Não é novidade para ninguém que a Itália vem enfrentando uma epidemia causada pelo coronavirus. A Tatiane Paiva fala em seu texto publicado hoje sobre a epidemia de uma maneira geral. Ela conta um pouco como governo italiano precisou tomar algumas medidas de prevenção e segurança. E uma delas, que na minha opinião é a mais impactante, foi o fechamento das escolas por um determinado período.
Essa decisão foi inicialmente tomada nas regiões consideradas como “zona rossa” (zona vermelha), que são as áreas onde existiam números preocupantes de casos do coronavirus e suspeitas ao norte do país. Como moro mais ao centro, na região da Toscana, acompanhei a medida apenas pela televisão, levando e buscando minhas crianças normalmente na escola. Até que uns 15 dias depois, a decisão foi estendida a todo país.
Tal notícia chegou para nós do dia para noite. E confesso que mesmo com o fechamento das escolas ao norte, nós aqui na Toscana não esperávamos que aconteceria conosco. Talvez por a vida estar girando de forma normal e corriqueira e estarmos acompanhando tudo pela TV, isso nos desse uma sensação de que fosse algo distante. Não sei dizer. Só sei que muitos pais relutaram e taxaram a medida como um exagero num primeiro momento.
Eu mesma fui uma que torci muito para que isso não acontecesse. Mas, se o governo assim decidiu, não tenho o que fazer, a não ser aceitar e encarar. Mas no exato momento em que recebi a comunicação oficial da escola suspendendo as aulas, inicialmente por 10 dias, bateu aquele desespero básico! E agora?! Como vamos fazer com essas crianças em casa sem estudar?! Vontade de chorar!
O uso da tecnologia
Entretanto, mal chegou a tal comunicação oficial das escolas, já recebemos uma outra da escola da nossa filha mais velha. Nesta última nos informavam que os professores da escola (pública) estavam reunidos e se organizando (por conta própria) para criarem uma classe virtual utilizando um aplicativo para poderem trabalhar à distância com as crianças. Informaram-nos ainda que esse aplicativo já era utilizado por eles com as classes mais velhas e se tratava de uma plataforma segura e gratuita. Assim todos poderiam ter acesso e os pais poderiam ficar tranquilos.
Não durou o tempo de um dia para que as instruções de uso chegassem para nós. E logo no segundo dia de aulas suspensas, nossa filha já estava assistindo aos vídeos e fazendo as tarefas e textos na plataforma. Não sei se estou velha, desatualizada, mas juro que fiquei chocada com a rapidez e eficiência do corpo docente da escola. Eu vivi para ver meus filhos estudando em casa numa classe virtual! Só eu que me impressiono ou vocês também?
Tudo bem que eles já usavam tablets/smartphones em algumas matérias na escola, estão sempre fazendo trabalhos com o computador, internet, e que estamos a mais de 20 anos à frente da época que eu estudei, mas o que mais me impressionou foi o interesse, a preocupação e a velocidade dos professores.
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A escola é pública, mas isso não foi ordem do governo. Foi iniciativa deles, dos próprios educadores! E isso não ocorreu em todas as escolas. Não! Cada escola está se organizando como bem entende e pode. A do meu filho mais novo, por exemplo, não montou classes virtuais, porém envia tarefas e páginas para estudos diariamente pelo registro eletrônico que nós pais temos em nossos celulares.
Conversando com demais amigas aqui da mesma cidade que eu, descobri que uma outra escola também vem montando sua própria plataforma e que outras, também do mesmo grau de escolaridade da minha filha mais velha, vêm usando apenas o registro eletrônico com envio de tarefas.
No norte do país
Conversei com uma colega também colunista da Itália aqui do Mães Mundo Afora, Carla Bottino, que mora na cidade de Padova, na região do Veneto ao norte da Itália que foi afetada primeiro pelo coronavirus. Lá as escolas estão fechadas há mais tempo. Segue o que ela me relatou sobre a experiência de seus filhos nesta situação:
“Como tenho um filho no 2o ano da scuola media e uma no 3o ano do liceo (equivalente ao Ensino Médio), estamos vivendo situações bem diferentes. O uso das tecnologias depende muito do professor, de ele estar adaptado ou não.
Minha filha do liceo tem tido aula no estilo webinar e tem assistido vídeos e feito exercícios online, com tempo para a realização. Alguns desses exercícios, inclusive, valem nota. Também faz exercícios para serem entregues e alguns professores criaram chats para correção de exercícios.
Vale dizer que apesar da escola disponibilizar um sistema que permite o uso de diferentes metodologias de ensino à distância, poucos professores já o utilizavam antes desta necessidade.
O pequeno tem recebido tarefas para fazer em casa. Na semana que vem terá duas provas – uma de italiano, uma redação, e de história da arte, também discursiva. Farão a prova em casa, no horário da aula e precisarão fazer o upload no sistema da escola. Sei que vou precisar estar por perto, pois ele não tem muita intimidade com o computador.
Apesar de serem duas realidades diferentes, ambos se lamentam da grande quantidade de trabalho em casa. De fato, ler 80 páginas de filosofia não é o mesmo que assistir o professor dando as explicações. Trocar uma aula de física por um vídeo explicativo da matéria e outros 50 exercícios dá um certo desânimo. O tempo na escola passa muito mais rápido e é muito dinâmico. Estudar em casa exige muita disciplina e concentração, mas tudo vale a pena se o objetivo é preservar as férias de verão.
A questão da compensação dos dias de escola fechada ainda não foi regulamentada, mas acreditamos que toda essa quantidade de tarefas é para não precisarem estudar nas férias.”
E assim seguimos, sem ter a certeza de quando nossos filhos poderão retornar a frequentar às escolas normalmente. Sem saber se esse período será reposto ou não nas tão esperadas e sagradas férias de verão italianas. Porém, com a certeza de que o estudo deles é levado a sério e respeitado por quem os ensina.
*No fechamento deste texto, as escolas das zonas rossa estavam fechadas desde o dia 24/02 por conta do coronavírus. As escolas de todo o país foram fechadas a partir do dia 05/03 e dia 08/03 todo o país entrou em quarentena até dia 03/04.
Você também pode assistir ao vídeo da nossa colunista Tatiane Paiva sobre a quarentena na Itália clicando aqui
7 Comentários
Tatiana, eu também concordo com você que as escolas, o governo e os envolvidos com a saúde do país estão dando o seu melhor! Embora a situação seja um pesadelo é bom ter a certeza que estão fazendo o melhor que podem. Se cuida ai! Bjos
Na Espanha também, todas as escolas fechadas a princípio por 15 dias. A minha cidade nem esta no circulo de fogo, mas nao teve jeito, todo mundo foi incluido, talvez porque ha muita gente com gripe comum e nessa loucura e pânico ninguém mais confia que uma tosse possa vir do velho influenza. Ruas com pouquíssimo movimento e pessoas inclausuradas em casa.
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