Para gostar de ler é o nome de uma coleção de livros publicada pela Editora Ática no Brasil e que me foi apresentada durante minha vida escolar. A proposta editorial era de levar crônicas ao grande público de estudantes do ensino fundamental e médio, alcançando bastante sucesso nos anos 80 e 90. Na apresentação da obra, um texto assinado por quatro autores – Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga – dizia o seguinte:
Amigo estudante,
Este livro não tem a intenção de ensinar coisa alguma a você. Nem gramática nem redação nem qualquer matéria incluída no programa de sua série.
Nós só queremos convidar você a descobrir um mundo maravilhoso, dentro do mundo em que você vive. Este mundo é a leitura. Está à disposição de qualquer um, mas nem toda gente sabe que ele existe, e por isso não pode sentir o prazer que ele dá.
Experimente abrir este livro em qualquer página onde começa uma crônica. Crônica é um escrito de jornal que procura contar ou comentar histórias da vida de hoje. Histórias que podem ter acontecido com todo mundo: até com você mesmo, com pessoas da sua família ou com seus amigos.
Mas uma coisa é acontecer, outra coisa é escrever aquilo que aconteceu. Então você notará, ao ler a narração do fato, como ele ganha um interesse especial, produzido pela escolha e pela arrumação das palavras. E aí começa a alegria da leitura, que vai longe. Ela nos faz conferir, pensar, entender melhor o que se passa dentro e fora da gente. Daí por diante a leitura ficará sendo um hábito, e esse hábito leva a novas descobertas. Uma curtição.
As crônicas serão apenas um começo. Há um infinito de coisas deliciosas que só a leitura oferece, e que você irá encontrando sozinho, pela vida afora, na leitura de bons livros.”
Eu me senti muito madura, moderna e independente, tomando boas decisões para o meu futuro no alto da minha pré-adolescência, quando conheci essa coleção. Sim, eu era uma leitora e me orgulhava disso.
Obviamente na época da minha vida escolar não existia Internet nem smartphones… Calma lá, televisão a cores já existia sim.
Lembro de meus pais lendo diariamente o jornal. No início havia a ida a banca de jornal para adquiri-lo. Depois, com a “modernidade”, passaram a ser assinantes. E o dito aparecia magicamente na porta de casa todas as manhãs, cedinho.
Ler era hábito diário, tal como tomar banho, acordar, dormir, etc. E, dessa forma, a leitura como ato passou a fazer parte da minha vida.
Já a leitura como fonte de entretenimento veio dos contos de fada. Princesas, príncipes, castelos. Eu não assistia às cenas. Eu as criava na minha cabeça por meio das histórias. E sonhava. E voava. Que sensação maravilhosa de mergulho nas profundezas da nossa imaginação.
Um pouco mais tarde, o hábito e fome de leitura passaram a ser por prazer. Grandes mistérios, pequenos romances, crônicas, humor, poesia, conhecimento, estudo.
Eu construí meu amor pela leitura e pela língua a partir de relações afetivas positivas, exemplos de meus pais, oferta de material e encorajamento. E automaticamente estamos nós novamente falando de herança. Português como língua de herança.
Livros como fonte de aprimoramento da língua
Não há idade para ler livros. Uma gestante pode e deve ler para sua barriga. Assuntos? Diversos!
Bebês amam manusear livros. Com ilustrações não estilizadas, cores e traços bem definidos. De banho ou com texturas. Preferencialmente leves, com pontas arredondadas e reforço na estrutura, ou seja, tem que ser duro na queda. Literalmente!
Crescem um pouquinho e lá vão eles amar nomear os desenhos. Imitar os sons dos animais das páginas de um livro, dos meios de transporte. Falar as cores, contar os itens , virar as páginas, voltar, avançar.
E assim vamos introduzindo outros com mais palavras, estruturas gramaticais mais complexas, gravuras estilizadas, letras menores e textos mais longos.
