Olá, sou a Priscila Nisonen, moro na Finlândia há 10 anos com meu marido finlandês e dois filhos de sete e nove anos. Neste primeiro artigo para o BPM Kids vou contar um pouco sobre o papel do Papai Noel, já que nos aproximamos do Natal – “Joulu” em finlandês. O Natal na Finlândia é uma das datas comemorativas mais importantes do País . Para quem ainda não sabe, o Papai Noel é um dos finlandeses mais famosos e mora em “Korvatunturi”, na Lapônia. Se você visitar a Finlândia nesta época, vai perceber que as paisagens dos cartões de Natal parecem ter sido inspiradas neste país coberto de neve, luzes e pinheiros por toda a parte.
Nunca me esquecerei da primeira vez que viajei para Helsinque, em 2005, para conhecer a família do meu marido, e acreditei ter “mergulhado num cartão de Natal”. Foi tudo muito mágico: o meu primeiro contato com a neve, as casinhas de madeira adornadas com candelabros nas janelas e os finlandeses “congelando” nas ruas iluminadas, mas animados com as compras. Valorizei ainda mais aqueles momentos anos mais tarde ao perceber que, no inverno finlandês, as ruas têm vida somente durante o Natal. Descobri também que o meu marido, então namorado, não era tão romântico assim como eu imaginava por acender velas em nosso primeiro jantar, pois o uso das velas é comum nos dias escuros de inverno.
Durante aquela visita não só aprendi sobre as tradições de Natal dos finlandeses (tão interessantes que vale outro artigo para descrevê-las), mas também conheci o “Papai Noel” em pessoa antes da ceia. Isso mesmo! Para minha surpresa, meu futuro sogro fantasiou-se de “bom velhinho” para agradar à sua neta de três anos de idade e acabou me encantando também. Ainda me lembro do brilho nos olhos daquela criança ao receber os presentes de Natal das mãos de “Joulupuki” – papai Noel em finlandês- e cantar diversas canções de Natal como agradecimento. Aquele foi também um dos momentos mais engraçados que já vivi, porque a família do meu marido insistiu para que eu cantasse uma canção de Natal em português e acabei cantando a “música do papel higiênico” (Jingle bells acabou o papel…) de tão nervosa que fiquei na hora e não conseguia lembrar a letra das músicas natalinas de verdade. Naquele tempo mal fazia ideia de que quatro anos mais tarde eu estaria lá sentada, com meu primeiro filho nos braços, recebendo a mesma visita e, pior ainda, tendo que cantar para o Papai Noel em finlandês!
O encontro com o Papai Noel é tão importante para as famílias finlandesas que existem profissionais especializados em visitar as crianças na noite de Natal. Nossa família contou com a ajuda de um amigo por seis anos consecutivos, para realizar a árdua tarefa de carregar o grande saco de brinquedos e fazer a entrega de presentes.
Alguns anos a visita chegou a ser antecipada porque passamos as férias de fim de ano com a família no Brasil, uma vez que, segundo meu marido, Noel é especialista em logística e evita longas viagens desnecessárias. Naqueles anos tivemos duas ceias de Natal: uma antecipada com a família finlandesa, que é bem pequena (avós paternos, dois primos e um casal de tios) , e outra no Brasil, onde participamos do tradicional amigo secreto com a minha grande família (composta por avós, tios, primos, irmãos, pais, sobrinhos, cachorros e periquitos).
Na Finlândia, Noel sempre chegava com o seu saco de presentes e um grande livro decorado nas mãos, onde estava registrado informações sobre como as crianças haviam se comportado durante o ano, suas maiores realizações (primeiro dentinho, êxito nos esportes e na escola, novos amigos, ajuda em tarefas domésticas, etc) e também algumas recomendações sobre onde elas precisavam melhorar (brigar menos com os irmãos, escutar a professora na escola, guardar os brinquedos, etc). As crianças ouviam atentamente e, depois, meio encabuladas, cantavam músicas natalinas para alegrar o tão esperado momento. Para finalizar com chave de ouro, a tradicional foto no colo do Papai Noel não podia faltar. Da última vez, meus filhos já não conseguiam fazer isso simultaneamente sem causar um grande desconforto para o nosso ilustre visitante. Acho que aquele foi um sinal de que os presentes passarão a ser deixados na porta nos próximos anos…
Quanto aperto no coração só de pensar que meus eternos bebês estão crescendo e já não cabem no meu colo!
