Hoje vamos continuar e terminar a história que comecei a contar pra vocês no texto do mês passado (clique aqui para ler) sobre a minha experiência com bilinguismo. Paramos no ponto em que a escola de Beatriz nos chamou para uma reunião e nos recomendou consultar um psicólogo especializado no assunto. A ideia era descartarmos qualquer outro problema que pudesse estar sendo a causa da dificuldade em falar na escola. Isso aconteceu no final do primeiro ano letivo, quando ela já havia passado praticamente todo o ano em silêncio na escola.
A ajuda profissional
Eu confesso para vocês que não fiquei muito confortável com a recomendação. Mas, para evitar cair no erro muito comum em nós pais, que é a negação do problema, decidimos consultar o profissional que nos indicaram, mesmo crendo que era tudo parte de um processo pelo qual ela estava passando. Vale ressaltar, como mencionei no texto anterior, que os profissionais da escola nos relataram que em todas as avaliações que fizeram com ela não encontraram nenhum indício de qualquer dificuldade, nem mesmo emocional, ou qualquer problema em casa, na familia, que pudesse estar levando-a àquele comportamento. Isso nos deixou um pouco mais tranquilos.
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Procuramos um profissional especializado, indicado pela escola, e fomos a uma primeira conversa, somente eu e meu marido, sem Beatriz. Vale mencionar que a psicóloga que nos assistiu foi excelente!! Contamos tudo a ela, e de uma forma muito tranquila, ela nos deu algumas dicas de como incentivá-la e ajudá-la a perder o medo de falar em público. Suas orientações propiciaram alguns resultados rápidos e promoveram alguns pequenos avanços. Isso nos deixou muito satisfeitos e dispostos a continuar as conversas com ela.
No entanto, logo Bia entrou de férias e viajamos para o Brasil. Lá, houve a imersão no português novamente e o espanhol ficou guardado para quando voltássemos para casa. Na volta, retomaríamos as técnicas e o acompanhamento profissional, se fosse necessário. Para nossa alegria, não foi preciso.
Final feliz
Quando começaram as aulas, ficamos na expectativa de como seria seu retorno àquele ambiente. Se ela se sentiria bem, feliz e segura para se expressar oralmente, ou se algo a manteria insegura e calada.
Os dias na escola foram passando, e nossa menina foi se soltando e, diferentemente do ano anterior, falava com todos na escola: amigos, professores, assistentes. O medo, o bloqueio, a insegurança, ou o seja lá o que a impedia de falar, tinham desaparecido. Expressava-se oralmente em todos os ambientes, falava em público, fazia todas as atividades em que precisava falar normalmente.
A reunião seguinte na escola
Na primeira conversa com a nova professora, ela foi enfática em me dizer que Beatriz estava falando normalmente com todos. Certamente, ela estava ciente do histórico dela no ano anterior. E tudo correu e está correndo na maior normalidade no ano seguinte, que agora já está terminando.
Sendo assim, devo dizer a vocês que não retornamos à psicóloga. Não julgamos ser necessário continuar o acompanhamento, já que a dificuldade estava mais que superada.
Com toda sinceridade, eu não sei dizer nem posso afirmar qual foi a causa exata de tudo que relatei. Não sei se algo concreto ou alguém, algum professor ou colega, a bloqueava, ou se foi simplesmente a insegurança e medo de se expressar no novo idioma. Por mais que ela soubesse falar, talvez se sentisse insegura para falar espanhol em algumas situações, dentro e fora da escola. Ou se, simplesmente, ela precisou desse tempo, para aprender, assimilar, para lidar com o bilinguismo, e ter que fazer a “troca” de idioma quando necessário. Não sei…
Tudo tem seu tempo!
O que sei é que foi uma experiência muito interessante, que nos exigiu paciência e compreensão, e que nos ensinou que tudo tem seu tempo. Cada pessoa tem um tempo para se adaptar, aprender e assimilar novas coisas e realidades em suas vidas. Inclusive as crianças, mesmo com toda a facilidade que eles têm de aprender e se adaptar. E, hoje, ela fala linda e perfeitamente os dois idiomas e (ainda) não tem sotaque em nenhum deles. É lindo de ouvir!
Sabemos também que o biliguismo na vida dela e do Benjamin é um tesouro que não tem preço. É a melhor de todas as experiências e heranças que eles poderiam ter nessa aventura de viver mundo afora.
Benjamin
Por fim, e bem resumidamente, o processo de aquisição do idioma pelo Benjamin foi bem diferente e bem mais “simples”, se é que é possível falar assim. Como ele chegou na Colômbia com 11 meses, aprendeu a falar aqui. Então, de certa forma, ele adquiriu ou aprendeu os dois idiomas ao mesmo tempo: o português, falado em casa, com a família e no Brasil, e o espanhol, falado em todos os demais ambientes do nosso dia a dia em Bogotá. Não foi necessário qualquer processo de adaptação ao segundo idioma. Acredito que essa simultaneidade torna tudo muito mais natural. Ele fala os dois idiomas muito bem também, e (ainda) sem sotaque, e ambos com a mesma naturalidade, sabendo com quem falar um ou outro, dependendo do lugar e das pessoas.
Isso também acontece com Beatriz de forma muito natural, mas o processo foi diferente, como contei. O interessante em observar as duas situações é constatar que a idade, principalmente, acaba determinando, ou melhor, interferindo muito diretamente na forma como irão adquirir ou se adaptar ao novo idioma. Mesmo assim, não acredito que isso deva ser um empecilho. É apenas algo que deve levado em consideração em uma mudança desse tipo. Eu continuo acreditando que a infância é a melhor fase para se aprender. Falo um pouco sobre isso também neste texto aqui.
Português e espanhol caminhando lado a lado
Como mãe, eu vibro ao vê-los transitarem e falarem com tanta naturalidade e fluência os dois idiomas. É uma experiência incrível! Também espero o dia em que o espanhol, se seguirmos vivendo neste ambiente, vai predominar em relação ao português. Aí então o esforço em cultivar as nossas origens será um pouco maior. Por enquanto, até que está tranquilo manter nossa língua mãe bem viva neles, até porque mesmo longe temos muito contato com nossas famílias no Brasil. Sempre vamos para lá nas férias, e isso é um ótimo combustível. Os avós também vêm nos visitar e temos muitos amigos brasileiros aqui. Tudo isso ajuda muito.
Para você que está vivendo algum processo parecido, mais simples ou mais complicado do que o que vivemos, espero que a mina experiência tenha ajudado a acalmar o seu coração. E, se puder te dar um conselho, tenha paciência e procure promover um ambiente que lhes proporcione a maior segurança possível, em que eles tenham certeza de que são muito amados, pelo menos dentro de casa. Com certeza, essa será a maior arma para que eles enfrentem esses e outros desafios no mundo lá fora. Até a próxima!!