido e meia hora depois já esqueceu de tudo…
Quando eu abro a porta do quarto dele, que dá para uma sacada, ele fica ali por um tempo sentindo o vento frio. Vai na sacada e grita à senhora do prédio da frente que é amiga dele. Ela não escuta, é do grupo de risco e está segura dentro do seu apartamento com as janelas fechadas.
Talvez, se você mora em um país quente, não entenda isso de ficar fechado. Mesmo que seja primavera aqui, está frio e estamos com os aquecedores ligados, não dá para deixar tudo aberto o dia todo.
Mas mesmo assim, para nossa sanidade, uma vez por dia eu abro tudo. Nesse momento, esqueço minha consciência ambiental (é maléfico para o meio ambiente porque o aquecedor precisa fazer mais esforço para re-aquecer o local). Não me entenda mal, eu sou super preocupada com o meio ambiente.
Home office
Provavelmente quem inventou o home office morava em uma casa enorme cheia de cômodos com isolação acústica.
É nesse momento que sinto falta da nossa casa grande da África do Sul, cujo quintal tinha mais de quinze árvores e um trampolim de quatro metros de circunferência. Com certeza estaríamos mais sãos lá.
Voltando ao home office, além de você estar preso em casa, você ainda precisa cuidar para que a criança não entre gritando em determinado cômodo e arruíne uma reunião importante.
Se você tem filhos, sabe que isso pode acontecer a qualquer momento. E isso acelera mais ainda a minha taquicardia.
Se você entende um pouco sobre energia também sabe que misturar a atmosfera de trabalho, lazer e descanso não é bom.
Espiritualidade
Enquanto as pessoas postam nas redes sociais aquelas frases bonitas do tipo: “O mundo parou e as pessoas leram mais, se conectaram mais, aprenderam um novo idioma, encontraram a paz espiritual… ” Eu fico aqui pensando: como vou me desenvolver espiritualmente, como pede o momento, nesse completo caos?
Eu fui preparada para esse momento. Não sei no que você acredita, mas a força maior que rege o universo na sua imensa sabedoria sabia que eu não aguentaria. Então nos últimos anos eu consumi variados conteúdos de desenvolvimento pessoal, estudei astrologia e fui iniciada em Reiki. Hoje entendo que foi uma preparação para não pirar nesse enclausuramento.
Se está sendo difícil com todo esse conhecimento, fazendo vários exercícios espirituais, entendendo a importância do momento planetário e o quanto a nossa vibração positiva conta, imagina sem isso?
A realidade
Não me entenda mal, eu amo muito meu filho e a minha família. Eu só estou cansada, fisicamente, mas sobretudo emocionalmente!
E se você está em quarentena com crianças e está sendo difícil, eu escrevo esse texto para te confortar. Embora algumas pessoas estejam encontrando ascensão espiritual, para outras famílias está custoso. E se você está exausta também, envio o meu abraço.
Leia mais: Uma família expatriada vivendo o Coronavírus na Itália
Eu tenho certeza que vai ficar tudo bem, não há mal que dure para sempre e esse também vai passar. Com certeza vamos olhar para esse momento no futuro e vamos entender porquê passamos por isso.
Mas hoje eu só estou vivendo um dia de cada vez, agarrada com o meu Buda interior para não pirar.
Vamos continuar essa conversa? Me conte nos comentários como está sendo a sua quarentena e como seus filhos estão lidando com ela.
6 Comentários
Adorei o texto e me identifico muito! Não consigo ler, as tarefas diárias aumentaram, quando durmo acordo frequentemente como se alguém estivesse me chamando….
É um momento muito desafiador né? Um abraço para você!
Tati um abraço apertado! Imagino que não esteja fácil <3
Muito obrigada Priscila, recebo seu abraço com muito carinho!
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