Então é POLH ou PLH?
Eu sou professora e me orgulho muito de ser “só uma professora”, sem nenhum título. Nem mestre, nem doutora, apenas professora mesmo, por pura opção!
Para ser professora, antigamente, nós tínhamos que estudar 4 anos de magistério – naquela época chamava-se Escola Normal – o que nos habilitava a lecionar para os anos iniciais da escola primária (sou do tempo do 1º ano, 2º ano que depois viraram 1ª série, 2ª série, e que agora voltou a ser 1º ano e tal). Se a professora primária quisesse continuar seus estudos e se aprofundar nas ciências da educação, ingressava, então, na faculdade de pedagogia. A partir daí, a formação de “especialista da educação” tinha 4 habilitações que poderiam ser escolhidas e cursadas todas em conjunto ou separadamente. O curso oferecia as habilitações: Magistério, Administração Escolar (para diretores), Supervisão Escolar (para trabalhar no MEC ou secretarias estaduais de educação era preciso) e Orientação Educacional. Eu me formei em Pedagogia com habilitações em Magistério e Orientação Educacional, e portanto, fui habilitada a lecionar para turmas de magistério e trabalhar como orientadora educacional em todas as séries/anos da escola obrigatória. Esta é a minha formação! Se for para conversarmos sobre metodologias e didática, filosofia da educação, história da educação, psicologia da educação ou qualquer outra área que envolva a educação de uma forma geral eu tenho conhecimento suficiente para debater ideias, opiniões e até dar algumas sugestões. Mas se o assunto for o ensino de línguas, eu não sou a melhor pessoa para discutir o assunto!
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Mas por que falar da minha formação? Porque quero falar de um assunto um tanto polêmico (risos). A forma como a nomeclatura (ou rótulo como li em um artigo) do ensino do português como língua de herança é conhecida, difere na escrita. Para alguns é PLH, para outros é LPH, para outros ainda é POLH. Mas por que tantas formas de falar a mesma coisa? E é mesmo, a mesma coisa? Eu prefiro usar sempre o POLH como vocês já perceberam nos textos anteriores, e vou tentar explicar porque NA MINHA OPINIÃO, usar a palavra POLH faz mais sentido para o que eu vivencio na minha prática.
O estudo e pesquisa sobre a língua portuguesa como objeto, sempre foi da alçada do curso de Letras. Lá, os estudantes aprendem os fundamentos e a construção histórica da língua, tendo como uma das principais disciplinas a linguística, onde aspectos essenciais da linguagem verbal, sua diversidade, funções, origens, preconceitos linguísticos e sua relação com a sociedade são amplamente discutidos e estudados de forma aprofundada. Uma pessoa formada em Letras é capaz de discutir, debater, dar sugestões sobre os aspectos do ensino da Língua Portuguesa enquanto objeto, ou seja, a disciplina “Língua Portuguesa”.
É na academia – ou seja no meio acadêmico onde estão os doutores e mestres – que se pesquisa e se discute sobre esse fenômeno um tanto recente do ensino da língua de herança. Os pesquisadores são, em grande maioria, da área das Letras, portanto olham para a língua enquanto objeto de estudo. Eles obviamente se preocupam em observar o ambiente, os alunos, os motivos, mas o foco é a língua. Assim, não só o ensino da língua de herança é estudado e discutido, mas também o ensino da língua materna, da língua segunda, da língua não materna, língua estrangeira e tudo isso vira uma sopa de letrinhas: PLH, PLNM, PLM, PLS, PLE … ui, dá até nervoso ler alguns artigos (risos). Todas essas siglas têm que ser lidas como siglas: P.L.H, P.L.N.M. e assim por diante, mas nada que o brasileiro não esteja acostumado, não é? Sempre fomos rodeados por siglas (INSS, FGTS, IPTU, IPVA, risos).
