O Dia das Crianças na Colômbia não é comemorado em outubro, como no Brasil. Aqui, o chamado “Día de los niños” é celebrado no final de abril. Não se trata de uma data fixa, cai sempre no último sábado do mês. Mas, assim como no Brasil, além de brincadeiras, atividades especiais, culturais e esportivas para entreter as crianças, o apelo e estímulo ao consumismo infantil. As crianças esperam os seus novos brinquedos ansiosas. Mas, quem criou essa expectativa?
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No entanto, como é neste mês de outubro que se comemora a data no Brasil, pensamos que seria interessante abordar o tema sob a perspectiva do consumismo infantil, que está diretamente relacionado a ela.
Na nossa casa, de forma muito natural, felizmente, acabamos conseguindo não fazer do Dia das Crianças uma data em que nossos filhos esperam ganhar brinquedos. Desde que nossa filha nasceu, por ser muito pequena, pensamos que não seria necessário “ensinar” a ela que essa era uma data de ganhar presente. O que fizemos foi simplesmente não dar presente pra ela nesse dia. Depois, fizemos o mesmo com o segundo, e curiosamente, eles não esperam nem pedem nada nessa data. Podemos participar de atividades especiais e tudo mais, afinal o ponto aqui não é não comemorar, mas não relacionar a data com compra e incentivar o consumismo, pelo menos nessa data.
Não quero dizer com isso que eles não peçam brinquedos (risos), nem que têm poucos brinquedos. Pedem e pedem muito. E têm muuuuitos brinquedos, confesso. Mas, pelo menos, o Dia das Crianças para eles não tem essa conotação. As datas que valem aqui são os aniversários de cada um e o Natal, que, garanto a vocês, já é mais do que suficiente para encherem as prateleiras de brinquedos. Isso sem contar um ou outro presentinho que chega meio fora de hora de vez em quando.
Consumismo, disciplina e exemplo
E, então, nos deparamos, como quase todos nós pais desta geração, com a questão do consumo. Com a vontade sem fim que nossos pequenos têm de ter, de ganhar novas coisas, especialmente brinquedos.
E, falando como mãe e não como profissional, que tal pensarmos um pouco na origem de tudo isso? Será que o consumismo que vemos, que eu vejo nos meus filhos algumas vezes, não é reflexo de mim mesma? E confesso a vocês que não me considero uma pessoa consumista nem gastona. Não sou daquelas que anda super atualizada em relação à moda e à tecnologia, mas tampouco levo um estilo de vida franciscano. Então, como ensinar os nossos pequenos a serem consumidores conscientes, sustentáveis, se nós não somos?
Quanto de simplicidade aplicamos no nosso dia a dia, independentemente da nossa conta bancária? Ser simples não está diretamente relacionado a ser rico ou pobre, concordam?
Vou contar uma pequena experiência para vocês. Quando chegamos à Colômbia, precisamos comprar vários itens de casa e algumas roupas de frio… Vínhamos do Rio de Janeiro e nosso armário de inverno era bem modesto. Pois bem. Saía muitas vezes e voltava para casa com uma sacola. Parte das coisas eram necessárias, mas sempre algum item supérfluo vinha também.
Em um determinado momento me dei conta de que meus filhos estavam vendo que, com uma certa frequência, eu voltava pra casa com uma ou algumas sacolas na mão. E agora? Quando me pedissem alguma coisa e eu dissesse não, será que a resposta não seria: “mas, mãe, você está sempre comprando alguma coisa!”? Isso foi um alerta importante pra mim, antes de ouvir a resposta da boca deles.
Passei a me policiar. Comprar menos. Me ater, ou tentar pelo menos, ao necessário. A necessidade diminuiu também. E, confesso a vocês que, desde então, muitas vezes quando compro algo, necessário ou não, se possível, não deixo que eles vejam. Seja pra mim, para eles ou para casa. E mais ainda, me empenhei na minha própria disciplina consumista.
E, apenas para constar, os brinquedos, roupas e muitas outras coisas aqui na Colômbia são muito mais baratos do que no Brasil. E isso acaba te convidando ao consumo, já que é tão barato! E pode ser uma armadilha.
Outra coisa que sempre tentamos fazer é doar coisas. Tirar roupas, brinquedos, e outras coisas que estão a mais, ou que já não usamos, e dar pra alguém a quem será útil. É um ótimo exercício de organização e generosidade.
E mais uma vez, eu me pergunto se estou sendo desapegada o suficiente para que eles vejam a importância disso na vida como um todo. Se eu mesmo não sou acumuladora em alguma medida e isso pode acabar influenciando o modo de vida deles… Porque esse é um exercício que eu sempre tenho que fazer, todas as vezes que abro o armário ou quero comprar alguma peça nova. Me entendem? São perguntas que me faço, que convido a todos nós a fazer. Porque, no final das contas, meus queridos, o que vale é o exemplo. Palavras, conselhos são ouvidos, algumas vezes considerados, mas nada fala mais alto do que o exemplo.
A influência das propagandas
Por fim, o último ponto que queria pensar com vocês é a questão da propaganda, e como ela é danosa nessa questão do consumo. Como uma vitrine me convida a ter roupas novas que antes de vê-las não tinha a menor necessidade! E como percebo que minha filha começa a pedir um monte de coisas depois de ver algumas propagandas! Deixa de dar valor ao (muito) que tem, e quer o que não tem e nem precisa. Percebi que isso era fruto de algumas coisas que estava assistindo, e cortamos. Um bom texto que aborda o impacto da propaganda nas crianças e o estímulo ao consumismo infantil você pode ler aqui.
Queridos leitores, com essas pequenas questões que eu trouxe quero apenas chamar a atenção de nós, pais, sobre como o nosso comportamento pode influenciar o comportamento dos nossos filhos em muitas questões, inclusive na nossa relação com o consumo. Convido para que reflitam comigo e deixem os seus comentários.
Até a próxima!!
2 Comentários
Lívia, acho esse assunto muito pertinente e teu texto muito importante. Tua maneira de agir pensando no que passas aos teus filhos como exemplo é um ótimo reflexo que nem sempre temos. E acho muito difícil de contornar esse problema do consumismo porque vejo como um problema de geração, mesmo que os pais não sejam consumistas, como bem falaste, a propaganda desempenha muuuuito bem seu papel, depois vem os colegas de escola… Uma das minhas filhas é bem mais consumista que as outras, o prazer dela é comprar! Assim que ganha, por exemplo, um cheque presente, ela PRECISA ir à loja gastar na mesma hora! E nem eu nem meu marido somos assim.
Explico sempre o valor do dinheiro, faço elas analisarem o quão pouco brincam com cada brinquedo que quiseram ou ganharam… Mas a necessidade de consumir está sempre presente.
Oi, Zandra! Td bem? Muito obrigada pelo seu comentário! Te peço desculpas por não ter respondido antes… fiquei um tempo meio fora e não tinha visto! Concordo com vc! A sociedade atual desempenha um papel voraz nesse sentido… e adultos e crianças estão sujeitos a isso…