Como eu já havia escrito no texto da minha apresentação aqui no time Mães Mundo Afora (sou colunista aqui e tenho a honra de fazer parte desta plataforma colaborativa que nos informa, acalenta e incentiva), eu me chamo Aline Sanseverino (no instagram @sanseverino.aline) e sou filha de uma pedagoga. Devido a isso fui criada rodeada por livros. Sempre estudei na escola onde minha mãe era a professora.
Uma história com livros que começa na infância
É difícil, para mim, me lembrar de algum momento em que eu não estava no contexto escolar. E assim fui crescendo, tendo o pátio da escola como o quintal da minha casa. Confesso que quando cheguei à fase de decidir por uma formação profissional, lutei contra os incentivos da família que queriam que eu fosse professora. Mas o que fazer quando existe um amor genuíno dentro de nós? Algo que nos impulsiona, mas ainda não sabemos direito o que é?
Pensei então em ser professora de línguas. E assim foi. Decidi em me formar em Letras e trabalhar com jovens e adultos. Sempre gostei de escrever, acho que me expresso melhor quando escrevo e junto ao meu contexto de vida e aquilo que mais gosto de fazer, decidi por cursar Letras.
A trajetória profissional
Mas foi em um dia que pelos corredores da UFRJ, lá no Rio de Janeiro, eu li um anúncio, onde havia uma chamada que convidava alunos que se interessassem em participar por um processo seletivo, para dar aulas como alfabetizadores na Educação de Jovens e Adultos em comunidades do Rio de Janeiro.
Eu li e saí de lá pensando em tentar. Fiquei curiosa e como seria alfabetizar adultos? Era essa a minha pergunta. Eu que pensava em dar aula só para os adultos, estava ótimo! E decidi fazer a inscrição. Na entrevista me perguntaram qual era o motivo para eu estar ali e qual era a minha experiência. E diante disso, gelei. Perguntei-me, junto a entrevistadora, qual era o motivo de estar ali. E meu coração me respondeu: “conte a sua história”.
Eu contei que a minha vida sempre se passou nos pátios da escola e eu já não sabia mais o que era minha casa e o que era escola. Contei que a minha relação com a educação sempre foi de amor, pois ali era o meu lar. O tempo passou e o resultado saiu. Não acreditei quando vi o resultado e meu nome estava entre os primeiros lugares.
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E foi assim que, de fato, tudo começou na minha trajetória profissional. Encantei-me com aqueles jovens e adultos que tinham como único objetivo na vida, ler e escrever. Todos vinham cansados de seus trabalhos, pois estudavam à noite e não faltavam um dia sequer, pois queriam saber pegar o ônibus certo, poder ir ao supermercado sem ter que perguntar o que estava escrito no rótulo e muito mais.
Ali a minha vida como ser humano e professora começou a ter forma e peso e encontrei a minha vocação. E com o passar do tempo, íamos evoluindo como turma, eles já não vinham mais sozinhos. Uma senhora trazia o neto que era adolescente e precisava de ajuda nos deveres de casa. Um pai me dizia que seu filho de seis anos não entendia muita coisa na escola e através destes relatos, eu entendia que com mais esforço, eu poderia fazer muito mais para ajudar a mudar aquela realidade.
Como surgiu o Alfabeto Encantado
O tempo passou e eu entendi onde era o meu lugar. A vida mudou totalmente e cheguei aqui em terras geladas. Vi-me com dois bebês que além de dependerem de mim em quase tudo, não iriam falar português se eu nada fizesse. Então começaram os trabalhos! Mãos a obra! Alice precisa de mais estímulos, pois já tem dois aninhos e Gabriel com nove meses pode ir mais devagar. Eu aproveitava todos os brinquedinhos que tínhamos para ensinar as letrinhas, ensinar a contar, ensinar as formas e por aí vai.
Alice então entra no jardim de infância, desiste de falar português e eu começo a “bolar” formas atrativas para ela voltar a ter o interesse. O irmãozinho já balbuciava algumas coisas, papai, mamãe e a família no Brasil queria interagir com ela em português, mas Alice estava no momento dela. Foi então que aos poucos, junto com as atividades dadas no jardim de infância, eu percebi que poderia inserir a língua portuguesa, de forma natural.
Ela começou a se interessar novamente e Gabriel veio atrás com toda energia disponível. E no meio dessas tardes criamos nosso cantinho de estudos e só então me dei conta que essa batalha não podia ser só minha. Dei-me conta que eu não era a única mãe brasileira na Europa que estava lutando para manter a língua portuguesa nos filhos. Com isso, comecei a rascunhar em meus pensamentos como eu poderia dialogar com outras mães que estariam passando pela mesma situação que eu e pudessem estar, além de se sentirem sozinhas, sem ideias ou mesmo sem saber por onde começar. Afinal de contas, sou mãe, mas sou também professora.
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E no meio desse diálogo interno, eu encontrava algumas mães na cidade e conversava sobre o desejo de expandir “para além-mar” essas atividades com as crianças para que todas fossem beneficiadas. E aos poucos, através da minha experiência fui delineando o Alfabeto Encantado.
Temos como principal objetivo promover a língua portuguesa como herança aqui na cidade onde moro e nas redes sociais, além de divulgar nossas atividades, poder instrumentalizar pais e mães que queriam começar a semear em seus filhos o interesse pelo idioma de herança e não possuem perto de si uma comunidade brasileira ativa. Para que isso seja possível, disponibilizamos também a Consultoria online e material didático personalizado adequado para este tipo de atividade a distância.
O trabalho da família é fundamental e aliá-lo as atividades das iniciativas de língua portuguesa é maravilhoso. Torna essa caminhada muito mais prazerosa e concreta para a família e para a criança. Com isso, o Alfabeto Encantado nasce como mais um filho que chega em minha família, com a esperança de conscientizar os pais a importância do português na vida de seus filhos e promover o mesmo para que tenhamos mais e mais brasileirinhos no exterior proficientes no idioma de herança.
Para conhecer mais sobre o projeto Alfabeto Encantado, confira a página no facebook (alfabetoencantado.de) e também o perfil no instagram para dicas pedagógicas, consultoria online e eventos (@alfabetoencantado.de).
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