O velho ditado “nasce uma mãe, nasce uma culpa” parece estar cada vez mais verdadeiro no mundo em que vivemos. E, se levarmos em conta as mães imigrantes, este a culpa materna parece dobrar de tamanho.
São inúmeros os casos de mães que me relatam sentir culpa todos os dias e a todo momento: “sinto culpa porque hoje meus filhos não comeram legumes, culpa por eles terem ficado muito tempo na frente de eletrônicos, culpa por eu não ter ficado muito tempo com eles, culpa por ter que trabalhar muitas horas, culpa por não brincar o suficiente com eles, culpa por ter gritado e perdido a paciência e até culpa por ficar cansada do dia a dia.”
Depois de pintarem esta cena drástica, vem a pergunta: Como eu me livro deste sentimento que me persegue?
Minha resposta é sempre a mesma. Precisamos primeiro entender de onde vem e como este sentimento te afeta para depois adicionarmos estratégias para diminuir a culpa materna.
A função e os aspectos da culpa
Quando paramos para pensar, a culpa é um sentimento que nos auxilia a viver em sociedade. Ela serve como um gentil lembrete de que nossas ações em relação aos filhos são importantes. Ela até nos inspira a ter um envolvimento mais produtivo, a pedirmos desculpas ou a mordermos a língua.
Mas então quando a culpa vira nossa inimiga?
Se a culpa é a sua principal emoção, substituindo sentimentos de orgulho, afeto e empatia, isso afetará negativamente a sua maternidade.
E porque para certas mulheres a culpa tende a ser mais negativa do que positiva?
Para responder esta pergunta devemos refletir sobre o tipo de pais que tivemos e como estes nos ensinaram a lidar com o sentimento de culpa. Por exemplo: pais rígidos, críticos ou que sofrem de depressão e ansiedade favorecem a autocrítica e a vitimização, o que gera maior sentimento de culpa, enquanto pais compreensíveis que ofertam elogios e suporte favorecem a capacidade de se perdoar e diminuir o sentimento de culpa.
Este é apenas um dos fatores que interferem no nosso relacionamento com a culpa. Existem outros aspectos da culpa materna que devem ser levados em consideração, como:
- Ela existe o tempo todo, pois acompanha o amadurecimento dos filhos. Este amadurecimento significa constantes transformações, que favorecem o aparecimento de erros e o aumento da culpa.
- Ela está conectada aos nossos ideais criados sobre a figura de mãe que desejamos ser (quando meu ideal de mãe está muito longe da realidade, irei sentir mais culpa).
- A culpa na maternidade aumenta devido à quantidade de informações que temos hoje, nos impulsionando a questionar nossas escolhas.
- Ela aumenta com a falta de uma boa rede de suporte: amigos e familiares que te escutam, te compreendem e oferecem suporte.
- A culpa materna aumenta quando sofremos de ansiedade ou depressão.
Leia também: Por que as mães choram?
A culpa materna e a expatriação
Além desta lista, devemos também levantar atenção aos aspectos relacionamos à expatriação, que:
- Aumenta a culpa por estarmos longe da família e amigos.
- Aumenta a culpa por propiciar experiências diferentes aos filhos daquelas que tivemos.
- Aumenta a culpa por estarmos imersos numa cultura diferente da nossa.
- Aumenta a culpa porque devemos dar conta de fazer mais coisas do que fazíamos no Brasil.
- Diminui por termos melhor qualidade de vida.
- Diminui por acreditarmos oferecer melhores oportunidades aos nossos filhos.
- Diminui por percebermos ser fortes e capazes de viver em outro país.
Refletir sobre todos estes aspectos que influenciam nossa relação com o sentimento de culpa pode auxiliar para que ela se torne mais manejável.
Contudo, é também importante adicionarmos práticas de auto compaixão em nosso dia-a-dia para ajudar na libertação da culpa. A ideia é criar um novo hábito, o de nos tratamos com maior compreensão, amor e aceitação. E todo hábito demanda tempo de prática para se fortalecer.

A auto compaixão deve ser praticada diariamente. Foto: Pixabay.
O amor próprio a favor da libertação da culpa
A melhor forma de praticar o amor próprio é através de exercícios de mindfulness (atenção plena). O mindfulness possibilita tomar consciência do momento presente e o preencher com auto compaixão.
Então vamos lá, tente fazer esta prática refletindo e respondendo as perguntas. Primeiro se ajeite no local em que está agora, ache uma posição confortável e tente trazer sua atenção para estas palavras, deixando de lado ruídos, preocupações e outros pensamentos.
Agora traga para sua mente um episódio em que você fez algo que até hoje você se lembra com vergonha e até certo humor, desacreditando que você foi capaz de fazer aquilo. Pense em cada detalhe, quem estava lá, aonde aconteceu, o que você falou ou fez. Permita se sentir desconfortável, mas se ficar quase insuportável tente pensar em outro acontecimento que seja mais fácil de lidar.
Em seguida, tente se lembrar de todas as palavras e frases que você disse para você mesma, como você se criticou após o episódio.
Agora imagine que sua melhor amiga veio te contar que ela passou por este mesmo episódio e ela está se sentindo muito mal por ter falado ou feito aquelas coisas. O que você diria para sua melhor amiga na tentativa de fazê-la se sentir melhor?
É provável que as frases e palavras que você costuma oferecer às suas amigas sejam bem diferente daquelas que você direciona a si mesma. Estou certa?
Portanto, agora repita para você mesma as frases que você diria à sua melhor amiga. Faça isso três vezes.
Como você se sente ao escutar estas palavras? Estranha? Acolhida? Confortada?
Esta é uma prática valiosa para nos ajudar a perceber como somos duras, críticas e muitas vezes avassaladoras de nós mesmas. Mas, se conseguirmos trocas as palavras duras pelas frases que direcionamos à nossa melhor amiga, podemos aos poucos irmos criando o hábito de nos tratarmos com mais amor e aceitação.
Espero que esta reflexão tenha te trazido um pouco de conforto e que aos poucos você crie forças para diminuir o sentimento de culpa materna que nos aterroriza constantemente.
Leia também: Mães, vocês sabem como praticar o autocuidado?
2 Comentários
Oi Nádia, seja muito bem vinda ao MMA😘. Acabei de ler seu texto e gostei muito da forma como você expôs o tema.
Muito obrigada por compartilhar🙏🏾
Muito obrigada Luciana pelas boas vindas e pelo suporte.