Quando cheguei a Londres e encontrei a ABRIR, fui apresentada ao POLH e as escolinhas ou iniciativas de Londres. Eu nunca tinha ouvido falar em língua de herança! Acho que já contei aqui como me senti perdida ao iniciar minha jornada como professora de POLH, eu não conseguia entender o que ensinar, nem como ensinar, só conseguia perceber através da minha observação e conversas com os pais o PORQUÊ ensinar português – o que de certa forma foi um alívio para mim, que não sou professora de português, ou seja, não sou formada em Letras. Vi muita mãe se virando nos 30 para ocupar o lugar de professora, e isso naquele momento me parecia tão amador, tão longe do que eu entendia ser “educação”. Mas foi graças a essas imagens principalmente, que hoje eu tenho uma opinião formada sobre a diferença entre o PLH e o POLH. Um é estudo e outro é uma entidade, uma coisa, um sentimento. Claro, que isso é a MINHA OPINIÃO e não há embasamento teórico nisso. Apenas como eu vejo e sinto.
O PLH é muito mais acadêmico, muito mais das letras, do estudo e pesquisa aprofundados do movimento de ensino de uma língua em contexto de herança. É a forma como os linguistas se acostumaram a nomear o ensino da língua: “Portugues Língua ________” ou seja P.L. qualquer outra letra depois. No meu ponto de vista a sigla PLE está ligada ao ensino da língua portuguesa com suas regras, como disciplina, aquela da escola (risos).
Já o POLH é, para mim, uma espécie de entidade com alma, com corpo. Não é algo apenas pensado ao nível de língua, pelo contrário, usa a língua apenas como meio de levar outros conhecimentos, outras vivências, outras experiências. A própria nomeclatura é um substantivo próprio. POLH (falamos /Pôu/, como o nome masculino em inglês Paul), cheio de personalidade!
O POLH é quase um sentimento. Ele se utiliza da matemática, da história, da geografia, da física, da química, da língua portuguesa e até da educação física, para oferecer vivência de um país e sua cultura, porque para o POLH, o mais importante é o indivíduo se sentir parte daquela vida. Por isso mesmo, aquelas mães que se viravam, conseguiam de alguma forma tocar as “aulas”, porque lá nos primórdios do POLH, não era preciso se ter noção de educação, tão pouco do ensino de língua. O importante mesmo era saber cantar as músicas, brincar as brincadeiras… Não estou dizendo que o POLH não tem a preocupação em ensinar a ler e escrever em português. Claro que temos a responsabilidade de ensinar as crianças a falar melhor, a escrever melhor, a ler fluentemente e temos plena consciência do nosso trabalho enquanto educadores, só auxiliamos as nossas crianças a gostar de se sentirem brasileiras e por causa disso, gostarem de falar português, escrever para os avós em português e descobrirem as aventuras da Monica e do Cebolinha em português. O segundo é consequência do primeiro.
O perfil dos professores de POLH mudou! Hoje são poucas as mães sem formação a frente da sala de aula, quase todas as escolinhas exigem que seus professores sejam da área de educação ou letras e acho que o POLH que eu vejo e sinto tem se tornado cada vez mais PLH.
Ainda que tudo isso esteja claro ou só faça sentido apenas dentro da minha cabeça, é assim que sinto o meu trabalho e não consigo me referir ao ensino de português como língua de herança como PLH. Vou continuar usando POLH para o que eu faço, e talvez um dia, essas nomeclaturas todas se tornem uma só, porque, para responder a pergunta que eu mesma fiz lá em cima, SIM, POLH e PLH são a mesma coisa, pelo menos na teoria acadêmica. Ainda bem que sou apenas uma professora.
Até o próximo texto, pessoal!
Beijinhos.
3 Comentários
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Oi Rita!! Adorei o seu texto…leve, solto e bem escrito rsrs
Achei fantástica a sua definição para o Português como Língua de Herança…sim concordo com você…/Pôu/ é bem mais cheio de personalidade. Sou da academia kkk e pesquiso sobre PLH ^.^
mas também fui uma mãe que morou fora do país com filho pequeno e gostei imensamente dessa parte: “Não estou dizendo que o POLH não tem a preocupação em ensinar a ler e escrever em português. Claro que temos a responsabilidade de ensinar as crianças a falar melhor, a escrever melhor, a ler fluentemente e temos plena consciência do nosso trabalho enquanto educadores, só auxiliamos as nossas crianças a gostar de se sentirem brasileiras e por causa disso, gostarem de falar português, escrever para os avós em português e descobrirem as aventuras da Monica e do Cebolinha em português.” Agora sou POLH convicta!!! PArabéns pelo texto.
Muito obrigada pela leitura e parabéns pelo seu cmainho co o POLH!!!!