Hoje eu vou contar para vocês como foi a primeira experiência da nossa família com uma data que nunca havíamos ouvido falar enquanto morávamos no Brasil, a Befana. Quem me acompanha aqui no Mães Mundo Afora, sabe que chegamos de mudança aqui na Itália em julho de 2017. Desde então, estamos aprendendo muito com a cultura local.
Em dezembro de 2017, passamos nosso primeiro fim de ano longe da nossa família. Apesar de estarmos em outro país e distante da nossa “grande família”, não tivemos muitas diferenças culturais em comparação ao que estávamos acostumados no Brasil.
A maior novidade para nós veio alguns dias após os feriados festivos de Natal e Ano Novo. Toda a Itália festeja o dia de Epiphany, que é para nós no Brasil, numa tradução beeeem simplória, o Dia dos Reis Magos. Para os brasileiros, significa somente o dia do tradicional desmonte dos enfeites e árvore de Natal e não é festejado como aqui. Foi neste dia que descobrimos a tão famosa BEFANA!
Afinal, quem é a Befana?
A Befana é uma velha corcunda e feia, com um nariz e um queixo pontiagudo, vestida de trapos e coberta de fuligem, porque entra nas casas através da chaminé. Na noite entre os dias 5 e 6 de janeiro, fechando os feriados de fim e início de ano, enquanto todo mundo dorme, ela coloca presentes e doces nas meias das crianças penduradas nas lareiras. Aos bons miúdos, deixa doces e mais doces; aos maus, deixa pedaços de carvão. Hehehe.
Começamos a ver pelo comércio da cidade meias dessas que penduramos nas lareiras no Natal lotadas de doces. E óbvio que a nossa curiosidade aguçou e começamos a perguntar e nos informar. Como as crianças estavam de férias, sem o contato diário dos amiguinhos locais, nem ficaram sabendo dessa ansiosa espera pelos doces.
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O grande dia
O pai comprou as meias e as escondeu. E na madrugada do dia 5 para 6 de janeiro, como reza a lenda, pendurou-as na lareira. Acordei já pedindo a ajuda das crianças para desmontar os enfeites de Natal e guardarmos. Quando elas chegaram na lareira e viram as novas meias cheias, foram correndo ver o que tinha dentro. Imaginem a cara deles quando abriram e viram aquela quantidade de doces? Era muita felicidade! Mas não estavam entendendo muito o porquê daquilo. Foi quando contamos que a Befana apareceu no céu na virada de noite com sua vassoura, para dar doces ou carvão vegetal, dependendo se as crianças tinham sido boas ou ruins.
Aproveitamos ainda para conectar a Befana com a nossa crença religiosa, contando uma lenda que explica a coincidência:
Numa noite de um inverno frio, bateram na porta da casa da Epifania três personagens elegantemente vestidos: eles eram os Reis Magos que, de longe, tinham saído para prestar homenagem ao menino Jesus. Perguntaram-lhe onde estava a estrada para Belém e a velha senhora apontou-lhes o caminho, mas, apesar de suas insistências, ela não quis se juntar a eles, porque tinha muitas tarefas para fazer. Depois que os três reis foram embora, ela sentiu-se arrependida ao rejeitar o convite e decidiu alcançá-los. Saiu para procurá-los, mas não conseguiu encontrá-los. Então bateu de porta em porta deixando um presente para cada criança na esperança de um ser o menino Jesus. Assim, desde então, tem continuado por milênios, na virada da noite entre 5 e 6 de janeiro, fazendo entregas com sua vassoura…
As crianças entenderam a história e curtiram por terem “sido bons” durante o ano e presenteados pela bruxinha. Logo um dia ou dois depois, iniciavam-se as aulas, findando as pequenas férias de inverno. Eles estavam super entusiasmados para conversar e contar para aos amigos.
Inserção na cultura local
Aqui em casa achamos interessante inserir nossos filhos na cultura local, festejando como seus colegas as tradições italianas. Porém, no ano passado li algumas opiniões diversas. Lembro-me de ter postado fotos das crianças com suas meias e doces na rede social e ter recebido algumas críticas. Assim como também me lembro de outra colega, mãe brasileira também moradora aqui da Itália, que desabafava na rede social que queria educar seus filhos a não comerem doces por “n” motivos, mas a tradição dizia que tinha que dar, porque todas as crianças iriam receber e a sua não poderia ser a “diferentona” e “excluída”. Situação difícil também a dessa mãe!
Mas quem disse que educar é fácil? Para mim, essa é uma das tarefas mais difíceis que tenho na vida. Acredito que tais circunstâncias sejam ainda mais comuns na vida de nossas famílias multiculturais. Aprendemos a lidar com as diferenças e nossas crianças acabam tendo que enfrentá-las também. Então, fica aí mais uma dúvida para nós pais pensarmos e refletirmos.
4 Comentários
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Oi, Tatiana! Adorei saber mais sobre a Befana! Estou lendo o primeiro romance da Tetralogia Napolitana da Elena Ferrante e a autora faz toda uma menção ao Dia da Befana. Eu ficava tentando imaginar como era enquanto lia…agora o livro ficou bem mais vivo para mim! Obrigada!
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Que legal, Arthur e Bruna estão lindos, e com cara de muito felizes com essa nova tradição.