Ensinar a falar, ler e escrever – o trabalho das escolinhas de POLH – Parte II.
No mês passado, escrevi sobre aulas na escolinha onde lecionava em Londres, se ainda não leu, leia aqui. Lá no texto passado enfatizei que só você é capaz de dar o valor correto que a Língua Poruguesa tem para a sua casa, mas também mostrei que o trabalho nas escolinhas é um trabalho de imenso valor, que auxilia a família na aqusição e desenvolvimento da língua de herança nas suas crianças.
Este mês, pretendo mostrar à vocês, quão ricas e diversificadas são as atividades propostas pelas escolinhas.
Quem é professor sabe, nossas aulas começam muito antes de entrarmos em sala de aula. O nosso planejamento é cuidadosamente pensado, discutido com a coordenação, preparado nos mínimos detalhes para quando, finalmente dentro da sala de aula, tudo que foi colocado como objetivo seja realmente alcançado. E assim, vamos criando aulas cada vez mais animadas, mais lúdicas e sempre muito instrutivas. Na Associação Raízes, onde trabalho como professora, é assim que trabalhamos. Estamos sempre em busca de novidades para estimular o aprendizado da leitura, da escrita e da oralidade dos nossos alunos, desde os mais novinhos até os temíveis e adoráveis (pré)adolescentes.
Cada vez que sento para planejar uma aula, antes de tudo eu defino o que quero ensinar: meus alunos estão com deficiência nos verbos com conjugação no passado, por exemplo, então, tenho que trabalhar mais essa parte da gramática. Mas como seria chato uma aula de verbos, não é mesmo? Quem de nós não lembra com muita tristeza das enormes e intermináveis tabelas de conjugação verbal (sou velhinha, então talvez só eu me lembre disso!).
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Então, antes de tudo, eu vou buscar uma forma de trabalhar isso sem que seja muito chato para eles. Música, textos, jogos…. são tantos os recursos. Um livro e já está… vamos falar de memórias! Um livro maravilhoso para este trabalho é o “Do outro lado do oceano” de Pauline Alphen e que conta a lembrança de uma viagem ao Rio de Janeiro, feita pela autora com 11 anos de idade, quando voltou ao Brasil pela primeira vez. Todo o texto é narrado em primeira pessoa e no passado. Lá está um ótimo projeto em andamento e algumas aulas a trabalhar o que eles realmente precisam melhorar.
A foto de capa deste artigo é o resultado de um trabalho da Associação Raízes. O trabalho entitulado “O ovo misterioso” desenvolve várias competências, além da que está explícita na foto – a escrita. Durante todo o projeto, várias fases vão ajudando o aluno a ouvir e interpretar o texto falado (contação de história), a falar, a ler, a escrever e a corrigir seu próprio texto, além da brincadeira do “que animal eu sou?” que é uma espécie de o que é o que é. Há todo um contexto e estímulo à criatividade para chegar ao ovo misterioso e sua apresentação para a turma. Tudo em língua portuguesa! Estamos, portanto, ensinando português.
Para uma turma chegar a encenação de uma peça teatral, a professora trabalha várias competências: os alunos precisam ler o texto, entendê-lo enquanto história e também enquanto gênero textual (tem toda uma forma especial de ser escrito), discuti-lo com a turma, escolher personagens que melhor se adaptem às suas personalidades, ensaiar, criar figurinos, cenários, tudo isso baseado em interpretação do texto. Assim, eles vão se divertindo enquanto vão falando as falas de personagens, usando a criatividade para falar o texto esquecido e vão assim se apropriando de vocabulário diferenciado.
O trabalho de encenação é maravilhoso, mas é preciso respeitar aqueles alunos que não se sentem a vontade para encenar. Estes podem servir de assistentes de palco e acompanhar as falas pelo texto impresso, e em caso de necessidade, podem soprar a fala esquecida. São envergonhados para estar à frente, mas são ótimos ajudantes.
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Há muito a aprender durante o estudo de uma peça a ser encenada. Dependendo do texto escolhido, é possível ensinar muitas coisas durante o processo de montagem da peça. Por exemplo, em Os Saltimbancos, encenado pelos alunos da Hora do Conto de Dubai, há sempre a possibilidade de criarem uma enciclopédia (ou infopédia), fazendo pesquisas sobre animais, mamíferos, domésticos e também sobre campo e cidade, criar novas personagens, novas músicas. No trabalho com o texto da Maria Clara Machado – Pluft, o fantasminha -, encenado pelos alunos da Míriam da ABEC de Zurique, as receitas de pastéis de vento (e do que mais quisessem inventar), o mapa do tesouro (texto não-verbal) e o trabalho sobre medos podem enriquecer muito o aprendizado que ultrapassa as linhas a serem decoradas pelos alunos.
A leitura encenada da Mala de Leitura de Munique traz a criança para dentro da história, literalmente. Enquanto leem, vão interpretando através da encenação o que vão ouvindo. Viram personagens que acabam de conhecer e se apropriam da fantasia como forma de comunicação com os outros que estão ouvindo a história. Uma ideia e tanto…
Mas não só a encenação é cheia de possibilidades pedagógicas. Um projeto pode nascer da leitura de um livro. O Menino Poti é um projeto rico, cheio de novidades e aprendizados para os nossos alunos da Associação Raízes. Durante o projeto eles conversam sobre animais, frutas, cores, números, discutem sobre amizade, criam novos personagens, reescrevem a história, editam um novo livro com estes novos personagens. Desenvolvem todas as competências que os pais tanto querem ver: falam, leem, escrevem.
Tudo isso em língua portuguesa. Tudo isso cantando, brincando, mas com uma lista de objetivos que a professora cuidadosamente planejou, item por item, com a intenção de alcançar a todos na sua sala de aula. Do mais tímido ao mais agitado, do mais falante ao com maiores dificuldades. O objetivo maior e principal é sempre a progressão de cada aluno.
Lá na Itália, o Projeto Pirulito está no início de suas atividades com aulinhas, mas pelo o que podemos ver pela foto, vão em bom caminho. Muitos livros, boas leituras sempre viram ótimos projetos e grandes oportunidades de aprendizado. O Projeto Pirulito faz leituras bilíngues e também só para membros da comunidade lusófona (brasileirinhos e portuguesinhos) na biblioteca de Valdobbiande.

RAIZES – Projeto Menino Poti.
Eu gostaria muito de ter espaço suficiente para trazer fotos de todos os trabalhos de todas as escolinhas que conheço – e das que não conheço também. Vou tentar incluir sempre fotos de trabalhos para que vocês, mamães de brasileirinhos pelo mundo, possam conhecer o nosso trabalho, que é feito com amor, dedicação e principalmente muito profissionalismo. Não somos recreadoras! Somos professoras comprometidas com o ensino da língua portuguesa de forma natural. Como sempre digo, só você pode dar o valor à sua língua. Seu filho perceberá isso, sentirá este valor. Mas as escolinhas vão te ajudar a transformar essa linda herança em algo maior. Juntos, família e escola, somos fortes!
Beijinhos e até o próximo texto!
* Todas as fotografias incluídas neste texto foram autorizadas.
1 Comentário
[…] Não sou expert no assunto, mas aqui no “Mães Mundo Afora” temos textos ótimos sobre POLH! Se esse é um tema que lhe interessa, sugiro começar por esses dois: Ensinando o seu filho a escrever em português e Ensinar a falar, ler e escrever – o trabalho das escolinhas de POLH […]