Pai não é coadjuvante na criação dos filhos
Em muitos países temos um dia específico para comemorar algumas datas, como o Dia dos Pais ou das Mães, por exemplo. Mas essa é só uma forma de lembrarmos especificamente de uma função familiar. Ao meu ver, todo dia é dia de todos os personagens familiares. Ao pensarmos na figura do pai-afeto nos aproximamos dele e o humanizamos. Muitos são os pais que vivem a paternidade intrinsicamente – pai não é coadjuvante e nem deve ser. Ao viverem inteiramente essa função o exercem de forma mais harmônica e feliz.
Isso me fez perceber na minha vivência como mãe e esposa que para os homens que ainda estão em processo de reconhecimento de si e desta função, o caminho do acolhimento pode ser uma trilha que sintonize toda a família. Entendo que esta via dá espaço e tempo para esse pai, e torna o ambiente convidativo à participação colaborativa. Ao mesmo tempo, dá suporte àqueles que desejam compreender qual é a função desses vários personagens que trabalham conjuntamente para a formação familiar.
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Esse aprender a exercer tantos papéis sociais na vida e o desafio de fazê-lo “de mãos dadas”, só pode ser alimentado pelo combustível chamado amor. O amor deve ser o motivador e o que nos torna capazes de superar tantas dificuldades e obstáculos. Assim sendo, é possível construir e promover a liberdade para executarmos da melhor maneira possível as nossas funções.
Sempre escuto a frase: “Uma mãe nasce quando um bebê nasce”, e entendo que também é assim para os pais. Nós mamães somos lapidadas diariamente através de toda a demanda dos nossos pequenos. Os pais, assim como nós, estão em um processo de aprendizagem e construção.
Como comemoramos o Dia dos Pais
Aqui na Alemanha, o Dia dos Pais costuma ser comemorado no mês de maio, duas semanas depois do dia das Mães. Porém este dia não é só chamado de Dia dos Pais, mas também é chamado de Dia dos Homens. Diferentemente de como se costuma comemorar no Brasil, nesse dia os homens mais adeptos às tradições locais costumam se reunir e festejar entre eles a data.
No jardim de infância dos meus filhos, por exemplo, dificilmente as crianças fazem atividades voltadas para o tema “Dia dos Pais”. Como somos brasileiros, eu tento sempre preservar nossos costumes, sem confrontar com os costumes alemães. Creio que para as crianças, a administração destas duas datas de forma natural, sem fazer distinção de valor entre elas, seja o melhor caminho. Sendo assim, quando as crianças fazem alguma atividade na escola com esse tema, nós fazemos uma comemoração com a entrega da atividade para o papai. Mas a data de comemoração que prevalece é a brasileira, com direito a uma verdadeira e alegre celebração! As crianças se divertem, adoram comemorações, especialmente quando contamos como é lá no Brasil.
Entendo que é importante comemorar esse dia assim como o Dia das Mães é comemorado. Ambas as funções, pai e mãe, são de relevante importância para a formação da base psicológica infantil e fortalecimento dos objetivos familiares comuns. A celebração de certa forma auxilia na construção de significado em conjunto, no âmbito familiar, e promove também o reforço dos laços afetivos. Estar com os filhos enquanto eles conhecem o mundo através das vivências em conjunto é uma experiência mútua de aprendizado e divertimento.
Com a palavra: o Pai
E para dar voz ao principal personagem deste texto, convidei um pai brasileiro, meu marido Eduardo Sanseverino, para dividir conosco um pouco daquilo que ele entende sobre ser pai.

Arquivo pessoal – Eduardo e filhos.
– Como foi se tornar pai para você?
Minha responsabilidade duplicou. Quando me tornei pai, muitas coisas passaram pela minha cabeça. Primeiro a provisão – como prover de forma satisfatória cada necessidade de subsistência dos meus filhos. Depois, a preocupação em ensinar tudo que um pai sabe para que seus filhos não passem pelo que passamos. E, em terceiro lugar, prever acontecimentos futuros e ensiná-los para que possam evitar problemas e sofrimentos.
– Qual o papel que o pai deve ter na criação dos filhos?
Ser o melhor amigo deles. Acho que estabelecendo uma relação de amor, amizade, respeito mútuo, cuidado e parceria, conseguimos ser autoridade na hora devida, ser aquele que protege e provê e ser aquele que ensina, que dá conselhos através do diálogo, que transmite valores através das suas experiências. Ser pai não é ser coadjuvante na criação dos filhos. Ser pai para mim é “meter a mão na massa”, cuidando não só com palavras, mas também com ações do dia a dia, como dar banho, trocar fralda, escovar os dentes, colocar para dormir. Os laços são criados através do diálogo e através da ação concreta em cuidar do outro.
– Como você percebe o olhar dos seus filhos em relação a você?
Eu acho que eles me veem como um super-herói de fato (risos). Eu acho que eles pensam que eu tenho “poderes mágicos” por conta das brincadeiras que fazemos juntos. Além disso, eu creio que eles me veem como uma figura de autoridade e de amizade. Eles sabem que sempre poderão contar comigo, pois sempre me procuram para me contar aquilo que os entristeceu, como foi o dia na escola, aquilo que viram na TV e o que querem de presente. E principalmente, a frase “Eu te amo”. Ouvir isso de um filho quer dizer muita coisa!
– Na relação entre pai e filhos, o que você acha mais importante? E o que você acha que eles acham mais importante?
Para mim, estar sempre presente participando de todas as fases da vida de cada um deles é o mais importante. Acho que para eles é quando brincamos juntos.
– Como é ser pai de um casal com pouca diferença de idade?
Ser pai de um casal foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para mim! No começo foi bastante complicado lidar com crianças tão pequenas e com idades tão próximas. Eu me senti perdido e cansado. Os bebês dependem muito de nós. Mas aos poucos as coisas foram ficando no lugar, à medida que eles foram crescendo. Falando das diferenças entre ser pai de menina e ser pai de menino, eu acabo tendo a tendência em ter maior cuidado com a menina, em protegê-la mais. Já com o menino eu tenho a mesma preocupação, porém costumo dar maiores desafios a ele.
– Como é ser um pai brasileiro dentro de uma sociedade multicultural como a que temos aqui na Alemanha?
Um desafio! Temos que entender que nossos filhos aprenderão coisas que não aprendemos por termos vindo de outra cultura. Nossa cabeça tem que mudar para estarmos aptos a entender o novo, a cultura na qual estamos inseridos e que nossos filhos crescerão. Eu acho que meus filhos ficarão com um pouco de cada cultura, a brasileira e a alemã. É preciso apreender o novo para ajudá-los a crescerem e se desenvolverem. Entendo que o movimento é: todos nós aprendemos juntos, eu como pai brasileiro em uma cultura diferente da minha de origem e eles, na cultura onde crescerão.
Para finalizar, sugiro uma trilha sonos para embalar o Dia dos Pais na sua casa! Clique nas dois links para ouvir e refletir sobre os sentimentos de um pai: Só pra So e Espatódea.
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