Ofertar livros e materiais de leitura em português para os nossos filhos, independente da nacionalidade, é uma prova de amor. É a decodificação em palavras das nossas memórias. É fonte riquíssima de construção de identidade.
Leitura é um hábito saudável e libertador que deve nos acompanhar por toda a vida. Mesmo quando meus olhos fraquejarem, espero ter alguém para ler comigo.
Como ter acesso a livros em português
Eu confesso que em plena era tecnológica eu também não abro mão de livros físicos. Certamente uma rápida busca na Internet nos levará a um número sem fim de vídeos com milhões de histórias em português, para todos os níveis de aprendizagem. Vídeos de excelente qualidade inclusive. Podemos acessar também livros em formato digital. Muitos deles de literatura infantil em português. Entretanto esses recursos estão disponíveis para serem agregados a outros tipos de experiência, não são substitutos.
Os livros e revistas em quadrinhos (muito apreciadas por crianças, jovens e adultos. Olha a dica para os adolescentes e adultos um pouco avessos ao hábito ) devem ser ofertados para nossos filhos. Eles devem ter acesso e livre manipulação.
A primeira dica é: comece a montar sua biblioteca particular em português. Junte seus livros, adquira outros. Quando for ao Brasil, tenha o cuidado de reservar uma horinha para um bom passeio a uma livraria e compre livros! Sim, invista no futuro do seu filho.
Vai receber visitas do Brasil? Não se acanhe, peça para trazerem livros. Se tiver mais intimidade faça uma listinha de desejos. Conforme já falado, revistas em quadrinhos são ótimas, mas dê “um toque” aos seus familiares de que apesar de serem leves e baratas, elas não são opções exclusivas para trazerem na bagagem.
Leia também: Livros, links e materiais para auxiliar no PLH em casa
As ofertas não são muitas, mas há editoras e distribuidoras de livros infantis em português nos Estados Unidos e Europa para compras online.
Em paralelo, busque iniciativas de promoção do português como língua de herança na sua cidade. Há muitas iniciativas ao redor do mundo. Algumas formais, outras informais, mas que cumprem muito bem seu papel. Geralmente são criadas, realizadas e mantidas por voluntários. Prestigie e seja voluntário também.
Visite as bibliotecas públicas do seu bairro ou cidade. Talvez você seja surpreendido por um pequeno acervo em português. Não encontrou? Sugira! Fale com o responsável pela biblioteca confirmando a demanda por livros na língua na sua localidade. Insista.
Conhece outras famílias com igual interesse em oferecer material de leitura em português para os filhos? Encontrem-se! Agendem playdates, troquem livros, fundem um grupo de contação de histórias, organizem um clube da leitura.
Crie um projeto de livro com seu filho. Pensem no título da obra, identifiquem quem serão os autores e ilustradores (entre os membros da família), elaborem o enredo e publiquem. Como? Simples: folhas grampeadas em formato de livro. É uma excelente atividade que pode ser executada em fases, em dias diferentes. Conforme vão produzindo os livros, apresente-os para os outros membros da família, recontem a história, façam uma cópia e mandem pelo correio para algum familiar no Brasil.
Escaneie, imprima, deixe a imaginação tomar conta. E, depois de prontos, eles também compõem a sua mini biblioteca doméstica. No futuro, seus filhos, quando pais, também poderão apresentar esses livros para os filhos deles. Já pensou que maravilha?!
Quer mais ideias e dicas? Para gostar de ler também é o título de um documentário produzido pelo Itau que fala sobre a importância da leitura. Assista ao filme aqui e se inspire para interagir com seu filho por meio da literatura em português.
Boas leituras, e até a próxima!
6 Comentários
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[…] através de um gesto de amor e com livros de materiais e conteúdos adequados a idade do rebento. Acompanhar a criança durante os seus primeiros passos no universo dos livros é um privilégio para o bebê e para os pais, que têm a oportunidade, tão preciosa quanto rara, […]
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