Se a maternidade tem feito muitas mulheres enveredarem pelo caminho do empreendedorismo, quando essa mulher se muda do Brasil começar o próprio negócio pode ser o caminho de adaptação ao novo país e a oportunidade de se inserir e reconstruir sua vida. Mães Mundo Afora publica este mês a série MÃE EMPREENDEDORA, que trará toda quarta-feira uma entrevista com mulheres brasileiras que estão empreendendo pelo mundo. Conheça suas histórias de reinvenção, descobertas, desafios, fracassos e vitórias e se inspire!
Nesta terceira entrevista da série, Jessika Rabello conversou com Silvia Fermo, mãe empreendedora na Inglaterra. Silvia é brasileira, de São Paulo que chegou em Londres em fevereiro de 2001. Ela se casou e começou sua família aqui. Com a chegada dos seus filhos, a preocupação com a manutenção da língua portuguesa foi aumentando na mesma medida que as crianças iam perdendo a lingua. Dessa experiência, surgiu o Clube de Brasileirinhos, uma escola de português que completou 10 anos em maio.
Uma história tão familiar para pais e mães do mundo afora. Confira a sua trajetória de participante à diretora da escolinha que completa 10 anos de existência.
MÃES MUNDO AFORA: De onde surgiu a ideia do Clube dos Brasileirinhos?
SILVIA: Na realidade a ideia não foi minha. Eu soube de um grupo de mães que tinha se reunido para ajudar seus filhos a melhorar o português, no qual eu fiquei imediatamente interessada e minha filha, na época com cinco anos, já começou a participar. Foi incrível, pois isso aconteceu em Maio de 2009, e alguns meses depois as mães que organizavam o projeto tinham desistido, mas eu não queria que ele terminasse, então eu passei a assumir as responsabilidades completamente por acaso, sem conhecimento e sem saber muito bem o que estava fazendo.
Foi a primeira vez que eu entendi a necessidade de encontrar um número adequado de alunos para que a escolinha pudesse continuar funcionando, pois o que levou a desistência do grupo de mães foi exatamente a falta de alunos que pudesse arcar com os custos da escola. Foi então que eu comecei a investir no crescimento do Clube.
Como foi possível fazer o Clube crescer?
A minha motivação maior sempre foram meus filhos. Na época eu ja tinha o meu segundo filho que eu queria muito que entrasse no clube também, então eu iniciei um trabalho árduo de procurar pais interessados. Muito interessante isso, pois hoje em dia os pais me procuram, e antes eu literalmente ia atrás deles. Vivia atrás de gente distribuindo panfletos, ia nas escolas e vários outros lugares, todos os estabelecimentos comerciais, colocava anúncios nos murais de todos eles.
Foi então que mudamos a primeira vez de um hall de igreja para uma escola, e depois para uma segunda escola e a gente começou realmente a crescer. Desde então os números de alunos e a procura pelo clube aumentou muito e temos uma lista de espera o que marca o fim de eu procurar pelos pais e finalmente a procura ativa das famílias que alimenta a escola.
Nós tivemos que fazer muitas adaptações para acomodar esse novo público. Entre elas, a abertura de novas salas para atender crianças cada vez mais novas. Quando começamos os alunos deviam ter cinco anos completos e hoje começamos a partir dos dois anos de idade e que se estende até os 15 anos. Temos grupos focados nos exames de GCSE.
Quais foram os maiores desafios?
A trajetória foi realmente muito , muito difícil! Nos primeiros anos, eu tive que pagar do meu bolso para manter a escola aberta, e isso é um dos motivos que mais faz com que grupos como o nosso desistam logo no início. Não tinha dinheiro para manter, eu colocava dinheiro adiantado e depois aos poucos os pais iam pagando e eu ia me pagando, torcendo sempre para não ser um prejuízo muito grande.
O que eu penso é que se seus objetivos são claros e fortes, no meu caso meus próprios filhos falarem português sempre foi uma prioridade para nós, você tem essa resistência de não desistir, de continuar com a escola mesmo quando as circunstâncias forem adversas. A minha filha mais velha foi realmente quem me deu a força e o incentivo, pois eu queria muito que ela falasse português.
O outro desafio muito grande foi montar uma equipe estável. No começo era muito difícil encontrar professoras que pudessem se dedicar ao clube, mesmo sendo um projeto só de sábado, comprometer tantas horas com planejamenos, e construindo materiais e planejando aulas junto com seus trabalhos de tempo integral. Hoje em dia eu mal consigo acreditar no grupo de pessoas que consegui formar que trabalham no Clube. É a melhor equipe que eu poderia desejar na minha vida: são pessoas que levam extremamente a sério, com muito carinho, dedicação, muito trabalho e sem elas eu não teria continuado, com certeza. Hoje em dia, é essa equipe que me leva pra frente, porque eu sei que tem escolinhas que passam por sérios problemas para encontrar professores. Eu acabo tentando ajudar indicando professores, mas nao é sempre possível.
Nós temos uma história de 10 anos, fizemos 10 anos no mês de Maio desse ano (2019). De onde nós saímos para onde nós estamos é fruto de um trabalho extremamente árduo, mas de um time que levou a sério, vestiu a camisa, que se dedica, que trabalha muitas vezes sem receber pelo número de horas que fazem, mas que fazem com amor e com dedicação . Achar essas pessoas foi o que fez toda a diferença para a nossa história. Nos levou 10 anos para encontrá-las. E tudo que a o clube inventa de realizar, elas abraçam e montam sempre coisas fantásticas com os alunos!
Quais são as novidades do Clube?
Nos últimos dois anos eu vinha já querendo e pesquisando com o nosso grupo de pais a possibilidade de estender as aulas de sábado de 2 horas para 3 horas. A gente via a necessidade de estender o tempo que as crianças podiam passar na escola e levou um tempo considerável para convencer os pais, e promover essa mudança e hoje somos uma escolinha pioneira no sentindo de estender essa hora a mais, com a cara e com a coragem.
Trouxemos com esse tempo extra projetos relevantes e interessantes para as nossas crianças. Iniciamos dois grupos de contação de histórias, fomentando a construção de vocabulário e amor pela leitura e pelas histórias. Temos o grupo do teatro, que eu sempre sonhei em incluir, pois eu sei do valor do teatro no desenvolvimento da fala e na confiança de se expressar. Finalmente também abrimos um grupo de capoeira, que para os meninos mais velhos foi um incentivo super legal porque era uma forma de fazer exercício, introduzir música e movimento. Escolhemos essas três atividades que seriam interessantes para os alunos e que incentivariam eles a quererem vir, acordar cedo no sábado de manhã.
Leia mais da Série MÃE EMPREENDEDORA: os passos ritmados da cultura brasileira nos EUA
1 Comentário
PARABÉNS SILVIA!!! Não desistiu e agora está colhendo os frutos!! Mãe exemplo de força e corajem
Saudades de vocês! grande abraço