Minha mãe sempre amou Natal. Na minha casa a árvore era montada assim que virava o mês de novembro e tinha uma decoração diferente todo ano, escolhida com amor e carinho.
Como era o natal quando eu era criança
O Natal era também quando eu via toda a família. A família da minha mãe é de Curitiba e do meu pai de Jundiaí. Passávamos a maioria dos Natais com a família de Curitiba, e minhas melhores lembranças são da bagunça na casa da minha vó, e todo mundo junto. Quando eu tinha em torno de oito anos, deu uma briga com a família e paramos de ir para Curitiba no Natal.
Passamos algumas festas viajando para outros lugares até que um casal de amigos da família nos acolheu, e após alguns anos, meus pais compraram uma casa de praia em Itanhaém, de onde vem as melhores memórias da minha infância.
O Natal na minha casa era como de muitas famílias. Roberto Carlos ou Simone tocando, árvore de Natal, muitas luzes pela casa, muita comida, muitos presentes e a figura central da noite: Papai Noel, ou seja, meu pai. A coisa em casa era tão grande, que após entregar os presentes em casa, meu pai saia pelas ruas da cidade, distribuindo presentes para outras crianças, pegando chupetas de crianças que confiavam que aquele estranho era o ser mitológico que estava em todos os lugares na noite de Natal.
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Nem lembro quando descobri que tudo aqui era uma grande encenação e toda aquela magia, uma grande fantasia alimentada pelas pessoas que mais me amavam no mundo, tentando dar uma infância linda e cheia de magia. Minha irmã seguiu minha mãe e até as crianças descobrirem a verdade, ela até contratava Papai Noel e duendes.
Claro que não tenho traumas. Tive uma infância linda, cheia de amor e boas recordações. Porém, quando nos tornamos pais, reavaliamos tudo e pensamos o que queremos para os nossos filhos. Eu fiz isso e faço, todos os dias. Entendo que meus pais fizeram o melhor que podiam e serei eternamente grata a eles, mas por mais amor que temos, o relacionamento com meus pais sempre foi complicado. Outra geração, outra criação mais na base do medo que da confiança.
Porém, as melhores recordações da minha infância e nos natais eram e sempre foram, estarmos juntos.
E uma história que aconteceu e me marcou muito. Eu não lembro quem me contou, sempre achei que tinha sido com meu sobrinho, mas minha irmã não lembra. Bem, essa criança sempre foi bem ligeira e quando descobriu que Papai Noel não existia, e sua mãe, com toda a psicologia que tem, explicou muito bem a razão. Então ele vira e fala: “ok mãe, mas então que idade que podemos começar a mentir?”. Isso sempre ficou na minha cabeça, pois aquela criança estava certa. Por mais que a intenção seja boa, o Natal com papai Noel é uma grande fantasia inventada pelos adultos.
Uma nova forma de enxergar o Natal
Eu sou Educadora Infantil, apaixonada por uma educação holística. Minha casa é Montessori, praticamos a comunicação não violenta (CNV), tratamos eles com respeito, sempre falo a verdade de uma forma que seja compreensível a eles, leio, pesquiso. Com Natal não podia ser diferente.
E quando nos vemos pais, temos que decidir tanta coisa que é estressante e cansativo. E sem contar que somos duas pessoas diferentes com criações diferentes. Nosso primeiro ano como pais, tivemos uma de conversas e decisões a tomar. O Natal foi tranquilo pois minha filha, Amanda era pequena. Ela ganhou um presente, comemos juntos, passamos dia 25 com amigos e foi uma delícia exatamente sobre o que Natal, deve ser para nós: amigos, família e estar juntos.
Meu marido tem lembranças lindas de sua infância montando árvore portanto ele e meus filhos cuidam de montar a árvore e decorar a casa. Ano passado já foi um pouco diferente até porque meus sogros estavam aqui e mais especial por ter família perto. Meus sogros respeitaram nossa vontade e ninguém mencionou Papai Noel (na verdade devem ter mencionado uma ou duas vezes, mas de boa).
