Sou Patricia, mãe e professora de PLH (português como língua de herança) e PLE (português como língua estrangeira), na Finlândia. Comecei minha vida docente no curso de formação de professores do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC), em Niterói (RJ), no início dos anos 1990.
Depois de me especializar em educação infantil na mesma instituição, atuei como professora primária em escolas municipais por quase dez anos.
Dei continuidade aos meus estudos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde cursei Letras, com habilitação para ensinar Português e Literaturas Brasileira e Portuguesa.
Segui minha vida acadêmica até obter o grau de Mestre em Linguística, título que me deu a oportunidade de atuar como professora substituta em uma universidade pública (UERJ) e outra privada (UNIPLI) antes de me mudar para a Finlândia.
Desde 2007, faço parte do time de professoras do Centro Cultural Brasil-Finlândia (CCBF) e tenho atuado no ensino de Português como Língua de Herança (PLH) e Português como Língua Estrangeira (PLE), além de colaborar com a Universidade de Helsinque nas disciplinas referentes ao Português Brasileiro.
Desde 2009 sou a professora responsável pela Oficina de Português para crianças oferecida pelo CCBF. Atualmente, nosso projeto atende a mais de 25 crianças, com idades entre 0 e 11 anos, divididas em dois grupos.
Em paralelo a este trabalho no CCBF, já trabalhei também para a prefeitura de Espoo, dando aulas de português para as crianças da rede municipal, em 2016 e, atualmente, trabalho para uma escola privada alemã.
Meus objetivos com a coluna no BPM Kids
Pretendo dividir minha experiência como mãe brasileira vivendo no exterior e, ao mesmo tempo, professora de PLH vivendo na Finlândia, um país tão distante geograficamente, culturalmente e linguisticamente do Brasil.
Quero tratar de temas mais específicos, tais como: identidade brasileira, herança cultural, benefícios da manutenção das línguas de herança, bem como temas mais práticos, como atividades e sugestões para manter o PLH.
A busca por uma identidade brasileira
Fiquei de frente com esse desafio logo na minha primeira experiência como professora de língua portuguesa para crianças aqui na Finlândia: despertar nas crianças uma identidade brasileira.
Pode não parecer um desafio, visto que as crianças têm, em geral, ao menos um dos pais de origem brasileira, mas o fato é que logo na primeira aula perguntei quem da família era brasileiro/a e, como as crianças só falavam dos pais, perguntei diretamente se elas também eram brasileiras. Para minha surpresa, algumas crianças disseram que não.
Passei a fazer essa mesma pergunta para as turmas posteriores e percebi que várias crianças tinham dificuldade em assumir uma identidade múltipla, meio brasileira, meio finlandesa, ou sueca, ou mexicana, enfim, de ser uma criança diferente, numa sociedade ainda em processo na sua constituição como um grupo miscigenado e multicultural.
Apesar dos laços históricos com outros países, como a Suécia e a Rússia, a migração de outros povos para a Finlândia é um fenômeno recente. Ainda há bairros, regiões e cidades onde é difícil encontrar estrangeiros, embora existam bairros específicos, principalmente nas grandes cidades finlandesas, nos quais podemos ter a impressão de que não estamos na Finlândia, tamanha a diversidade étnica das pessoas ao redor.
Contudo, independente dessas peculiaridades da sociedade finlandesa, e antes mesmo de sequer conhecer o termo Português como Língua de Herança (PLH), percebi que para querer falar uma língua, uma pessoa precisa se identificar com ela, gostar dela e sentir que essa língua faz parte de sua personalidade. Mas como criar esse elo se várias crianças apenas visitaram o Brasil umas poucas vezes e outras crianças jamais pisaram na nossa terra?
Eu comecei por apresentar o Brasil às crianças, utilizando todo o material disponível na internet para criar aulas temáticas sobre animais, plantas, ritmos musicais, danças, comidas típicas etc. Motivei os pais a participarem dos encontros, mostrando seus conhecimentos sobre o Brasil e contando sobre suas vivências e memórias brasileiras.
O professor de português tem um papel muito importante nesse resgate identitário, cultural e linguístico, porém, na ausência de um profissional, os próprios pais podem e devem se unir para encarar essa jornada de descobertas e aprendizados. Sem dúvida, esse é um caminho que exige muita dedicação, mas que certamente trará muitos benefícios para as crianças. Um tema, aliás que merece uma outra coluna.
Quer começar agora? Leia o passo-a-passo de Como manter e desenvolver o PLH aqui e vamos juntos!
5 Comentários
Muito bacana seu trabalho Patricia! Parabéns!!! Com certeza um aprendizado para aplicar em outra países. Muito importante compartilhar a nossa cultura com esses baixinhos multi-culturais que estamos criando! Quem sabe aplicamos tb aqui na Bélgica! Abraços!
Obrigada, Carolina! Espero que vocês consigam montar uma boa rede de brasileirinhos aí na Bélgica também! Abs
[…] Leia também sobra identidade brasileira e o PLH na Finlândia […]
Patrícia tudo bem, você poderia me ajudar? Meu irmão está louco p ir para a Finlândia terminar o seguro do grau, e para tentarmos o visto e preciso que entremos primeiro em contato com alguma escola ai da Finlândia, e estamos meio perdidos, você poderia indicar uma cidade não precisa ser tão grande, ou um site de escola que acolha imigrantes, ele tem 16 anos! Obrigada
Olá, Ludmila!
Eu não conheço escolas aqui com esse perfil, mas sei de algumas universidades que oferecem cursos em inglês que podem ser feitos por estrangeiros também.
Dá uma pesquisada nos links abaixo:
http://www.aalto.fi/en/studies/education/exchange_studies/
https://www.helsinki.fi/en/studying/how-to-apply/exchange-studies
http://www.haaga-helia.fi/en/international?userLang=en
https://www.laurea.fi/en
E tem também essa empresa que ajuda estudantes estrangeiros:
http://www.studyinfinland.fi/what_to_study
Abraços,
Patricia