Como aproveitar ao máximo a escolinha de Português
Sou professora de ciências em uma escola primária aqui de Londres, mas antes de me inserir no sistema britânico comecei a aprender e a ensinar sobre o universo do POLH (Português como Língua de Herança). Já se vão alguns anos desde que comecei a dar aulas de português para filhos de brasileiros. Essa atividade conquistou o meu coração. Tanto pelas pessoas, pelas famílias e crianças que conhecemos, como pelo processo de aprendizado, que vai para além da aquisição da língua e apoia um lindo desabrochar de identidade dos alunos.
Como hoje trabalho para uma escola bem estruturada no noroeste de Londres, o Clube dos Brasileirinhos, a escola teve o privilégio de me apontar como coordenadora pedagógica. Claro que aqui digo que a escola tem um privilégio de ter uma coordenadora pedagógica, e não necessariamente que seja eu! (risos) Chamo de privilégio visto que a maioria das iniciativas de ensino de POLH são pequenas e convivem com as duras realidades de gerir os custos e compromissos de suas atividades.
Com base na experiência que coletei ao longo desses anos dando aula, e agora coordenando as atividades educativas de uma escolinha de POLH, gostaria de compartilhar e, ao mesmo tempo recomendar, algumas ações para garantir um aproveitamento máximo dessas preciosas aulas.
Clubes como este funcionam em geral apenas uma vez por semana, por algumas horas e por isso é muito importante que as escolinhas sejam vistas como oportunidades para socializar, aprender e desenvolver a língua portuguesa em contexto, mas não deve nunca ser vista como a única responsável pelo seu desenvolvimento. Você pode encontrar uma lista de várias iniciativas de ensino de POLH aqui.
Fale Português
Eu sei que essa é a dica mais batida de todos os artigos já escritos sobre POLH. Na verdade não é possível enfatizar o suficiente a sua importância. Uma vez que os alunos entram em idade escolar é muito difícil competir com a quantidade de horas e materiais aos quais os alunos são expostos na língua inglesa. Diante disso, reforço a importância de se adotar uma língua com a criança. Eles entendem que os pais muitas vezes falam outras línguas, mas através dessa atitude, a criança percebe que essa é a opção de língua com você.
Além disso, é muito confuso chegar na escola de português, na hora reservada para o português e deixar escapar o usos do inglês. Para aproveitar melhor esse momento, inicie o dia falando português. Isso ajuda a virar a “chavinha mágica”, e aquece o cérebro para já chegar na aula aquecido e pronto para aprender! O mesmo vale para depois das aulas. Afinal, se os alunos acabaram de ter tantas experiências na língua portuguesa, nada mais justo do que deixar que elas contem o que fizeram em português!
Faça as lições de casa
Lição de casa não é punição. Observo que o volume de lição de casa que muitas escolas aqui da Inglaterra mandam parecem verdadeiros castigos, mas a lição de casa de português tem outro propósito. Visto que a carga de inglês é altíssima durante a semana de qualquer criança que frequenta a escola por aqui, a lição preparada pela escolinha é um bônus! Isso mesmo, um prêmio. É uma oportunidade de separar mais alguns minutos da semana para sentar-se e conversar, discutir, decifrar e interagir em português. Assim, existe mais do que as 2 horas de aula aos sábados, mas também aquela horinha extra durante a semana.
Leia
Muitas escolinha tem acervo de livros brasileiros para empréstimo. Desde que iniciei o projeto de leitura no Clube dos Brasileirinhos, a escola passou a investir na aquisição anual de novos títulos. Destina inclusive parte da renda de eventos, como a festa junina, para essa finalidade. Para escolinhas que não tem essa estrutura, é sempre bom consultar os outros pais. Todos sempre tem um livrinho ou outro em português e pode-se organizar um programa de trocas de livros, que também pode ser bastante interessante.