Devo admitir que tem sido interessante e arriscado alimentar este sonho mágico de Natal nas minhas crianças durante todos estes anos. Meu sogro, muito experiente nesta tarefa, ressalta para os netos que o Papai Noel somente visita aqueles que acreditam. Quando a criança deixa de acreditar o velhinho nunca mais vem. Penso que essa é a principal razão pela qual o meu filho, aos nove anos, ainda escreve para o Papai Noel. Para ser sincera, no ano passado ele comentou comigo que percebeu a semelhança de Noel com o amigo da família. Eu, sem saber como agir da maneira finlandesa, acabei contando toda a verdade mas, ingenuamente, pedi para que ele não revelasse o segredo para sua irmã menor. Confesso que tive medo da reação do meu filho por ter sido “enganado” todos esses anos, mas, para minha surpresa, ele disse que continua a acreditar que o verdadeiro Papai Noel mora na Lapônia. Inclusive, como um bom nativo da geração digital, já passou horas pesquisando na Internet o que vai pedir em sua próxima cartinha para o “Joulupukki”, Papai Noel.
Deixando de lado as “saias justas”, acho genial a maneira como os finlandeses usam a lenda do Papai Noel para motivar as crianças a se comportarem durante o ano para que sejam premiadas com presentes de Natal. Aquelas que não merecerem presentes, por não terem sido boazinhas, deverão receber um ‘paus e pedras’ – o pesadelo de toda criança finlandesa. Segundo eles, os duendes de Noel, chamados de “Tonttu”, estão escondidos por toda parte, vigiando os pequenos e fazendo anotações sobre quem deverá ser presenteado ou punido. A relação das crianças com aquelas criaturas imaginárias é muito estreita. Muitas delas juram já ter visto alguns deles escondidos na floresta. Meu marido contou-me que o seu pai, quando percebeu que ele não acreditava mais em Papai Noel, chegou a tirar uma foto sua brincando no quintal de casa e transformá-la num quebra-cabeça, que lhe foi enviado como presente de um pequeno “Tonttu”, para lembrar que ele estava sempre sendo observado. Aquele acontecimento fez com que meu marido acreditasse na lenda do Papai Noel por mais alguns anos, apesar dos vários rumores na escola sobre a farsa. Não é realmente admirável tamanho empenho por parte dos finlandeses para alimentar a crença das crianças no Papai Noel?
Outra curiosidade que me chamou bastante a atenção é que muitas famílias finlandesas presenteiam as crianças somente no Natal e no aniversário, o que torna essas datas muito mais especiais e desestimula o consumo desenfreado e desnecessário desde a infância. Os presentes, em geral, não são muito caros e sim de utilidade para a criança, tais como óculos de natação, meias de lã feitas pela avó, livros de histórias, jogos educativos, roupas e também o brinquedo mais desejado. Os pais das crianças geralmente são consultados, os presentes são comprados pelos familiares e amigos e colocados na sacola do Papai Noel com os devidos nomes. Desta forma, os egos não são inflados nem golpeados, ninguém leva a fama de ter comprado o melhor presente ou o presente errado. A culpa é sempre no Papai Noel…até que um dia a barba caia e verdade venha à tona!
Se você quiser saber mais sobre as tradições de Natal finlandesas e sobre a vida do Papai Noel na Lapônia visite o endereço eletrônico da tv do Papai Noel
3 Comentários
Muito bom ler seu texto Patricia!! Me deu mais vontade ainda de conhecer a Finlândia! 🙂
Obrigada, Carolina! Fico contente que tenha gostado do texto!
Abs,
Priscila
Também gostei muito! Dou aula de português para um casal que a esposa é filandesa. Amanhã, vou levar esse seu texto para eles. Obrigada Priscila e muita sorte e sucesso. Abs KAtia