Esse Natal minha filha tem três anos e meio e meu filho um ano e meio. Ela entende muito bem e decidimos que nosso Natal não teremos Papai Noel e vou explicar por quê. Antes gostaria de deixar claro que não julgo ninguém por suas escolhas e esse post não tem intenção de dizer que eu to certa/errada. São decisões e escolhas pessoais e diferentes. Só isso.
A primeira razão é porque não quero criar uma fantasia para meus filhos. Nunca fiz, falamos sempre a verdade de um jeito que eles entendam e não ia começar agora. E veja, ao escrever isso não estou julgando os pais que decidem incluir Papai Noel em seu Natal. Porém, para nós, não faz sentido ser honesto em tudo, o tempo todo e não sobre isso.
Presentes e Natal
Outra razão é porque não queremos que Natal seja vinculado a presentes, mas a família, estar juntos. Cartinha para o Papai Noel incentiva o consumismo de uma forma que me incomoda muito. Somos holísticos em casa, no aniversário das crianças pedimos dinheiro para estudo, experiência ou caridade. Não faz menor sentido o Natal ser centrado em presentes. E confesso, que a ideia de minha filha sentar no colo de um estranho para ganhar bala não me agrada. Vale ressaltar que Papai Noel não é vinculado a presente em todas as culturas.
Natal é uma festa cristã, e meus filhos sabem que celebramos o nascimento de Jesus. Amanda tem um livro que conta sobre o nascimento dele. E falamos da história de São Nicolau, que é linda e muito especial. Porém hoje em dia, Papai Noel é relacionado a presentes e não acho justo o lance de ele trazer presentes, sendo que quem realmente os dá são pais, tios, amigos que trabalharam muito para poder comprar coisas bonitas para as crianças.
Outra coisa que para mim nunca fez sentido: o condicional de ganhar presente relacionado ao bom comportamento. Isso porque, pelo que sigo, estudo e acredito, a criança não se comporta mau porque quer, mas porque não consegue se comportar bem por uma necessidade ou carência de algo.
Recentemente eu li um texto do Gabriel Salomão que traduz o que penso em relação ao Papai Noel. E uma das coisas que mais me tocou do texto dele, é que o Papai Noel é desnecessário no Natal por tudo que ele representa, que pode ser substituído por praticar tudo que ele representa o ano todo: amor, caridade, generosidade e gratidão.
Essa frase do texto do Gabriel Salomão sintetiza minha opinião sobre seres fantasiosos, que não existem: “Para Montessori, a imaginação da criança deve desenvolver-se tendo como base a realidade. Ela explica que todos os grandes artistas eram, antes de tudo, excelentes observadores do mundo real. Sua imaginação e sua criatividade não partiam das histórias de fantasia que, sem dúvidas, conheciam, mas da extensão de seu raciocínio e de sua capacidade de observação.”
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Aqui em casa, personagens são isso, personagens. Não alimentamos, mas não enfatizamos nos mesmos. Assistimos desenhos, mas já tivemos conversas de “filha, essa é a pessoa Emma, o trabalho dela é ser a Emma Wiggle, como é o trabalho da mamãe ser professora”. Porém essas respostas partem deles. Papai Noel não existe. E é símbolo de amor, caridade, generosidade e gratidão. E isso que praticamos em casa, o ano todo, não só no Natal.
Quanto aos presentes para as crianças, bem eu amo dar presentes, mas não enfatizamos os presentes e nem perguntamos o que eles querem. Compro baseado no que eles estão interessados. E quando amigos e família dão ou enviam presentes, falamos quem realmente os deu.
Nosso Natal não é menos mágico por não envolver Papai Noel. É um momento lindo com família e amigos. Minha filha ama, e meus filhos trouxeram para meu coração um resignificado ao Natal que havia se perdido com a passagem da minha mãe. O amor e a família são o verdadeiro sentido do Natal aqui em casa. E para você? Qual o significado do Natal?
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