O importante é que se leia em português. O hábito é estimulado em nossa escola oferecendo um livro diferente por semana. Ele é como uma lição de casa, é um prêmio, uma oportunidade extra de ter mais alguns minutinhos na semana dedicados ao aprendizado da língua. É um jeito muito gostoso de criar um vínculo afetivo com o português, pois as leituras geralmente são feitas em conjunto com os pais. Tenho uma listinha preferida para quem deseja iniciar o hábito de leitura que você confere aqui.
Converse com os professores
Os professores das escolinhas preparam uma série de documentos para poder desenvolver o POLH da maneira mais eficiente e prazerosa possível. São feitos planejamentos anuais, trimestrais e de aula a aula. Existe muito esforço e dedicação por parte de uma equipe para desenvolver a melhor experiência para os alunos que atendem.
Lembrando que cada escola tem um grupo de crianças diferentes, com realidades totalmente diferentes e por isso não existe (ainda) um currículo ou um livro ou apostila que possa ser seguido. Assim, há todo um trabalho pedagógico por trás daquelas duas horinhas de aula que devem ser não apenas valorizados, mas também compreendidos e utilizados.
Se for entregue um projeto anual, mensal, ou de férias, tome o cuidado de ler atentamente as informações oferecidas. Elas são elaboradas com muito esforço. Tire suas dúvidas, discuta estratégias para desenvolver a lição de casa, se envolva e faça perguntas.
Participe dos eventos
A maioria dos projetos de POLH que conheci organizam eventos. No caso do Clube dos Brasileirinhos são sempre oferecidas uma Festa de Encerramento no final do primeiro termo e uma homérica Festa Junina no verão. No ano passado foi introduzida a Festa de Carnaval no segundo termo, que agora integra o calendário como mais uma forma de socialização. Os eventos, além de excelentes oportunidades de conhecer outras famílias, estreitar laços e construir uma comunidade, também são fruto de trabalho (muito trabalho) extra das equipes envolvidas. Sempre é bom verificar se não é possível participar da organização desses eventos. Eles são uma ótima fonte de contexto cultural para os alunos e necessitam da contribuição e participação de todos.
Deixe a criança falar
Sotaques e palavras inventadas não importam (leia sobre sotaque aqui). Nunca quebre o ritmo de uma fala na língua portuguesa. Quando o aluno pausa e procura uma palavra, não ofereça imediatamente a resposta. No lugar, peça para que ele explique com as palavras que conhece o que ele quer dizer. Dê tempo. Quando falamos em outra língua, falamos naturalmente mais devagar, principalmente quando ainda estamos aprendendo. Tenha paciência e demonstre que não tem problema nenhum nisso. Encoraje a resiliência, estimule e ajude a terminarem suas falas em português.
Pague a mensalidade
Por fim, espero que essa dica não aborreça ninguém, mas é das dicas mais realistas que posso dar. As iniciativas de POLH não contam com nenhum apoio financeiro do governo ou de outra instituição. A renda desses projetos depende única e exclusivamente das contribuições dos pais na forma de mensalidades ou matrículas.
Quando um pai esquece de fazer um pagamento, a escola pode se prejudicar para pagar o aluguel de uma sala, a aquisição de material ou até mesmo o trabalho do professor. Se não há comprometimento das famílias envolvidas no projeto é sempre muito difícil manter as salas com números suficientes ou máximos de alunos. Às vezes é preciso fechar salas por causa desse tipo de falta de organização, então nunca deixe ser a sala do seu filho!
Prontos para a próxima aula?
1 Comentário
Olá!
Vc conhece em Birmingham uma escolinha ou professores de português?
Acabamos de chegar aqui. Minha mais velha já foi alfabetizada no Brasil (7 anos), mas caçula de 4 anos vai ser alfabetizada em inglês mas eu gostaria que ela tb aprendesse português.
Vcs recomendam que essa alfabetização seja simultânea? Ou melhor é um de cada vez?