O Natal se aproxima e os cristãos ao redor do mundo comemoraram o nascimento de Jesus. Aqui em Israel não é diferente, porém a festa do Natal na Terra Santa não tem, nem de longe, a magnitude do que conhecemos no Brasil. Obviamente isso se dá pelo fato dos cristãos serem uma minoria de 2% da população.
Em contrapartida, podemos comparar o Natal aqui com o Hanukkah ou Chanucá no Brasil. O Hanukkah é um feriado móvel judaico que muitas vezes coincide com o Natal e é erroneamente chamado de Natal dos Judeus. Bem, como somente 0.06% da população brasileira é judia, a comemoração do Hanukkah acaba sendo exclusividade da comunidade judaica e não tão percebida pela maioria da população.
Então, como é o Natal aqui?
Bem, depende. Levando em consideração que uma minoria da população de Israel é cristã, não é de se estranhar que só se sinta o Natal nos lugares onde há concentração de população árabe-cristã, isto é, em geral em uma pequena parte de Jerusalém Velha, em Jaffa – um bairro de Tel Aviv, Belém e Nazaré. Nesses lugares há árvores de Natal e presépios montados em praças, pode-se comprar fantasia de Papai Noel, estátua do menino Jesus e tudo que simboliza a festa. As igrejas fazem suas missas e os fiéis saem em procissão.
No entanto, quem não mora perto desses lugares só escuta falar do Natal no noticiário que reporta a festa aqui e ao redor do mundo. Vale lembrar que, embora Israel seja um país judeu, ele é ao mesmo tempo democrático, o único país democrático no Oriente Médio que promete e cumpre com a liberdade de religião, consciência social e igualdade política, independentemente da filiação religiosa.
Para os árabe-cristãos o Natal é a maior das festas religiosas, consequentemente para eles é feriado, as famílias se reúnem e celebram o nascimento de Jesus. Já para quem não vive onde mencionei acima, o dia 25 de dezembro é um dia normal de trabalho.
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Para uma parcela dos imigrantes russos que se casaram com judeus ou tinham parentes judeus mas são cristãos, a comemoração é feita em casa mas sem decorações externas.
Para os imigrantes brasileiros cristãos, por vezes os convertidos ao judaísmo ou judeus filhos de pais cujo casamento é interreligioso, a tradição muitas vezes é mantida. Por falta de família próxima, a festa acaba reunindo amigos para a ceia, a casa é decorada com pequenas árvores de Natal, no entanto nunca vi luzes na parte externa das casas ou guirlandas nas portas.
Para os peregrinos e turistas que vêm à Terra Santa, essa época pode ser uma experiência inesquecível. Os dois mais importantes destinos relacionados ao nascimento de Jesus são Belém e Nazaré.
Belém, a cidade Natal de Jesus e seus três Natais
Bethlehem ou Belém, atualmente, é uma cidade palestina que fica dez quilômetros ao sul de Jerusalém e tem uma população de 30 mil habitantes, entre eles 12% de cristãos e o restante de muçulmanos. Os peregrinos e turistas que vêm à Israel, em geral, aproveitam a oportunidade para conhecer onde Jesus nasceu. No local onde acredita-se que Ele nasceu foi construída a Basílica da Natividade, que é dividida por três comunidades cristãs: católicos romanos, gregos ortodoxos e apostólicos armênios. Os católicos celebram a missa de Natal no dia 24 de dezembro, já os gregos ortodoxos no dia 6 de janeiro, uma vez que mantiveram o calendário Juliano e não mudaram para o gregoriano como os católicos. E, finalmente, os armênios no dia 18 de janeiro.
Na noite de Natal do dia 25 é da Basílica da Natividade que a Missa do Galo é conduzida e transmitida para o mundo. Em frente à basílica está a Praça da Manjedoura e nela o presépio e uma enorme árvore de Natal, cujas luzes são ascendidas no início do mês de dezembro em uma grande festa. Na manhã do dia 25 de dezembro, é celebrada a Santa Missa na gruta do nascimento de Jesus (veja mais aqui: http://www.abiblia.org/ver.php?id=5299 ).
Nos dias 21, 22 e 23 de dezembro, o nascimento de Jesus é reencenado em um espaço chamado de “aldeia” em pleno céu aberto. Um acontecimento em que tanto a comunidade como os visitantes podem andar pela “aldeia” e interagir com atores a caráter (romanos, artesãos, estudiosos que discutem as escrituras) e animais como burros, ovelhas e camelos, que passeiam livres. A fila para entrar pode ser um pouco longa, mas quem espera tem a opção de ouvir um áudio que explica o contexto original do Natal.
O espírito de Natal engrandece com a generosidade da FFHL (Fundação Franciscana para a Terra Santa), que distribui presentes para quase mil crianças que vivem aos arredores de Belém, mas pode ser palco também de manifestações políticas, como em 2017 quando a árvore de Natal central teve suas luzes apagadas pela prefeitura por três dias em protesto ao Presidente Trump ter mudado a Embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, a capital de Israel.
Nazaré, a cidade de Maria
Nazaré ou Natzrat é também conhecida como a “capital árabe de Israel” onde a população é de 30,9% cristãos e 69% muçulmanos. Nazaré é rodeada pelos montes tranquilos da Galiléia e raramente neva no Natal. Foi aqui que o Anjo Gabriel apareceu à Virgem Maria e anunciou que ela carregaria o filho de D’us, daí a Basílica da Anunciação.
Em Nazaré, a festa começa em meados de dezembro com a iluminação oficial de uma enorme árvore de Natal montada em frente à Fonte de Maria, que fica bem no centro da cidade. Há também a abertura de uma feira de Natal onde são vendidas comidas e artesanatos. Na véspera do Natal, os fieis saem em procissão na parte da tarde, assistem aos fogos de artifício e depois vão a missa de Natal na Basílica da Anunciação. O dia 25 também reúne os fieis em mais uma procissão e missa.
Uma opção de passeio é na Vila de Nazaré, que fica a dez minutos do centro da cidade. Embora aberta ao publico o ano todo, do dia 12 a 15 de dezembro a vila fecha para os turistas e cria um programa especial de Natal para os locais, quando Jesus é o tema central e há atividades para crianças e adultos, entre elas concertos, corais de músicas natalinas e shows de dança. Como Natal é feriado, a vila fecha por três dias, mas fora isso a reencenação do nascimento de Jesus acontece o ano todo.
Diferentemente da “aldeia” de Belém que só é recriada por três dias, a Vila de Nazaré abriu as portas em 2000, após anos de escavações arqueológicas e uma coletânea de evidências sobre as técnicas agrícolas e de construção de aldeias judaicas no inicio do período romano. A vila é uma verdadeira viagem no tempo, que ressuscita as parábolas e ensinamentos de Jesus em um ambiente recriado de maneira autêntica, com burros e ovelhas, a réplica de uma sinagoga do primeiro século, oliveiras e aldeões vestidos a caráter. O passeio de quase uma hora e meia termina com uma refeição bíblica, com direito a pão sírio feito na hora, sopa de lentilha, molho de Za’atar, húmus, azeitonas, salada, e fatias de maçã com geleia de tâmaras.
Mesmo que por razões diferentes, final de ano aqui é especial de alguma forma e talvez a maior delas é a liberdade e o respeito com outras religiões.
1 Comentário
[…] último ano resolvemos passar as festas de final de ano no Brasil. Sabia que essas não seriam férias comuns na terra em que nasci e cresci, mas uma […]