Para quem mora fora do seu país de origem até uma simples festa infantil pode causar confusão e estresse. No início, mesmo sendo luso-descendente e conhecendo a cultura, ficava confusa com algumas rotinas. Ser convidada para uma festa infantil foi uma das primeiras situações em que eu não sabia como agir exatamente.
No Brasil estamos acostumados a uma verdadeira indústria de festas infantis com temas, decorações, itens personalizados, brindes, festa para 100/250 pessoas incluindo família, amigos, colegas de escola com os irmãos e os pais, buffets infantis especializados etc.
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Isso simplesmente não existe em Portugal. Obviamente que pessoas mais ricas, às vezes, fazem festas maiores. Mas isso não é o comum, seja qual for a classe social aqui o normal é comemorar o aniversário entre a família mais próxima e alguns amigos da escola.
Como é uma festa infantil em Portugal?
Já vi algumas configurações de festinhas e posso dizer que o mais comum é que ela ocorra na própria casa do aniversariante, mesmo que seja um apartamento pequeno. Recebemos o convite simples, dizendo o horário, dia e local. Importante! Sempre tem um número de contato no convite com uma indicação (com a data limite que) de até que dia você deve confirmar presença. É isso mesmo, tem de mandar uma mensagem ou telefonar para dizer se seu filho vai à festa. Todo mundo prepara a comemoração de acordo com o número de crianças confirmadas.
Geralmente a própria família arruma uma mesa com bolo, salgados, balas, doces e bebidas. Essa mesa fica à disposição para as crianças se servirem durante a festa, só o bolo fica intacto para a hora “dos parabéns”. Além da diferença no estilo de festa também são diferentes as comidas, bebidas e até “os parabéns”. Os salgados (pizza, hot dog, risolis, empadas) ficam na mesa, ou seja, nem sempre estão quentinhos, os doces são balas, pirulitos (não tem brigadeiro, cajuzinho, beijinho), o bolo por vezes é tipo pão de ló e geralmente sem cobertura de pasta americana. Além disso, os “parabéns” aqui têm uma letra diferente e nunca ouvi cantarem “é pique, é pique …” . E os brindes? Esses quando existem são coisas bem baratas, como livros para colorir ou um saco com doces.
As crianças brincam de esconder, pique e com os próprios brinquedos do aniversariante. Se a festa for em uma casa, as crianças brincam na garagem ou quintal. Às vezes os pais alugam um pula-pula. É praticamente como eu me recordo de serem as minhas festinhas quando era criança lá nos anos 80. Crianças livres, felizes, brincando do que quiserem, inventando brincadeiras…
Outra configuração bastante utilizada de festa e mais parecida com os nossos salões infantis são espaços onde há brinquedos (como o que há nos shoppings brasileiros para deixarmos as crianças enquanto fazemos compras). Geralmente nesses espaços ocorrem várias festas ao mesmo tempo. As crianças ficam brincando por cerca de 2 ou 3 horas e depois vão para uma sala lanchar e cantar os parabéns. São espaços como este aqui que fica dentro do Parque florestal Monsanto ou este que tem algumas unidades espalhadas por Lisboa.

Arquivo pessoal
Em comum, seja qual for o tipo de festa é que só o seu filho é convidado, irmãos e pais não são incluídos. Deixamos a criança no local da festa e voltamos para buscar na hora estipulada. Se for em um espaço de eventos até podemos ficar lá “dando uma olhadinha”.
Claro que estranhamos no início, mas depois vira rotina e geralmente seu filho só será convidado para festas de amigos com os que convive e que gostem mesmo dele. Porque aqui não é costume convidar toda a turma “só para não ficar feio”, convidam alguns amigos, os que mais gostam e ponto final. Ninguém fica chateado com isso.
Em todas as festinhas em que levei a minha filha fui muito bem recebida e até convidada para entrar e ficar se quisesse. A verdade é que só fico quando é um espaço infantil ou se a mãe for realmente minha amiga. E, sim, ficamos tranquilos de deixá-la nas festas. Lógico que a gente sempre olha tudo com atenção, faz mil recomendações e sempre avisamos à pequena que se por algum motivo não gostarmos do ambiente ela não ficará. Mas isso acho que todos os pais fazem independentemente da nacionalidade.
Ah! Existem festas na escola também. Lógico, tudo é mais básico do que no Brasil, nada de colocar temas na parede, enviar convites, levar vários lanches na hora do recreio com pais, padrinhos e avós. Aqui levamos o bolo com um suco e cantamos parabéns na sala de aula mesmo. Depois o aniversariante distribui balas ou pirulitos como se fosse um brinde. O horário para levar o bolo vai depender da escola e da professora, geralmente pedem para chegarmos uns 30 minutos antes do fim do horário de aula e só devem ir os pais ou o responsável pela criança.
Como nos adaptamos?
Afinal, como foi a nossa adaptação às festas? Achamos melhores que as do Brasil? Eu confesso que adoro! Na verdade, foi um alívio me libertar daquela pressão em torno de uma festa todo ano. Mesmo no Brasil já vinha diminuindo a lista de convidados a cada ano, optando por comemorações mais íntimas ou uma viagem. Acredito que essas festinhas simples, lindas, íntimas, cheias de amor e significado são as melhores e as que mais estreitam os laços de amizade. Amizades verdadeiras valem muito no mundo todo, mas, para filhos de expatriados vale mais ainda.
As crianças maiores percebem as diferenças, claro! Nas primeiras festas estranham que não teve brigadeiro, que você não ficou lá… Mas fiquem tranquilas, seus filhos vão voltar felizes das festas mesmo que não tenha brigadeiro, personagens, teatrinhos etc.
Acreditem, os pequenos são os melhores no quesito adaptação. No primeiro ano aqui, planejei uma viagem de aniversário e minha filha pediu uma festa de acordo com a sua nova realidade e dos amigos. Pediu uma festa em casa onde pudesse chamar 10 amigos para brincar no quarto dela com todos os brinquedos. A única “exigência” era ter brigadeiro para comer e no recheio do bolo.
Então, só nos resta aproveitar para viver de fato a cultura local e essas oportunidades, para que os nossos filhos cresçam cercados de pessoas amigas e totalmente integrados com a cultura local do país onde estão crescendo.